quarta-feira, 26 de novembro de 2014

COMO FILHOS DE DEUS  - Richard Simonetti

Toda tarde aquela senhora pobre, de firmes princípios religiosos, fazia suas orações na varanda de sua modesta vivenda. 

Ao terminar falava alto, em exaltação da fé:

– Deus seja louvado!

Invariavelmente, um vizinho, ateu de carteirinha, proclamava alto para ela ouvir:

– Deus não existe!

Certa vez, ela pediu:

– Senhor, minha despensa está vazia. Por misericórdia, envie-me alimentos.

Na manhã seguinte, encontrou farta cesta básica na entrada de sua casa. Emocionada, proclamou:

– Deus seja louvado! Obrigada, Senhor, pela dádiva!

– Bobagem! – gritou o vizinho. – Não há nenhum Deus. Fui eu quem comprou a cesta básica para você.

– Deus seja louvado! – repetiu ela. 

E completou: 

– O Senhor não apenas enviou-me mantimentos, como fez o diabo pagar por eles!

Esta história lembra outra, relatada em meu livro Uma Razão para Viver:



Montado em seu belo cavalo, o rico fazendeiro diri­gia-se à cidade, como fazia frequentemente, a fim de cui­dar de seus negócios. Nunca prestara atenção àquela casa humilde, quase escondida num desvio, à margem da es­trada. Naquele dia experimentou insistente curiosidade. Quem morava ali?

Cedendo ao impulso, aproximou-se. Contornou a residência e, sem desmontar, olhando por uma janela aberta, viu uma garotinha de aproximadamente dez anos, ajoelhada, mãos postas, olhos lacrimejantes...

– Que faz você aí, minha filha?

– Estou orando à Virgem Maria, pedindo socorro... Meu pai morreu, minha mãe está doente, meus quatro irmãos têm fome...

– Bobagem! O Céu não ajuda ninguém! Está muito distante... Temos que nos virar sozinhos!...

Embora irreverente e um tanto rude, era um ho­mem de bom coração. Compadeceu-se, tirou do bolso boa soma de dinheiro e o entregou à menina.

– Aí está! Vá comprar comida para os irmãos e remé­dio para a mamãe! E esqueça a oração!...

Isto feito, retornou à estrada. Antes de completar duzentos metros, decidiu verificar se sua orientação esta­va sendo observada. Para sua surpresa, a pequena devota continuava de joelhos.

– Ora essa, menina! Por que não vai fazer o que reco­mendei? Não lhe expliquei que não adianta pedir?

E ela, feliz:

– Estou apenas agradecendo. Pedi ajuda à Virgem Maria e ela enviou o senhor!

Diz André Luiz que Deus atende às criaturas por intermédio das criaturas.

Quando oramos contritamente, apelo do coração, não mero exercício de palavras, nossa prece ultrapassa o teto da superficialidade e é ouvida por mentores espirituais que procuram nos atender, naturalmente observado o princípio do mérito e, em situações específicas, a condição da mão de obra.

Se for um pobre que precisa de alimento, um doente que precisa de determinado remédio, uma criança perdida que precisa ser encontrada, um homem em desespero pensando em suicidar-se, há necessidade de alguém bem sintonizado, disposto a ser o agente da ação espiritual.

E aqui não se trata meramente do religioso. Imperioso é encontrar alguém possuidor de religiosidade, virtude que não está subordinada à frequência às igrejas, e sim à disposição de servir.

Nas duas histórias foram dois ateus que serviram de intermediários ao esforço do Céu, porque talvez os religiosos estivessem muito ocupados com suas orações ou despreocupados da finalidade maior da religião: fazer ao semelhante o bem que gostaríamos nos fosse feito, como ensinava Jesus.

Diz o Mestre (Mateus 25:34-36):

… Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do Mundo.

Pois tive fome, e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era forasteiro e me hospedastes, estava nu, e me vestistes, estive enfermo, e me visitastes, preso e fostes ver-me.


Observe, caro leitor: Jesus não se reporta aos religiosos, como usufrutuários das benesses divinas, e, sim, àqueles que atenderam seus irmãos em penúria, independentemente de acreditarem ou não em Deus.

