Uma página apenas – Orson Peter Carrara
A
Natureza é a grande mestra. Só ela contém a verdade, e todo aquele que saiba
vê-la, com olhar filosófico, desvendar-lhe-á os secretos tesouros ocultos aos
ignorantes. As leis que regem a evolução proteiforme da matéria física ou
vivente atestam que nada aparece súbita e perfeitamente acabado.
O
sistema solar, o nosso planeta, os vegetais, os animais, a linguagem, as artes,
as ciências, longe de traduzirem rebentos espontâneos, são antes o resultado de
longa e gradual ascensão, a partir das mais rudimentares formas até às
modalidades hoje conhecidas.
Lei
geral e absoluta, dela não poderia aberrar a alma humana constituir uma
exceção. Essa alma, vemo-la, passa na Terra pelas mais diversas fases, desde as
humílimas e incipientes concepções dos silvícolas, até as esplêndidas florações
do gênio nas nações civilizadas.
Deverá
nosso exame retrospectivo deter-se aí? Deveremos crer que essa alma, que
manobra no homem primitivo um organismo tão complicado, tenha podido, de
súbito, adquirir propriedades tão variadas e tão bem adaptadas às necessidades
do indivíduo?
O compacto texto acima
é do escritor francês Gabriel Dellane. Peço ao leitor ler novamente e com
bastante atenção. Ele mostra o real aspecto das sucessivas transformações que
vemos a natureza realizar, inclusive em nosso próprio corpo. É o que também
ocorre conosco como individualidades, não restrito à questão do corpo e suas
naturais transformações, mas refiro-me às transformações morais, intelectuais,
emocionais, psicológicas e do permanente aprendizado advindo das experiências
sucessivas que nos aprimoram.
Uma transformação real,
na conquista de virtudes e no aprimoramento intelectual ou na segurança
psicológica e emocional é impossível durante os poucos anos de uma única
existência, por mais longa que seja.
Carregamos conosco
ainda, como seres humanos, traumas e carências, manias e imperfeições morais
que são as causadoras das perturbações individuais e seus lamentáveis
desdobramentos e do caos social que mostra violência, corrupção e insegurança.
Considerando a
sabedoria, bondade e perfeição do Criador, nossa condição de seres imortais e a
necessidade real de continuarmos aprendendo, não é mais lógico pensar numa
continuidade natural das experiências de aprendizado?
Como disse o autor
francês, como adquirir de súbito virtudes e conhecimentos que não integram
nossa personalidade? A própria lógica e o bom senso indicam que é na
continuidade do tempo que isso se fará. Como o tempo é infinito, ele trará
essas oportunidades em épocas que naturalmente se renovarão. É só raciocinar
mais um pouco. Se a própria dinâmica de vida e seus acontecimentos já é assim,
nas transformações gradativas, porque seria diferente com as individualidades?
É preciso dar tempo ao
tempo...
E pela mesma razão
começamos a compreender causas e consequências, causa e efeito de tantas
situações, encontros, reencontros, desajustes e impedimentos de toda ordem que
ora se apresentam e que outra não é a causa senão a estreita relação entre as
experiências vividas pelo mesmo ser, em épocas, lugares e situações totalmente
diferentes. Por isso também a prudência hoje para evitar arrependimento e lágrimas
nos dias que inevitavelmente virão. É muito melhor agir hoje com discernimento,
bondade e bom senso do que colher amanhã os resultados dos descuidos de hoje.
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