sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Mundo de regeneração - Richard Simonetti

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo III, Kardec fala dos vários mundos pelos quais o Espírito transita rumo à perfeição:

Mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana.

Mundos de expiação e provas, onde domina o mal.

Mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta.

Mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal.

Mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem.

E acentua Kardec sobre o nosso planeta:

A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias. Humilhante, não é mesmo, amigo leitor, estarmos a ocupar uma das posições mais modestas na sociedade dos mundos.

Piores que o nosso, apenas os mundos primitivos.

Considerando que esse estágio inferior é marcado por Espíritos ainda governados pelos instintos, só mesmo a Misericórdia Divina para nos situar em expiação e provas, já que considerável parcela da população ainda não aprendeu a exercitar a razão.

Embora me pareça que estamos mais na transição da primeira para a segunda categoria, fala-se no meio espírita que já estamos a caminho do mundo de regeneração.

Digamos que isso esteja acontecendo, mas talvez seja razoável, até para que não nos sintamos desiludidos, encarar com racionalidade esse assunto.

Se estou em São Paulo e inicio uma caminhada em direção a Salvador, desde o momento em que deixo os limites da maior cidade do Brasil estarei em transição, porém muito longe ainda da capital baiana. A viagem será longa.

Igualmente longa será a transição para mundo de regeneração, algo em torno de vários séculos ou mais, talvez.

Lembro que na virada do milênio a euforia tomou conta do movimento espírita. Estaríamos na iminência da realização da civilização cristianizada do terceiro milênio, marcando um mundo em regeneração.

Chico Xavier, indagado a respeito do assunto, respondeu com a sabedoria que o caracterizava:

– Não podemos esquecer que um milênio tem mil anos.

Dava a entender que muita água rolará no rio do tempo até que se dê a desejada realização.

E para entender por que estamos longe de uma civilização cristianizada, no caminho da regeneração, basta observar o panorama do mundo: corrupção, dissolução dos costumes, violência urbana, guerras e guerrilhas, terrorismo militante, escalada dos vícios e das paixões, a miséria e o infortúnio em que vive considerável parcela da população, sob a regência do egoísmo. Panorama desolador.

E quanto ao exercício do mal? Às vezes imagino que a população terrestre está empenhada num campeonato de maldades, tantas são as atrocidades cometidas nos terrenos individual e coletivo.

Confrontemos tudo isso com o que nos fala Santo Agostinho, um dos mentores da Codificação Espírita, em manifestação registrada no mesmo capítulo:

Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes.

A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se.

Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca.

Em todas as frontes vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.

Dá para perceber que estamos um bocadinho longe de concluir a caminhada para o mundo de regeneração.

O mais importante a ser destacado: se sob o ponto de vista físico moramos num planeta de provas e expiações, destinado a desbastar nossas imperfeições mais grosseiras, nada impede que intimamente vivamos em mundo melhor.

Jesus dizia que o Reino de Deus está dentro de nós.

Não temos condições para ter o Céu na intimidade da consciência, estágio dos habitantes dos mundos ditosos e dos celestes, em face de nossas imperfeições, mas nada nos impede de estarmos em regeneração desde agora, com o cultivo dos valores do Bem e da Verdade.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O JUIZ RETO - Néio Lucio – Chico Xavier

Ao tribunal de Eliaquim ben Jefté, juiz respeitável e sábio, compareceu o negociante Jonatan ben Caiar arrastando Zorobabel, miserável mendigo.

— Este homem — clamou o comerciante, furioso — impingiu-me um logro de vastas propor­ções! Vendeu-me um colar de pérolas falsas, por cinco peças de ouro, asseverando que valiam cinco mil. Comprei as jóias, crendo haver realizado excelente negócio, descobrindo, afinal, que o preço delas é inferior a dois ovos cozidos. Reclamei diretamente contra o mistificador, mas este vagabundo já me gastou o rico dinheiro. Exijo para ele as penas da justiça! É ladrão reles e condenável!...

O magistrado, porém, que cultuava a Justiça Suprema, recomendou que o acusado se pronunciasse por sua vez:

— Grande juiz — disse ele, timidamente —, reconheço haver transgredido os regulamentos que nos regem. Entretanto, tenho meus dois filhos estirados na cama e debalde procuro trabalho digno, pois me recusam sempre, a pretexto de minha idade e de minha pobre apresentação. Realmente, enganei o meu próximo e sou criminoso, mas prometo resgatar meu débito logo que puder.

O juiz meditou longamente e sentenciou:

— Para Zorobabel, o mendigo, cinco bastonadas entre quatro paredes, a fim de que aprenda a sofrer honestamente, sem assalto à bolsa dos semelhantes, e, para Jonatan, o mercador, vinte bastonadas, na praça pública, de modo a não mais abusar dos humildes.

O negociante protestou, revoltado:

— Que ouço? Sou vítima de um ladrão e devo pagar por faltas que não cometi? Iniqüidade! iniqüidade!...

O magistrado, todavia, bateu forte com um martelo sobre a mesa, chamando a atenção dos presentes, e esclareceu, em voz alta:

— Jonatan ben Caiar, a justiça verdadeira não reside na Terra para examinar as aparências. Zorobabel, o vagabundo, chefe de uma família infeliz, furtou-te cinco peças de ouro, no propósito de socorrer os filhos desventurados, porém, tu, por tua vez, tentaste roubar dele, valendo-te do infortúnio que o persegue, apoderando-te de um objeto que acreditaste valer cinco mil peças de ouro ao preço irrisório de cinco. Quem é mais nocivo à sociedade, perante Deus: o mísero esfomeado que rouba um pão, a fim de matar a fome dos filhos, ou o homem já atendido pela Bondade do Eterno, com os dons da fortuna e da habilidade, que absorve para si uma padaria inteira, a fim de abusar, cal­culadamente, da alheia indigência? 

— Quem furta por necessidade pode ser um louco, mas quem acumula riquezas, indefinidamente, sem movimentá-las no trabalho construtivo ou na prática do bem, com absoluta despreocupação pelas angústias dos pobres, muita vez passará por inteligente e sagaz, aos olhos daqueles que, no mundo, adormeceram no egoísmo e na ambição desmedida, mas é malfeitor diante do Todo Poderoso que nos julgará a todos, no momento oportuno.

E, sob a vigilância de guardas robustos, Zorobabel tomou cinco bastonadas em sala de portas lacradas, para aprender a sofrer sem roubar, e Jonatan apanhou vinte, na via pública, de modo a não mais explorar, sem escrúpulos, a miséria, a simplicidade e a confiança do povo. 

Página psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier – Espírito Néio Lucio – Livro Alvorada Cristã, cap. 8, Ed. FEB


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

HEREDITARIEDADE MORAL - Richard SimonettI

1 – Há algum componente moral na herança genética? Jamais os pesquisadores descobriram qualquer indicação de que os genes transmitam algo dos pais na formação do caráter de seus filhos.

