quarta-feira, 30 de julho de 2014

Precipitados no julgar – Orson Peter Carrara

Uma experiência pessoal recente levou-me a refletir novamente no quanto somos precipitados no julgar. As conclusões são apressadas, sem reflexão, e normalmente destituídas de fundamento porque desconhecedoras das razões que envolvem os fatos em si.

Isso é próprio do ser humano e pode ser aplicado a situações variadas em todos os campos do relacionamento entre as pessoas, como ou sem convivência e mesmo nos desafios próprios conosco mesmo. O problema está entre cônjuges, entre pais e filhos, entre sócios, colegas, entre familiares variados e mesmo com quem nem conhecemos. A lista vai longe...

Ocorre que o trabalho de editor leva-me a ler originais de obras a serem futuramente publicadas, para análise de conteúdo, onde posso sugerir, alterar mediante consulta, inserir ou excluir trechos e, claro, na leitura preliminar deparar-me com erros gramaticais antes de irem para o trabalho do revisor que vai ler com olhos de corrigenda para a forma gramatical correta. É outra etapa, com outro profissional.

Mas em situação recente, nessa leitura preliminar, deparei-me com muitos erros de ortografia, em palavras com grafia solidamente assimiladas pela maioria e apresentadas no texto com letras trocadas, apesar da similitude da pronúncia. Isso levou-me diretamente à atitude de crítica ao autor. Como o autor poderia ter escrito tais palavras com tais letras? Inadmissível pensava eu, em crítica ao autor.

É o caso das palavras parônimas, de significados diferentes, mas muito semelhantes na pronúncia e na grafia. Por exemplo: absorver com absolver, cavaleiro com cavalheiro, eminente com iminente, entre outros inúmeros casos existentes.

Pois bem! Em outro posterior contato, comentei por fone sobre os casos desses erros de ortografia e o autor, com tranquilidade, informou-me ter deficiência visual e que a escrita das palavras ocorre por audição e não por visão do que está escrevendo. Pronto! Corei de imediato, pensando no julgamento precipitado e na verdadeira causa da questão.

E assim somos, os seres humanos, com nossos julgamentos precipitados, sem conhecimento da autêntica razão que movem os fatos e as circunstâncias, atitudes e posturas. Esse é apenas um exemplo simples, até de confissão pessoal, mas cabível para refletirmos em quantas situações do cotidiano, privadas ou públicas, não estão enquadradas no mesmo princípio.

Será interessante, a esta altura, pensar no conteúdo dos pensamentos abaixo, constante do capítulo Críticas a Esmo, do livro Vigiai e Orai, de Carlos Bacelli:

a) Todos agem movidos pelas suas carências;

b) A fragilidade é própria do ser humano;

c) Habitualmente caímos naquilo que mais condenamos;



E a conclusão do texto é fascinante, requerendo uma pausa para pensar seriamente nas razões que nos movem: É a ignorância que nos induz a infelizes opções e equivocadas escolhas.

Como isso cabe nas situações do cotidiano! A ignorância ali não é pejorativa, é falta de conhecimento mesmo da realidade que caminha por trás dos acontecimentos e que muitas vezes não vemos. Por isso vemos as tragédias que se multiplicam em todas as áreas do relacionamento humano. O exemplo da grafia incorreta não é nada diante dos fatos que se agitam diariamente nos conflitos humanos, mas dão a ideia do que precisamos compreender mais: as motivações, as bagagens, os interesses, carências, conquistas e dificuldades estão nas causas que geram tantas angústias todo dia e nós, com nossa ignorância plena das razões que movem cada um, saímos nos julgamentos apressados, esquecidos que também aqueles que se equivocam, caem e erram, também caminho pela ignorância de alguma forma...

Como julgar? Não temos conhecimento completo da história de cada um.

Por isso a recomendação fundamental: Não julgueis!


terça-feira, 29 de julho de 2014

LIVRE-NOS DEUS - por Richard Simonetti

Qualquer estudante de sociologia sabe que a família é a célula principal da sociedade. Sua influência é decisiva na formação do indivíduo. Desajustes de comportamento costumam envolver lares desajustados. 

Desequilíbrios emocionais, vícios, violências, cada vez mais frequentes no relacionamento social guardam, quase sempre, uma história de agressividade, desrespeito e falta de amor no lar. Raros escapam aos condicionamentos do ambiente em que se situam nos primeiros anos de vida. 

No lar está a maior influência. É ali que o indivíduo passa a maior parte de seu tempo durante a infância. Estudos de comportamento demonstram que se a criança não é abraçada com frequência será um adulto incapaz de acariciar.

Se não é amada experimentará problemas para exercitar amor.

Se cresce em ambiente de palavrões tenderá ao exercício de uma linguagem obscena.

Se os pais se agridem física e verbalmente terá dificuldade para superar divergências com ponderação.

O maior problema do relacionamento familiar é a razão de cada um – sua maneira de ver as coisas, sob a ótica de suas imperfeições, gerando atritos entre o homem e a mulher, pais e filhos, irmãos e irmãs.

Diz a esposa, enfezada: – Meu marido é doutor em tudo. Está sempre certo. Não admite contestações.

Enfatiza o marido – Minha mulher é muito impertinente. Gosta de confusão. Faz tempestade em copo d’água.

Reclama o filho: – Os coroas são uns quadrados. Estão totalmente por fora e querem governar minha vida.

Se todos os membros do grupo familiar julgam-se donos da verdade fica difícil sustentar uma convivência saudável. A pretensão de superioridade azeda qualquer relacionamento e desagrega a família.

Por isso Teresa D’Avila ensinava: Toda pessoa que quer ser perfeita fuja mil vezes de dizer “eu tinha razão”, “fizeram-me uma injustiça”, “não teve razão quem fez isso”.