Diga-se de passagem: 

Deus não está preocupado com nossa crença.

Espera apenas nos comportemos como Seus filhos.

sábado, 22 de novembro de 2014

REENCARNAÇÃO E PROFISSÃORichard Simonetti

1 – Todos reencarnamos com uma profissão definida?

Pode acontecer, mas nem sempre há margem para escolha. Se o Espírito reencarna entre camponeses, em distante rincão, dificilmente deixará de ser um trabalhador do campo. 

2 – Na vida urbana há mais opções?

Sim, mas levando-se em consideração as aquisições pretéritas. Seria pouco produtivo, por exemplo, vincular o reencarnante à cirurgia neurocerebral, área médica altamente especializada, se jamais foi discípulo de Hipócrates.

3 – A competência profissional teria algo a ver com reencarnações pretéritas?

Tendências inatas e habilidade para determinada atividade profissional revelam vivências passadas. O que fizemos com assiduidade no pretérito, faremos com desenvoltura no presente.

4 – Podemos dizer que o melhor profissional será sempre aquele vinculado a atividades que exercitou anteriormente?

É algo ponderável. Não obstante, mais importante que a habilidade conquistada no passado é o empenho do presente. O melhor profissional nem sempre é o mais experiente, mas o mais dedicado.

5 – Não seria produtivo que, além da dedicação, procurássemos nos vincular a atividades para as quais temos facilidade, em virtude das experiências do pretérito?

Em termos, considerando-se que a própria evolução da sociedade humana impõe novas opções. Isso ocorre particularmente na atualidade, em que o trabalho braçal vai sendo substituído pela tecnologia. Hoje somos chamados ao exercício da inteligência, em atividades ligadas à informática, a partir da revolução disparada pelos computadores. Isso tudo constitui novidade para nós.

6 – A genética tem algo a ver com a habilidade profissional?

Pode acontecer. Notamos que determinados profissionais possuem uma estrutura física adequada ao exercício de sua profissão. Grandes cirurgiões, por exemplo, têm um sistema nervoso bastante estável e grande habilidade manual, fundamentais à cirurgia.

7 – Isso seria determinado pelo acaso, na combinação dos elementos hereditários?

Deus não combina elementos hereditários como quem joga dados, mesmo porque a biologia é instrumento de Deus, não a sua limitação.

8 – Como Deus atua, biologicamente, para preparar o corpo de um cirurgião?

Técnicos da espiritualidade estudam os componentes genéticos dos pais e selecionam aqueles que melhor se ajustem às necessidades do reencarnante, dando-lhe uma estrutura física adequada à atividade que irá exercitar. 
SEM IDOLATRIA
Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: O Espírito da Verdade. Lição nº 72. Página 166.

“Não vos façais, pois, idólatras”... Paulo (I Coríntios, 10: 7)

Núcleos religiosos de todos os tempos e mesmo certas práticas, estranhas à religião, têm usado a Idolatria como tradição fundamental para manter sempre viva a chama da fé e o calor do ideal.

O hábito vinculou-se tão profundamente ao espírito popular que, em plena atualidade, nos arraiais do Espiritismo Cristão, a desfraldar a bandeira da fé raciocinada, às vezes, ainda encontramos criaturas tentando a substituição dos ídolos inertes pelos companheiros de carne e osso da experiência comum, quando chamados ao desempenho da responsabilidade mediúnica.

Urge, desse modo, compreendermos a impropriedade da idolatria de qualquer natureza, fugindo, entretanto, à iconoclastia e à violência, no cultivo do respeito e da compreensão diante das convicções alheias, de modo a servirmos na libertação mental dos outros na esfera do bom exemplo.

A advertência apostólica vem comprovar que a Doutrina Cristã, em sua pureza de fundamentos, surgiu no clima da Galiléia, dispensando a adoração indébita, em todas as circunstâncias, devendo-se exclusivamente à interferência humana os excedentes que lhe foram impostos ao exercício simples e natural.