2 – Como fica o ditado “filho de peixe, peixinho é”? 

Podemos encontrar criminosos com filhos bandidos, mas isso não guarda nenhuma comprovada relação com a genética. Particularmente no aspecto moral, somos herdeiros de nós mesmos, de nossas experiências e tendências cultivadas em existências pretéritas.

3 – Como explicar, então, que pais e filhos tenham, não raro, comportamento semelhante? 

Como já comentamos, tendemos a reencarnar junto a “familiares”, Espíritos aos quais nos identificamos, fruto de convivência passada. Assim, o bandido pode ter um filho marginal, não por herança, mas porque ambos cultivaram a delinquência no pretérito.

4 – Por que os mentores espirituais permitem que se reúnam no lar Espíritos com a mesma vocação para o crime, a se influenciarem reciprocamente?

Digamos que eles se merecem. Não seria justo, salvo por problemas cármicos ou exercício de solidariedade, localizá-los no seio de famílias ajustadas, em estágio superior de desenvolvimento moral, a causar-lhes embaraços.·.

5 – Qual o proveito de uma experiência assim, que lhes estimulará as mesmas tendências?

Estarão sujeitos às sanções divinas. Enfrentarão aflições e angústias, sob a égide da lei de causa e efeito, a fazer que se volte contra eles o mal que estendem ao redor de seus passos. A delinquência sempre impõe penosos impostos de dores e aflições àqueles que se comprometem com ela. 

6 – Acabarão com sua rebeldia...

Sem dúvida. As lições serão repetidas incessantemente, existência após existência, até que aprendamos o fundamental: viver como filhos de Deus, respeitando as leis divinas. 

7 – Como fica um Espírito que já conquistou o discernimento, que cultiva a verdade e a honestidade, quando reencarna entre criminosos?

Se esses valores não forem superficiais, se realmente os internalizou, não será afetado pelo ambiente, nem induzido a um comportamento antissocial, não compatível com sua maneira de ser. 

8 – O superior não seria influenciado pelo inferior…

Não só isso. O superior acaba influenciando o inferior. Espíritos assim constituem-se em modelo para pais e irmãos, induzindo-os a reconsiderarem o próprio comportamento. Os grandes missionários são os exemplos maiores. Atuando em meio hostil, superam influências negativas e se situam adiante de seu tempo, iniciando movimentos de renovação para a Humanidade.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Curiosidades da cidade de São PauloOrson Peter Carrara
A maior cidade do país e da América Latina alcança 460 anos de fundação, comemorado agora em 25 de janeiro. Foi em 1554, por ação dos padres jesuítas. Com mais de dez milhões de habitantes, a cidade apresenta números surpreendentes que, entre outros, merecem ser apresentados ao leitor, até como forma de homenagem à cidade.

Os números são facilmente encontrados em sites, mas aqui privilegiando o leitor não habituado às pesquisas do gênero, optamos por selecionar alguns dados. Acompanhe comigo, considerando que os dados abaixo já estão desatualizados, face ao crescimento da cidade, contínuo e dinâmico:

São aproximadamente 410 hotéis, 12 mil restaurantes, 3.200 padarias, 15 mil bares, 500 churrascarias, 160 teatros, 110 museus, 40 centros culturais, 260 salas em 55 cinemas, 294 salas de shows e concertos, 64 parques e áreas verdes, 1.000 academias de ginástica, 12 clubes de golfe, 7 estádios de futebol, 1 autódromo internacional, 90.000 eventos por ano, 240 mil lojas, 79 shoppings, 4 mil farmácias, 900 feiras livres semanais, 1.931 agência bancárias, 34 mil indústrias, 37 mil táxis, 15 mil ônibus urbanos, 1.335 linhas urbanas de ônibus, 5 linhas de metrô, 55 estações de metrô, 40 hospitais públicos, 61 hospitais particulares, 93 distritos policiais, 146 faculdades, 26 universidades, 1.500 pizzarias (um milhão de pizza por dia, 720 por minuto), 280 salas de teatro (600 espetáculos teatrais, em média, por ano). E ainda podemos acrescentar o Terminal Rodoviário Tietê, um dos maiores do mundo, com seus números igualmente estrondosos.

E tudo isto sem citar dados do turismo na cidade, dados educativos, médicos, de produção industrial, indicadores e valores econômicos, instituições religiosas, filantrópicas e suas atividades, distribuição demográfica e social e muitos outros dados que possamos pesquisar e acrescentar. E se buscarmos visualizar a Grande São Paulo, com os municípios praticamente emendados à grande cidade, teremos a gigantesca aglomeração urbana, com todos os seus desdobramentos e novos números assustadores e surpreendentes.

É o progresso, é o dinamismo da própria vida, onde todos vamos aprendendo, desenvolvendo o intelecto e a emoção. A evolução faz isso, vai trazendo novas conquistas, exigindo novas posturas, ampliando o entendimento das várias questões humanas e seus desafios nas diversas áreas que queiramos analisar e refletir. Numa seleção como a acima, são números surpreendentes que sofrem modificações a cada segundo, mas frios, apenas estatísticos. Coloque-se neles a participação humana, com a criatividade e imaginação que nos são tão próprias, com todo o dinamismo que impulsiona as ações humanas para o bem estar, a fraternidade, a justiça, o progresso.

Isso traz a dimensão das infinitas possibilidades colocadas em nossas mãos em todas as áreas do conhecimento e das atividades em geral. Apesar dos números tristes também das tragédias, de acidentes, homicídios, roubos e tudo o mais que a mídia tanto destaca diariamente, essa movimentação toda – nos sentidos positivo e negativo – é a ferramenta que movimenta e transforma a mentalidade humana. São aprendizados e desafios necessários. Não há outra maneira de evoluir. O tema sugere gratidão à vida e indica muito trabalho pela frente. Mãos à obra, pois.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O DESAFIO MAIOR - Richard Simonetti

A história mais popular da série Mil e uma Noites nos fala de Aladim e a lâmpada mágica, que, esfregada, libertou um gênio disposto a atender a três desejos seus. Há centenas de versões dessa aventura original, em filmes, livros, programas de televisão, não raro de cunho humorístico.

Recordo uma do gênio que, agradecido ao seu libertador, prometeu atender às suas aspirações, sintetizadas num único desejo, porquanto estivera muito tempo preso na lâmpada e seus poderes estavam enfraquecidos. O beneficiário pensou, pensou… Se era apenas um desejo, deveria pedir algo grandioso.

– Quero que você transforme a casa de minha propriedade, onde moro, num edifício de cinquenta andares, com duzentos apartamentos de trezentos metros quadrados para alugar. O gênio ponderou:

– Como lhe disse, estou ainda um tanto fraco, e uma realização assim vai deixar-me exausto. Dá para simplificar?

– Bem – falou o homem –, há algo bem mais simples que tenho tentado alcançar, sem sucesso. Quem sabe você poderá ajudar-me.

– Peça! Esteja certo de que o atenderei.

– Eu queria compreender as mulheres…

O gênio suspirou:

– Como é mesmo que você quer o prédio?

Bem, caro leitor, não é minha intenção falar de enigmas impenetráveis. Evocando a figura do gênio das mil e uma noites, é interessante observar nossos desejos enquanto nas etéreas plagas, em contraposição com os mesmos quando reencarnamos.

No mundo espiritual temos uma visão objetiva de nossas necessidades evolutivas. Pedimos aos gênios tutelares, nossos amigos espirituais, que nos ajudem a planejar uma existência capaz de incinerar nossas mazelas e liquidar nossos débitos cármicos, acumulados ao longo de muitos séculos de indisciplina e comprometimento com o desajuste.

– Quero nascer zarolho e perneta, portador de doenças congênitas, em família complicada; estágio na pobreza, dores e aflições intermináveis.

Embora inspirados em nobres ideais, fossem nossos desejos atendidos e seríamos esmagados por provações acima de nossas forças, paralisando-nos a iniciativa. Podando espinhos em exagero, nossos mentores ajudam-nos a planejar uma jornada menos tormentosa, que não nos tolha a iniciativa.

Muito mais do que pagar dívidas, é fundamental estejamos empenhados em não contraí-las e a conquistar créditos de trabalho no campo do Bem e do aprimoramento espiritual, adquirindo aquela riqueza que, no dizer de Jesus, as traças não roem, a ferrugem não corrói, nem os ladrões roubam.

O problema é que aqui aportando, visão espiritual prejudicada pela armadura física, deixamos que prevaleçam os interesses humanos.

Sofremos uma inversão de valores. Se as coisas correm mal, clamamos ao Céu. Se correm bem, distraímo-nos dos bons propósitos.

Pagamos nossos débitos cármicos com a angústia do sovina.

Contraímos novos débitos com a avidez do perdulário.

Ao final da jornada, o saldo é negativo na contabilidade divina e vamos parar em regiões umbralinas, onde estagiam os maus pagadores e os esbanjadores do tempo, de onde nenhum gênio nos tirará até que nos livremos dos lastros maiores de desajustes e perturbações.

Sofremos, choramos, clamamos pela complacência divina...

Isso não basta. Na célebre parábola evangélica, o filho pródigo permaneceu na indigência, até cair em si e reconhecer que cometera um grande erro afastando-se da casa de seu pai. Foi quando decidiu voltar.

Exatamente o que nos tem acontecido. Depois de muito sofrer, colhendo no umbral as consequências de nossos desatinos, experimentamos esse cair em si, a partir do que somos atendidos, esclarecidos e orientados.

Compenetramo-nos de nossas fraquezas e mazelas, de nossos débitos cármicos, da necessidade da reencarnação…

E começa tudo de novo.

Assim será até que nos disponhamos, com todas as forças de nossa alma, a compatibilizar os ideais divinos com os desejos humanos, a partir do empenho por compreender a nós mesmos, habilitando-nos até mesmo a enfrentar esse autêntico desafio que é decifrar a alma feminina.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

NEM TANTO AO MAR... - por Sidney Fernandes

Em certa ocasião, Kardec foi procurado por uma médium, que lhe mostrou comunicação recebida de Jobard. Esse espírito, quando encarnado, havia sido um dos colaboradores de Kardec na codificação. Nessa mensagem, Jobard recomendava àquela médium que, considerando suas dificuldades financeiras de viuvez, passasse a cobrar por suas atividades mediúnicas.

Era uma questão delicada que Kardec não quis responder de imediato. Inspirado pelo bom senso que o caracterizava, enviou cartas a outros médiuns da França e de outros países da Europa, indagando sobre a licitude da pretensão. E as respostas vieram cada qual com sua forma de expressão, mas únicas no conteúdo: 

- Dar de graça o que de graça recebemos. Que a médium tivesse confiança em Deus, pois suas necessidades financeiras não passavam despercebidas da espiritualidade e seriam solucionadas de outra forma. 

No ditado Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, a sabedoria lusitana está se referindo, naturalmente, ao equilíbrio e ao bom senso. E quando se fala em bom senso logo nos lembramos da adjetivação utilizada pelo mundialmente conhecido astrônomo Nicolas Camille Flammarion a Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita: o bom senso encarnado.

E como às vezes nos falta esse bom senso... Bem-intencionados e a pretexto de acelerar o processo evolutivo de irmãos em provação que nos procuram, vamos com muita sede ao pote e, como diria meu pai, botamos os pés pelas mãos.

Queremos que evoluam, como diria a expressão portuguesa, utilizada para expulsar desajustados ao som de tambores, a toque de caixa, isto é, com toda a pressa possível.

Ignoramos preciosas recomendações como a da Questão 800, de O Livro dos Espíritos:

Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa transformar como que por encanto.

A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar. 

De vez em quando, empolgados com a intenção de acelerar o progresso das pessoas, nós oradores, escritores e dirigentes, acabamos por desrespeitar o bom senso de Kardec, achando que as transformações possam ser atropeladas.

Com isso, surgem situações que precisam ser tratadas com muito cuidado. O que é preciso: assumir linha dura ou assumir a postura laissez faire, isto é, deixar do jeito que está para ver como é que fica?

Nem uma coisa nem outra. Nem a postura excessivamente liberal e condescendente, nem a atitude medieval, inquisitorial, como se fôssemos donos da verdade.

Ocorre que, no afã de propagar a Doutrina Espírita, às vezes nos esquecemos do ritmo de cada um e que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio.

Daí, exagerando em nosso entusiasmo, ao invés de impulsionar para o progresso, criamos obstáculos à transformação.

Neio Lúcio, no livro Jesus no Lar, narra uma notável história a respeito de um homem que se recolheu a uma gruta isolada, em plena floresta, a pretexto de servir a Deus. Ali vivia, entre orações e pensamentos que julgava irrepreensíveis, e o povo, crendo tratar-se de um santo messias, passou a reverenciá-lo com intraduzível respeito. 

Se alguém pretendia efetuar qualquer negócio do mundo, dava-se pressa em buscar-lhe o parecer. 

Achando que as pessoas deveriam imitá-lo, a fim de conquistarem um dia o paraíso, passou a tirar o entusiasmo de qualquer pessoa que se atrevesse a tomar alguma iniciativa de vida.

Empreendimentos comerciais, casamentos, cargos públicos, festas beneficentes, tudo recebia severas críticas desse pretenso sábio. Todos recebiam vigorosas cargas de desânimo e passavam a partilhar de seu ócio e de sua paralisia de alma.

Com a morte, esse sábio foi conduzido a terrível purgatório de assassinos. Em pranto desesperado indagou, à vista de semelhante e inesperada aflição, dos motivos que lhe haviam sitiado o espírito em tão pavoroso e infernal torvelinho.