Assim, proscreve de teu caminho qualquer prurido idolátrico em torno de objetos ou pessoas, reafirmando a própria emancipação das algemas seculares que vêm cerceando o intercâmbio das criaturas encarnadas com o reino do espírito, através da legítima confiança.

Recebemos hoje a incumbência de aplicar, na edificação do bem desinteressado, o tempo e a energia que desperdiçávamos, outrora, à frente dos ídolos mortos, de maneira a substancializarmos o ideal religioso, no progresso e na educação, prelibando as realidades da Vida Gloriosa.
CAVALO, QUARENTA E UM Richard Simonetti

Sonolento, mal desperto, o marido ouviu a mulher perguntar:

– Quarenta e um é cavalo?

– Não entendi…

– Quarenta e um é cavalo?

– Por que quer saber?

– Sonhei que um alazão me dizia: – Jogue no meu número, quarenta e um.

– É minha idade… Ando escoiceando?!

– Não, meu bem, pelo contrário. Você é um amor! Sonhei mesmo. Talvez seja um convite da sorte…

– Bobagem. Nem sei se quarenta e um é cavalo.

Horas depois, o casal está no posto de gasolina, ao lado do supermercado. Ela pergunta ao frentista:

– O senhor sabe que bicho é quarenta e um?

– Cavalo.

– Meu Deus! Tem certeza?!

– Absoluta. Sempre faço minha fezinha.

Tanque cheio: quarenta e um litros.

Número da nota fiscal: final quarenta e um!

Entram no mercado. Ele tropeça numa banca. Cai um tênis no chão. Tamanho: quarenta e um!

Pagam a conta: Quarenta e um reais!

Entreolham-se, excitados.

– Aqui tem coisa! – reconhece o marido.

– É a sorte, querido. Está acenando para nós. Não podemos deixar passar a oportunidade.

Procuram o bilheteiro que faz ponto no estacionamento do mercado.

– Queremos escolher um número.

– Não vai dar. Só tenho um bilhete.

– Qual o final?

– Quarenta e um.

Compraram o bilhete inteiro!

Era para resolver de pronto todos os problemas financeiros, garantindo futuro tranquilo. À tarde, cheios de expectativa, acompanharam o sorteio pelo rádio. Empolgados, ouviram o número do primeiro prêmio. Nem sombra do quarenta e um!

Passou longe!…

Assim como eles, centenas de visionários que sonharam com um bicho ou um número, acompanharam com a mesma expectativa o sorteio, e também se decepcionaram. Alguém ganhou, provavelmente comprando um bilhete de forma aleatória, do tipo “qualquer número serve”.

Concebem as pessoas que sonham com a sorte, que na extração de uma loteria possa haver a interferência de Espíritos, a seu favor.

Admitamos que o fizessem, por exercício de telecinesia do além, influindo no resultado. Imaginemos milhares de mentores a disputarem o prêmio, interessados em resolver os problemas financeiros de seus pupilos. Seria uma briga!

Ou será que submeteriam a um poder superior suas reivindicações, para decidir quem levaria a bolada?

Há quem suponha que o próprio Criador interfere.

Qual seria o divino critério? Merecimento, não é.

Há pilantras que ganham. Necessidade, também não.

Gente rica costuma ganhar, até porque compra mais bilhetes.

Com elementar exercício de bom senso, chegamos a uma conclusão óbvia, amigo leitor: Qualquer apostador poderá ganhar, atendendo ao fato de que alguém ficará com o prêmio, não por escolha ou determinação sobrenatural, mas conforme a velha lei das probabilidades.

Se esperamos pelos favores dos Espíritos ou de Deus, saibamos que eles nos ajudam, sim, e muito!

Consideremos, entretanto, que o fazem de forma peculiar:

Enviam-nos desafios e dificuldades, lutas e contratempos, o clima próprio para nos tirar da inércia a fim de conquistarmos um prêmio muito mais valioso:

Vencer nossas próprias limitações.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014


UM CURSO BÁSICO DE VIDARichard Simonetti

Conta-se que Licurgo foi convidado a falar sobre a educação. O grande legislador de Esparta aceitou, mas pediu um ano para preparar o material que iria apresentar. Por que um homem tão sábio ocuparia tanto tempo para compor simples exposição de ideias?