Recebeu o esclarecimento de que, se não fora homicida vulgar na Terra, era ali identificado como matador da coragem e da esperança em centenas de irmãos em humanidade.

Ninguém pode se arvorar em transformador do mundo. Aquele que efetivamente promoveu essa mudança, jamais impôs. Sempre respeitou as falhas de cada um, aguardando pacienciosamente o momento certo de sua conversão para o bem.

Os sãos não precisam de médicos. (Mateus 9:12)

É claro que devemos lutar para vencer os defeitos e adquirir virtudes, se pretendemos aproveitar esta existência para evoluir e desfrutar um pouco de equilíbrio e paz.

No entanto, o próprio Cristo sabia que tudo tem a sua hora certa e que assim como a natureza, nossa jornada evolutiva não dá saltos.

Sejamos humildes e cautelosos perante as pretensões e imperfeições alheias, evitando a carga demasiada que mata as esperanças ou a condescendência exagerada que ignora a necessidade do trabalho e do progresso.

Inspiremo-nos no bom senso de Kardec e na mansuetude do Cristo.

VOCÊ É SÓCIO DA T.B.C.? - por Sidney Fernandes

Toda ocupação útil é trabalho.

O limite do trabalho é o das forças.

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos 

Há pessoas que parecem ter alergia ao trabalho. E procuram todas as desculpas possíveis para justificar a sua indolência.

Certamente fazem parte da T.B.C..

Emmanuel comenta, no livro Pão Nosso, a seguinte expressão de Paulo, da 2a. Epístola aos Coríntios: 

Cada um contribua, segundo propôs em seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama o que dá com alegria.

Refere-se, naturalmente, não apenas à esmola material, mas também a toda cooperação no bem que possamos prestar. 

Qualquer trabalho que venhamos a executar, seja ele espiritual, material ou psicológico, deve revestir-se de alegria. Isto é, deve ser realizado sem má vontade, sem queixas, sem insatisfação ou leviandade.

Conclui dizendo que o Pai ama o filho que contribui com alegria.

Os que agem de outra forma talvez sejam sócios da T.B.C..

Em brilhante artigo intitulado A "patologização" da infância, Sílvia Gusmão destaca a tendência americana de rotular desvios comportamentais de suas crianças.

Malcriação, por exemplo, é rotulada de Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor. 

Com isso, a indústria farmacêutica está rindo sozinha, tal o aumento do uso abusivo de medicamentos, para curar as anormalidades.

Conclui o artigo perguntando:

— O que explica a "epidemia" de crianças anormais nos Estados Unidos, enquanto na França o percentual de crianças diagnosticadas é inferior a 0,5% ?

— Os Estados Unidos tendem a "patologizar" o que seria natural no comportamento humano. As crianças francesas são geralmente mais bem comportadas que as americanas - diz a estudiosa - , adequando-se aos limites estabelecidos pelos pais.

— Nesse sentido, conclui, as crianças francesas não precisam de medicamentos para controlar seu comportamento, porque os pais franceses estão à frente na educação de seus filhos, enquanto na família americana não.

Resumindo: na França a educação previne doenças comportamentais.

Os desvios de comportamento não podem ser classificados como ato involuntário, sobre os quais não temos controle. Podemos e devemos melhorar a cada dia o nosso modo de ser. 

E isso recebe o nome de EDUCAÇÃO. Sem falsas desculpas, sem rotular os educandos de doentes, responsabilizando o indivíduo e quem o educa por seus atos.

Com certeza, esses que apelam para os remédios, desculpando como se fossem doenças os desvios sociais, fazem parte da T.B.C..

Afinal de contas, o que é T.B.C.?

Narra Irmão X, no livro Contos Desta e Doutra Vida, a história de três rapazes - Leandro, Jonas e Samuel -, que aparentavam ser sensatos estudiosos do Espiritismo. Durante cinquenta meses teve encontros semanais com o grupinho, com o qual se encantou. Leandro, Jonas e Samuel pareciam três apóstolos da Grande Causa.

Tanta simpatia os três inspiravam, que Irmão X resolveu apontá-los para o amigo Cantídio, sugerindo que os três jovens fossem aproveitados na seara do bem.

Foi assim que Cantídio, certa noite, conseguiu situar os três rapazes num templo espírita, ao qual compareceu também Lismundo, respeitável orientador que vinha testar-lhes a dedicação.

Começou falando sobre a magnitude do serviço espírita. Logo após entrou diretamente no assunto que ali o trazia. Jonas, Samuel e Leandro discorreram, brilhantemente, quanto às próprias convicções. Falaram longamente das leituras que haviam efetuado.

Exaltaram os princípios de Allan Kardec, louvaram as páginas de Denis, desfiaram as pesquisas de Crookes e Aksakof e analisaram as conclusões de Bozzano e Geley com notável mestria. 

Depois de duas horas inteiras de verbo, Lismundo os convidou pacientemente para o trabalho: a construção de uma casa de instrução e consolo... ou talvez a disseminação do livro espírita?... ou talvez um agrupamento destinado à sementeira da luz...

Os ouvintes, contudo, qual se fossem surpreendidos por ducha inesperada, entreolharam-se, transidos de susto. Leandro tinha provações. Samuel acusou problemas familiares, e Jonas afirmou-se sem condições de responsabilidades maiores.

O trio mostrou-se irredutível.

Quando os convites reiterados começaram a ser tomados como inconvenientes, Lismundo despediu-se.

Acalmando a decepção de Irmão X, explicou, bondoso: – Não se aflija. Estamos à frente de companheiros filiados à T.B.C. .

Voltaremos em outra ocasião

Intrigado, Irmão X perguntou ao amigo que o esperava:

– T.B.C.? Que vem a ser isso?

Cantídio respondeu, a sorrir:

– T.B.C. representa a sigla da Turma da Boa Conversa, compreende?

Embora agoniado, Irmão X não pôde ocultar o riso franco.

Emmanuel, ao referir-se ao contato do apóstolo Paulo com Atenas, em sua página Novos Atenienses, do livro Pão Nosso, lembra que, enquanto o orador atinha-se a conceitos filosóficos, era aplaudido e reverenciado.

No entanto, quando passou a referir-se à continuação da vida, além das ninharias terrestres, os ouvintes sentiram-se desconfortáveis e foram deixando o recinto, deixando-o quase só.

— Nos dias que correm, continua Emmanuel, estamos passando pela mesma situação.

Normalmente aceitamos bem a teoria. No entanto, se nos convidam ao trabalho, às vezes saímos de fininho e deixamos oradores falando sozinhos.

Afinal, a que turma pertencemos? 

À Turma do Trabalho ou à Turma da Boa Conversa?

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ESTUDANDO O BEM E O MAL

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Mediunidade e Sintonia. Lição nº XII. Página 61.

Para que sejamos intérpretes genuínos do bem, não basta desculpar o mal.

É imprescindível nos despreocupemos dele, em sentido absoluto, relegando-o à condição de efêmero acessório do triunfo real das Leis que nos regem.

Evitando comentários complexos em nosso culto à simplicidade, recorramos à natureza.

Vejamos, por exemplo, o apelo vivo da fonte.

Quantas vezes terá sido injuriada a água que hoje nos serve à mesa?

Do manancial ao vaso limpo, difícil trajetória cumulou-a de vicissitudes e provações.

O leito duro de pedra e areia...

A baba venenosa dos répteis...

O insulto dos animais de grande porte...

O enxurro dos temporais...

Os detritos que lhe foram arrojados ao seio...

A fonte, entretanto, caminhou despretensiosa, sem demorar-se em qualquer consideração aos sarcasmos da senda, até surpreender-nos, diligente e pura, aceitando o filtro que lhe apura as condições, a fim de que nos assegure saciedade e conforto.

Segundo observamos, na lição aparentemente infantil, o ribeiro não somente olvidou as ofensas que lhe foram precipitadas à face.

Movimentou-se, avançou, humilhou-se para auxiliar e perdoou infinitamente, sem imobilizar-se um minuto, porque a imobilidade para ele constituiria adesão ao charco, no qual, ao invés de servir, converter-se-ia tão só em veículo de corrupção.

É por isso que o ensinamento cristão de caridade envolve o completo esquecimento de todo mal.

?Que a vossa mão esquerda ignore o bem praticado pela direita.?

Semelhantes palavras do Senhor induzem-nos a jornadear na Terra, exaltando o bem, por todos os meios ao nosso alcance, com integral despreocupação de tudo o que represente vaidade nossa ou incompreensão dos outros, de vez que em qualquer boa dádiva somente a Deus se atribui a procedência.

Procurando a nossa posição de servidores fiéis da regeneração do mundo, a começar de nós mesmos, pela renovação dos nossos hábitos e impulsos, olvidemos a sombra e busquemos a luz, cada dia, conscientes de que qualquer pausa mais longa na apreciação dos quadros menos dignos que ainda nos cercam será nossa provável indução ao estacionamento indeterminado no cárcere do desequilíbrio e do sofrimento.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Nossas passarelas

Contou-nos um professor, que um dia desses deu carona a uma amiga e esta estava irradiando felicidade. O motivo da sua alegria era o fato de haver vencido algo que a atormentava desde a infância: o medo de atravessar passarelas.

Moradora de uma cidade grande, vez ou outra precisava atravessar uma rua movimentada utilizando as passarelas destinadas aos pedestres. Sempre que ia enfrentar esse terror, ela se agachava, se agarrava ao parapeito e seguia engatinhando como se fosse um bebê.

Naquele dia, em que conversava com o amigo, ela contou que, quando estava quase no meio do trajeto, começou a conversar consigo mesma sobre o tormento do medo. Viu-se, ali, agarrada às muretas, se arrastando como se a passarela fosse desabar em minutos, e se questionou: "como pode uma mulher de quase 50 anos de idade estar rastejando desse jeito, enquanto crianças passam descontraídas e confiantes!?"

"Isso não faz sentido!"

E, buscando uma força interior que não imaginava possuir, levantou-se, respirou fundo, apoiou a mão suavemente sobre o parapeito, e seguiu. Mas não foi só isso! Desafiando o próprio medo ela ousou olhar para baixo, os carros que transitavam em alta velocidade.

Os primeiros momentos foram de luta íntima entre a confiança e a fobia, mas venceu o bom senso e ela chegou ao outro lado, irradiando felicidade. Havia derrotado o monstro que a aterrorizou por longo tempo.

Muitos de nós temos nossas passarelas para enfrentar. E elas se apresentam das mais variadas formas e nos mais inesperados momentos.

São as fobias e medos que nos infelicitam, que nos fazem rastejar, que nos impedem os passos na travessia dos obstáculos necessários ao nosso crescimento espiritual. E muitas dessas passarelas são fruto da nossa imaginação, da nossa falta de fé, da nossa insegurança.

Importante que pensemos no objeto dos nossos medos com a seriedade que o assunto exige.

Existem perigos reais que provocam o medo racional, que aciona o instinto de conservação com o fim de preservar nossa integridade moral e física. Isso é perfeitamente natural. Mas também existem perigos imaginários, que impedem nossa caminhada e nos deixam ilhados nos limites gerados pelo medo irracional, o medo sem sentido.

Quando, por exemplo, nos deparamos com uma ponte que está rachada, com vários indícios de que poderá desabar, evitar a travessia é decisão de bom senso. Esse medo é perfeitamente racional.

Mas quando a ponte está firme, sólida, não oferece risco algum, e ainda assim sentimos medo de atravessar, esse temor é sem sentido, sem razão de ser. É o medo irracional.

Por isso é importante que façamos uma análise consciente das nossas fobias, para que o medo irracional não nos impeça os passos na direção da felicidade que desejamos alcançar.

Vale a pena enfrentar nossas passarelas com disposição e coragem, para que possamos sentir a satisfação de chegar à outra margem da rua, do rio, dos obstáculos variados.

E atravessar essas passarelas pode significar simplesmente derrotar o medo de ser feliz, que por vezes nos distancia de um abraço de reconciliação, de perdão, de conquistar uma virtude qualquer...

Se você está diante da sua "passarela", sem coragem de dar o primeiro passo, medite sobre o seguinte: você é um espírito milenar que traz na intimidade a chama sagrada do Criador, não precisa engatinhar como um bebê.

Acione a vontade e decida atravessar com confiança.

Agindo assim você perceberá que a cada auto-enfrentamento você encontrará mais e mais forças para alcançar a outra margem, com destemor e em segurança.

Equipe de Redação do Momento Espírita, sob inspiração de conferência de J. Raul Teixeira, no dia 12/12/2004, no Clube Morgenau, Curitiba-PR
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sábado, 18 de janeiro de 2014

EM NOSSOS CAMINHOS

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Viajor. Lição nº 01. Página 17.