Exigência aceita, prazo cumprido, ei-lo diante da multidão que compareceu para ouvir-lhe os conceitos. Trazia duas gaiolas. Numa estavam dois cães; duas lebres na outra.

Sem nada dizer, tirou um animal de cada gaiola, soltando-os. Em instantes o cão estraçalhou a lebre. Libertou em seguida os restantes. O público estremeceu, antevendo nova cena de sangue.

Surpresa: o cão aproximou-se da lebre e brincou com ela. Esta correspondeu, sem nenhum temor, às suas iniciativas.

− Aí está senhores − esclareceu Licurgo − por que pedi prazo tão extenso, preparando esses animais. O melhor discurso é o exemplo. O que mostrei exemplifica o que pode a educação, que opera até mesmo o prodígio de promover a confraternização de dois seres visceral e instintivamente inimigos.

Harmonizar o cão e a lebre para uma convivência pacífica demandou doze meses. Quanto tempo levará o espírito humano para harmonizar-se com a Vida? Milênios, sem dúvida, mesmo porque o homem terrestre vive o estágio do sonambulismo existencial, alheio às questões fundamentais: quem é? De onde veio? O que faz no Mundo? Para onde vai?

Enredado na rotina, acomoda-se em perturbador imobilismo, gerando frequentes impasses evolutivos − um estacionamento na indiferença, prisioneiro de suas mazelas.

Isso ocorre particularmente no Plano Espiritual em regiões umbralinas, onde estagiam multidões inconsequentes e indisciplinadas, sem outra motivação que a de satisfazer seus impulsos egocêntricos. Por isso a reencarnação é tão importante.

A bênção do recomeço, sem lembranças do passado, ajudando o Espírito a eliminar paixões e fixações que precipitaram seus desvios.

Esse aprendizado é marcado por uma fase sabiamente programada por Deus − a infância, período em que o reencarnante situa-se receptivo aos estímulos que recebe, passíveis de influenciá-lo em favor da própria renovação.

Os pais assustam-se ao tomarem conhecimento do assunto. Afinal, eles próprios trazem suas perplexidades e limitações. Consideremos, entretanto, que o Criador não confiaria a paternidade a pessoas inabilitadas. Seu exercício implica muito mais em consciência do que competência.

Licurgo exemplificou com competência o que pode a educação.

Pais educam seus filhos com a simples consciência de que é preciso exemplificar. Tudo o que é virtuoso, bom, justo, honesto, verdadeiro, podemos ensinar-lhes com o simples empenho de guardar comportamento compatível.

Nesse contexto assusta saber que há multidões de crianças sob os cuidados de pessoas que não têm a mínima condição para dar-lhes educação adequada, por falta de recursos e, sobretudo, porque elas próprias são deseducadas.

Pior − há crianças que vivem nas ruas, sem família, sem amparo, sem orientação, à margem da sociedade.

Que benefício colhe o Espírito que transita pela infância em tal situação, colhendo, não raro, péssimas influências?

Não estaria melhor na espiritualidade?

Não seria conveniente aguardar um berço amigo?

Podemos responder lembrando que há ótimas escolas, bem equipadas, professores competentes, instalações excelentes... E há escolas que funcionam precariamente, com escassos recursos, corpo docente sem experiência...

Talvez fosse conveniente fechar estas últimas...

Ninguém dotado de bom senso cogitaria de semelhante iniciativa. Uma escola fraca é sempre melhor do que a ausência dela.

Assim, no educandário terrestre, ainda que o ambiente não seja o ideal, que os professores sejam falhos, que as condições deixem a desejar, o Espírito estará sendo submetido ao aprendizado da dor, aos estímulos impostos pelas necessidades físicas, às depurações da enfermidade e às limitações disciplinadoras da carne. Tudo isso faz da reencarnação, em qualquer circunstância, um curso básico de vida que lhe agitará a consciência, preparando-o para o despertar da responsabilidade.