         Revisando a parábola do samaritano, lembramo-nos de que hoje milhares de irmãos nossos sobem do passado em direção do futuro pelos caminhos do presente, desfalecendo, muitas vezes, sob dificuldades e provações que os deixam semi mortos:
- os que não contavam com as tempestades de renovação da atualidade e se marginalizaram em desequilíbrio;
- os que forjaram algemas para o amor transformando-o, logo após, no fogo passional em que se atiraram na delinquência;
- os que desertaram do trabalho e tombaram em penúria;
- os que converteram a inteligência em antena das trevas e se horizontalizaram, por dentro de si mesmos, nas depressões da culpa;
- os que abusaram da misericórdia dos medicamentos pacificadores e, tentando fugir das próprias responsabilidades, se precipitaram em despenhadeiros de alucinação e loucura;
- os que perderam a fé em meio das experiências necessárias à evolução e estiraram-se no desânimo, à beira do suicídio;
- os que não suportaram a transformação dos seres amados e se acomodaram, revoltados, sobre pedras da angústia;
- e aqueles outros que tateiam a lousa, nos parques da saudade, perguntando pelos entes queridos que a morte lhes arredou da convivência, a carregarem o coração encharcado de lágrimas.
À frente de quantos surpreendas na estrada, caídos em sofrimentos, interrompe-te para compreender e servir.
Determina a caridade nos situemos no lugar daqueles que necessitam de amparo, doando-lhes o melhor de nós, com a certeza de que provavelmente amanhã serão eles, os socorridos de agora, nossos próprios benfeitores.

Entre os companheiros de Humanidade que conhecem o campo de trabalho e passam, de longe, com receio de serem incomodados, e aqueles que foram espoliados na coragem de caminhar e na alegria de viver, recordemos o samaritano que se deteve na marcha dos próprios interesses e auxiliou espontaneamente ao próximo sem nada perguntar e, conforme a lição do Cristo, façamos nós o mesmo.

Aviso do Alto

Narra-se que Chico Xavier estava parado defronte ao correio, conversando com seu irmão André, quando um policial passou por perto e, colocando o braço direito sobre seu ombro, lhe disse:
-Muito obrigado, Chico! e foi andando.
 Chico ficou intrigado com aquele agradecimento. Não podia atinar com a causa. À tarde, ao regressar do serviço, viu defronte a um bar um bloco de trabalhadores e, no meio deles, o guarda que o abraçara pela manhã. Passou mais perto e observou que o guarda tentava a­partar uma briga entre dois irmãos, que se desentenderam por coisas de somenos importância.
 O policial, vendo inúteis seus esforços e porque a discussão já se generalizava envolvendo todo o bloco, tirou da cintura o revólver e ia usá-lo para impor sua autoridade.
 Chico, mais que depressa, chegou perto e pediu-lhe:
 -Calma, meu irmão.
 O guarda voltou-se contrariado mas, reconhecendo Chico, como que envergonhado do seu ato, parou de súbito e exclamou:
 -Muito obrigado, Chico!
 Controlou-se, usou da palavra, aconselhou e o bloco foi desfeito com o arrefecimento dos ânimos.
 À noite, indo Chico para o centro espírita, encontrou-se com o oficial novamente. -Chico, ia procurá-lo e agradecer-lhe, muito de coração, o bem que você me fez, por duas vezes.
 -Por duas vezes? Como?
 Anteontem sonhei com você, que me dizia: "Cuidado, não saia de casa carregando arma à cintura como sempre o faz. Evite isso por uns dias..." Por isso é que lhe disse, hoje, pela manhã: "Obrigado, Chico!" Referia-me ao sonho, ao seu aviso. Mas me esqueci de atendê-lo. Saí armado e, se não fosse o concurso de nossos amigos espiri­tuais na hora justa, teria feito hoje uma grande bobagem. Poderia até ter matado alguém... Mas a lição ficou, Chico.
Muito obrigado, Deus nos ajude sempre!
 O fato mostra, primeiramente, como Chico era um instrumento da paz neste mundo. Visitando o amigo em sonho e depois o salvando, pessoalmente, de se comprometer seriamente com a vida. Também mostra como ainda ignoramos mensagens claras de alerta, de aviso, que buscam nos preservar de problemas maiores na existência. 
 A espiritualidade se utiliza dos sonhos, das intuições e até dos que estão ao nosso redor para nos dar recados, para nos trazer advertências preciosas. Só quem está com os pensamentos em equilíbrio e com a alma tranquila, consegue ouvir e se aproveitar dessas oportunidades inigualáveis. 
 Aqueles que estamos nervosos, afundados em ódios e pensamentos negativos, tornamo-nos surdos a qualquer bom conselho que possa nos ser dado. 
 Os Espíritos influenciam muito nossos pensamentos e atos. Escolher que conselhos vamos ouvir, que influências, boas ou más, iremos nos permitir, é escolha apenas nossa.
 Utilizemos nossa sensibilidade. Prestemos maior atenção às intuições. Paremos, sempre que possível, elevando o pensamento em oração e perceberemos que podemos receber muito mais ajuda do que imaginamos.
Fonte: Redação do Momento Espírita, com base no cap.48, do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama, ed. Lake.




“Os espíritos protetores nos ajudam com os seus conselhos, através da voz da consciência, que fazem falar em nosso íntimo - mas como nem sempre lhes damos a necessária importância, oferecem-nos outros mais diretos, servindo-se das pessoas que nos cercam”  Allan Kardec

Um quebra-cabeça infinitoOrson Peter Carrara 

Convenhamos que a questão do MACRO e MICRO que nos envolve a vida é um autêntico quebra-cabeça, infinito e sábio, cheio de perspectivas e possibilidades para estudo e pesquisa, obra do Ser Absoluto, o Criador, Deus, a inteligência suprema do Universo, causa primeira de todas as coisas. 

Seja a investigação direcionada para o micro ou para o macro, em ambos encontraremos grandeza absoluta, infinita, ainda incompreendida por cientistas e pesquisadores, que “quebram a cabeça” em busca de respostas.
Isto vem revelar nossa pequenez e ao mesmo tempo demonstrar a grandeza do Criador. Interessante, porém, que nossa pequenez não surge como humilhante, pois o Criador não humilha. Antes, homenageia-nos com os espetáculos diários da natureza e com as descobertas que, gradativamente, nos permite realizar. Tudo já existe, mas permite obras de co-criação, através da infinita criatividade que somos capazes de desenvolver, o que traz progresso ao planeta, a nós mesmos, ao nosso círculo de relacionamento, ao globo terrestre, enfim, justamente nas conquistas do macro e do micro.

Como imaginar, há algumas décadas, o progresso que já utilizamos atualmente? E como imaginar o que está por vir?

Consideremos que sempre temos o que fazer; sempre temos o que pesquisar, o que aprender. Nunca conhecemos tudo. Consideremos ainda as perspectivas que se abrem – e que nem temos condições de avaliar e alcançar –, com vistas aos desafios do que os cientistas denominam hoje de universos paralelos? Como seria isso? Além do universo visível, outros se abririam, em outras dimensões? Como seria isso? Deus!

O assunto torna-se empolgante, pois já temos notícias do plano extra-físico, invisível aos olhos humanos, carnais, mas real, vibrante. E agora abre-se perspectivas para universos paralelos, apenas considerando o plano físico... É difícil até de imaginar.

Se adentrarmos, então, para a questão do infinito – tanto do macro como do micro – nosso entusiasmo, admiração e perplexidade aumentam ainda mais. Como alcançar tudo isso?

Calma! É a palavra. Dominemos a ansiedade. O tempo fará seu trabalho em nosso favor. Por ora, fiquemos com a gratidão ao Pai Celeste. Mas também com a alegria desta notável herança, do futuro grandioso que a todos nos aguarda. Vamos trabalhando, caminhando, pesquisando, estudando... E aí repetiremos com o Sábio da antiguidade: Sei que nada sei...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A SOCIEDADE SOMOS NÓSRichard Simonetti

É evidente que, se não fossem os preconceitos sociais, pelos quais se deixa o homem dominar, ele sempre acharia um trabalho qualquer, que lhe proporcionasse meio de viver, embora se deslocando da sua posição. Mas, entre os que não têm preconceitos ou os põem de lado, não há pessoas que se veem na impossibilidade de prover às suas necessidades, em consequência de moléstias ou outras causas independentes da vontade delas?

Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.

Questão n° 930, de O Livro dos Espíritos

Há indivíduos indolentes e indisciplinados que vi­vem em situação difícil por sua própria culpa. Mas há, também, os que experimentam amargas privações de­correntes de circunstâncias alheias à sua vontade:

O doente sem recursos, o velho sem abrigo, a criança abandonada, operário desempregado, o homem marginalizado em virtude problemas de comportamento.

Imagina-se que providências a respeito do assunto são de alçada exclusiva do Governo, chamado ao atendi­mento da população carente e à erradicação da misé­ria.

No entanto, a sociedade somos nós, cidadãos que a compomos. O Governo é apenas uma representação. Não pode­mos, portanto, debitar-lhe inteiramente a solução desse problema, mesmo porque a cristianização da sociedade não depende de iniciativas dos poderes constituídos. Fraternidade, solidariedade, misericórdia, caridade, compaixão, não são passíveis de imposição por decretos.

Consideremos, ainda, que o Governo não é onis­ciente, onipresente, onipotente. Ele não sabe tudo, não vê tudo, não pode tudo. Mas a sociedade, como um to­do, formada pelos cidadãos que a compõem, pode exer­citar essas faculdades, na medida em que, diante das misé­rias humanas, sempre haverá alguém capaz de fazer algo, ao passo que a interferência de prepostos governamen­tais vai depender de os encontrarmos, de estarem dispos­tos a fazê-lo e desfrutarem de disponibilidades para tan­to.

No livro Atravessando a Rua, comentamos a expe­riência de um homem que encontrou um doente ao de­sabrigo, em noite muito fria, e suas tentativas para con­duzi-lo ao Albergue, a esbarrarem na falta de uma viatu­ra da própria instituição e de órgãos policiais e hospitala­res. Reclamando pela falta de colaboração, deu o assunto por encerrado. No dia seguinte, o doente foi encontrado sem vida. Morreu de frio.

De quem foi a culpa? Do Governo, sem dúvida. O albergue, o hospital, a polícia, que direta ou indiretamente o representam, fa­lharam na medida em que não se adequaram ao desem­penho de suas funções.

Mas há um cúmplice: o samaritano vacilante que, naquele exato mo­mento em que topou o doente, era o melhor represen­tante da sociedade para socorrê-lo. Bastava usar seu au­tomóvel ou providenciar um táxi, já que uma vida huma­na vale bem mais que embaraços ou despesas decorren­tes de semelhante iniciativa.

O recalcitrante socorrista, bem como dezenas de pessoas que passaram por ali, viram o problema e prefe­riram ignorá-lo, comportaram-se como membros de uma sociedade que se diz cristã, mas está longe de viver os ensinamentos do Cristo. Evidentemente não se improvisa o cristão. Ainda assim, não estamos impedidos de ensaiar fraternidade. Se ainda não conseguimos abrir a porta de nossa casa ao necessitado, abramos-lhe as portas da boa-vontade, dis­postos a fazer algo em seu benefício, sem debitar a inicia­tiva ao Governo, porquanto, diante dos infortúnios hu­manos, naquele exato momento em que os contempla­mos, somos os representantes melhor credenciados da sociedade para ajudar. Estamos ali.

Há outro aspecto importante: o Governo representa não apenas a sociedade, mas também suas tendências. Ele se vincula à história da nação, suas características, sua maneira de ser. A Alema­nha de Adolfo Hitler foi a materialização da belicosidade e das pretensões de hegemonia racial de boa parte do povo alemão.

Seria, portanto, inocência, pretender que o indiví­duo alçado ao poder se transforme, por obra e graça do Espírito Santo, num campeão do Evangelho, apóstolo do Bem, empolgado pela promoção humana, trabalhan­do de sol a sol com disciplina, prudência, bom-senso, honestidade e, sobretudo, amor pelo semelhante.

Poderá surgir, de quando em vez, um sábio ou um santo na direção de um povo, mas ele próprio terá de lu­tar contra terríveis limitações e dificuldades, porquanto será um elemento estranho numa coletividade alheia aos seus ideais.

A sociedade legitimamente cristã deve ser construí­da de baixo para cima. Quando a maioria da população for cristianizada teremos governos capazes de vivenciar plenamente os ensinamentos de Jesus. Não há fórmulas mágicas para isso. É apenas uma questão de trabalho, muito trabalho no esforço do Bem.

Diz o Espírito Humberto de Campos, em psicogra­fia de Francisco Cândido Xavier: As missões legitimamente salvacionistas vêm à Terra vestidas de macacão.

O verdadeiro missionário é aquele que serve sem­pre, com inabalável disposição, empenhando a própria existência no esforço em favor do semelhante.

Isso explica porque o espírita consciente fatalmente se vincula a obras de assistência e promoção humanas ─ creches, berçários, escolas, abrigos, lares da infância e da velhice, hospitais ─ formando uma mentalidade de parti­cipação e de iniciativas em favor dos carentes de todos os matizes. Ele sabe que não há outro caminho.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CONTABILIDADE E DESTINO

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Nascer E Renascer. Lição nº 01. Página 19.


Observemos um instituto bancário em suas operações rotineiras.

Todo cliente em dificuldade nele comparece, rogando certos favores.

Vemos aí aqueles que por excessivamente comprometidos, requisitam mais vastos suprimentos, buscando a solução de grandes contas em mais amplo setor de serviço; os que solicitam a reforma dos títulos que não podem pagar no dia justo; os que suplicam moratória adequada às aflições que atravessam; e os que se decidem a aceitar juros pesados e escorchantes, na tentativa suprema de liquidar os débitos que contraíram em outros campos de expectativa e de ação.

Todos lutam e sofrem, condicionados aos regulamentos a que se sujeitam, trabalhando pela quitação que lhes devolverá o nome à respeitabilidade devida.

Assim, também, na Contabilidade Divina, todos nós, no balanço de antigos débitos, imploramos essa ou aquela providência consentânea com as nossas necessidades.

Há quem peça a provação da riqueza para desvencilhar-se de pesados grilhões nos círculos da economia terrestre e há quem rogue penúria, buscando aprender como se deve agir na fartura.

Há quem suplique doenças do corpo para valorizar a saúde e há quem solicite saúde para estender assistência aos enfermos dos quais se fez devedor.

Há quem exore mutilações e defeitos no campo físico para reconquistar a felicidade na vida imperecível e há quem advogue para si mesmo a concessão de harmonia corpórea para a realização de tarefas determinadas em benefício dos outros.

Há quem se proponha a receber um cérebro claro e forte para servir aos ignorantes e há quem peça um cérebro frustrado para restaurar-se, através da humildade e da dor, perante o próprio destino.

Se já te conscientizaste quanto à grandeza da Criação, confere os talentos e as inibições que te assinalam e por eles compreenderás de que tarefa mais alta a vida te incumbe no curto espaço da existência terrestre, porque facilidade ou obstáculo, ouro fácil e recurso difícil, raciocínio pronto e idéia tardia, são empréstimos da Providência Divina, com tempo exato para o acerto preciso em nosso próprio favor, diante das Leis de Deus.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

AS MEDIDAS DA FELICIDADE - Richard Simonetti


A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?

Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.

Questão 922 de O Livro dos Espíritos

Vivemos num mundo de relatividade, condiciona­dos pelo ambiente em que nos situamos, o que determi­na que cada indivíduo tenha suas próprias ideias quanto ao mínimo necessário à felicidade.

Um executivo com rendimento mensal de duzen­tos salários mínimos, aplicados inteiramente em favor de seus caprichos e diversões, conforto e bem-estar, sentir-se-á o mais infeliz dos mortais se reduzido à décima parte desse valor. Já o operário de salário-mínimo sentir-se-á no paraíso se receber dez vezes mais ─ uma fortuna para ele.

Portanto, sem recorrer a cifras, podemos considerar que o mínimo necessário à felicidade, sob o ponto de vista material, é desfrutar do essencial à existência, relaciona­do com alimentação, habitação, educação e saúde.

Aqui deparamos com o primeiro entrave à felicida­de na Terra, porquanto populações imensas sofrem per­turbadora carência desses recursos.

Se não nos enquadramos nessa população sofredo­ra não há porque nos sentirmos infelizes, a não ser que cultivemos vaidades e ambições. Há muita gente angus­tiada e até desajustada porque não pode ter o palacete de seus sonhos, “aquele” automóvel, o incrementado apa­relho de som, o sofisticado guarda-roupa ou porque não pode realizar a desejada viagem. Muita gente que viveria bem melhor se cuidasse de assuntos mais importantes.



* * *

Seremos felizes, materialmente, se nos contentar­mos com o necessário para viver, superando as pressões da sociedade de consumo que, com seu incrível agente ─ a propaganda ─ induz-nos a desejar o supérfluo e a consu­mir até mesmo o que é nocivo, como o fumo e as bebidas alcoólicas.

A esse propósito vale lembrar Diógenes, famoso filósofo grego, que demonstrava um absoluto desprezo pelas convenções sociais e pelos bens materiais, em obe­diência plena às leis da Natureza.

Proclamava que para ser feliz o homem deve liber­tar-se do supérfluo, limitando-se ao essencial: andava descalço, vestia uma única túnica que possuía e dormia num tonel, que se tornou famoso em toda a Grécia.

Certa feita viu um garoto tomando água num ria­cho, a usar o côncavo das mãos.

─ Aí está ─ exultou o filósofo ─, esse menino acaba de ensinar-me que ainda tenho objetos desnecessários.

Ato contínuo, dispensou a caneca que usava, pas­sando a utilizar-se das mãos.

Alexandre, o grande, senhor todo poderoso de seu tempo, curioso por conhecer aquele homem singular e desejando testar seu famoso desprendimento, aproxi­mou-se dele em fria manhã de inverno, quando Dióge­nes se aquecia ao sol.

Conversaram durante algum tempo. Então, Ale­xandre se propôs a atender a qualquer pedido seu. Que escolhesse o bem mais precioso, que enunciasse o capri­cho mais sofisticado e seria prontamente atendido.

Diógenes contemplou por alguns momentos o ho­mem mais poderoso da Terra, senhor de vasto império. Depois, esboçando um sorriso, disse-lhe:

─ Quero apenas que não me tires o que não me po­des dar. Estás diante do sol que me aquece. Afasta-te, pois...

Evidentemente não podemos levar Diógenes ao pé da letra, mesmo porque estamos longe do desprendi­mento total. Ele representa um exemplo de como pode­mos simplificar a existência, despindo-nos de condicio­namentos e modismos, superando o artificial e o supér­fluo, para que, efetivamente, sob o ponto de vista mate­rial, não haja impedimentos à nossa felicidade.



* * *

Se nos contentarmos com o necessário teremos condições para tratar de assuntos mais importantes, co­mo a felicidade em plenitude, que é uma edificação inte­rior, uma espécie de conquista moral.

Seremos felizes em nosso universo interior se tiver­mos “a consciência tranquila e a fé no futuro”.

Aqui o assunto começa a ficar complicado...

Será que temos feito o que é absolutamente certo, justo, verdadeiro? Temos respeitado integralmente o se­melhante? Temos contido nossos impulsos inferiores? Temos trabalhado pela paz, onde estamos? Temos con­tribuído para a harmonia no lar?

Tudo isso e muito mais é necessário para que tenha­mos tranquilidade de consciência.

Raros se furtam a dias aflitivos de angústia, em que sentem um imenso vazio em suas almas, mente tortura­da por ideias infelizes.

Uma análise retrospectiva dirá que esse estado de­pressivo se originou de uma má palavra, de um compor­tamento vicioso e irresponsável, de uma atitude agressi­va, de um gesto impensado ─ tudo isso passível de ferir nossa consciência, precipitando-nos no desajuste.

* * *

Consideremos o mais importante:

Se há milhões de pessoas que não dispõem do míni­mo necessário à existência, muitas delas residentes em nos­sa cidade, podemos proclamar que temos a consciência em paz sem estar tentando algo em seu benefício?

Afinal, admitindo que Deus é nosso pai, somos todos irmãos! E o mais elementar dever de fraternidade impõe que o irmão melhor situado ampare o irmão em penúria.

Que diríamos de alguém que edificasse confortável residência num oásis, em pleno deserto, cercando-a de altos muros e se negando sistematicamente a socorrer os viajores cansados e sedentos que passam lá fora?

É exatamente isso que fazem os homens em sua maioria: preocupam-se com o oásis. Esquecem-se de seus irmãos...

Não nos iludamos. O Espiritismo é suficientemen­te claro ao demonstrar que a angústia existencial que afli­ge muita gente, que tem tudo para ser feliz, sustenta-se na criminosa indiferença, na deliberada surdez aos ape­los da própria consciência, que pergunta, insistente: O que está você fazendo em beneficio de seus irmãos?