E acentuava: De más razões livre-nos Deus.

O passo mais importante, no empenho por decifrar o enigma de nossa personalidade está no reconhecimento de que nem sempre estamos certos em nossos julgamentos.

Ao admitir que não somos infalíveis habilitamo-nos a maravilhosas iniciativas que põem água na fervura dos desentendimentos. Há expressões mágicas em favor da harmonia doméstica:

Cometi um erro.

–Você tem razão.

– Fui indelicado.

– Peço perdão.

– Prometo mudar.

Parece simples, não é mesmo, caro leitor? 

Puro engano. Quando foi a última vez que pedimos desculpas ao cônjuge, ao filho, ao genitor, por uma palavra ou um gesto desrespeitoso? Há pessoas que jamais o fazem.

Por quê? Porque as medidas de nossos raciocínios no exercício da razão chamam-se orgulho, egoísmo, inspirando-nos a olímpica ideia de que estamos sempre certos, com a prerrogativa de dizer a última palavra.

Falta, talvez, um pouco de amor para iluminar o relacionamento afetivo e nos inspirar raciocínios menos egocêntricos.

Alguém diz: – Amo minha esposa e meus filhos. No entanto, vivemos às turras.

Ocorre que amar é algo subjetivo. Não vale grande coisa se não é expresso em ações.

Conta o escritor Tom Anderson que certa feita ouviu alguém dizer que o amor deve ser exercitado como um ato da vontade. Uma pessoa pode demonstrar amor através de gestos bem simples.

Aquilo o impressionou. Admitiu que vinha sendo egoísta e que o amor familiar havia sido obscurecido por sua insensibilidade.

Não que vivessem mal, mas poderiam melhorar muito o relacionamento afetivo se, por exemplo, parasse de repreender sua esposa Evelyn e os filhos; se não ligasse a televisão no canal de seu interesse, contrariando as expectativas do grupo familiar; se deixasse de se concentrar na leitura do jornal, sem dar atenção aos familiares.

Resolveu fazer uma experiência. Durante as férias de duas semanas, em que estariam juntos na praia, faria tudo para ser um marido e um pai carinhoso.

Logo de saída beijou a esposa e disse:

– Esse suéter amarelo fica muito bem em você.

Feliz e surpresa a esposa suspirou:

– Oh! querido, você reparou!

Logo que chegaram à praia Tom pensou em descansar. Mas a esposa sugeriu que dessem um passeio pelas imediações, andando junto ao mar. 

Ia recusar, mas lembrou da promessa que fizera a si mesmo. Foi com ela, enquanto os garotos brincavam empinando papagaios.

No dia seguinte Evelyn o convidou para visitar o museu das conchas. Tom confessa que sempre detestou museus. Mas aceitou de boa vontade, surpreendendo-se depois ao constatar que havia gostado do passeio.

Numa das noites não reclamou quando a esposa demorou para se aprontar e chegaram tarde a um jantar programado.

Assim passaram-se doze dias, que Tom considerou muito felizes. Prometeu a si mesmo que continuaria com a disposição de expressar amor. Na última noite, quando se preparavam para dormir, Evelyn estava muito triste.

– Que há meu bem? Algum problema?

– Tom – disse com voz hesitante – você sabe de alguma coisa que ignoro?

– Por que pergunta isso?

– Bem, fiz aqueles exames rotineiros há duas semanas. Segundo o médico estava tudo bem. Disse algo diferente para você?

– Não querida, não disse nada. Está tudo ótimo. Por quê?

– É que está sendo tão bom para mim que imaginei estar com uma grave doença, que ia morrer...

– Não, querida – respondeu Tom sorrindo – você não está morrendo. Eu é que estou começando a viver.

Diz Pascal que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Poderíamos interpretar de várias formas suas palavras. Fundamentalmente diríamos que toda a razão do mundo está num coração capaz de demonstrar amor.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

O FATOR HUMANO - por Richard Simonetti

Sinval impressionara-se com a morte de Antonio, um trombadinha de treze anos, nas proximidades de sua casa. Fora baleado pela polícia após um assalto.

Na reunião mediúnica do Centro que frequentava indagou ao mentor quanto à possibilidade de conversar com o protetor espiritual do morto. Solicitação atendida, em breves momentos manifestava-se Bento que, após as saudações iniciais, dispôs-se a responder às indagações de Sinval.

– Antonio veio para existência breve?

– A intenção era situá-lo por aproximadamente seis decênios na carne.

– Poderia nos dizer sobre o planejamento feito em seu benefício?

– Não houve possibilidade de ampla planificação para as experiências terrestres de Antonio, por faltar-lhe a disciplina e o discernimento necessários para assumir compromissos. Enfrentamos muitas dificuldades, a começar com Rita, sua mãe. Trabalhamos durante meses com ela, pelos condutos da inspiração, buscando demovê-la da ideia de abortar. Se não queria o filho, que o entregasse a um casal que pudesse adotá-lo.

– Já havia uma escolha quanto aos pais adotivos?

– Seriam Gaudêncio e Nádia, companheiros de Antonio em existências anteriores. A condição de filho adotivo ser-lhe-ia preciosa experiência.

– E como foi o encontro?

– Logo após o nascimento do menino guiamos os passos de Rita até o lar escolhido, em cuja porta o dei­xou. Suavemente envolvidos por nossa influência, Gaudêncio e Nádia emocionaram-se com o recém-nas­cido e cogitaram imediatamente da adoção, contando com entusiasmado apoio dos dois filhos. Contudo...

– Houve problemas?

– Simplesmente desistiram, empolgados por varia­das dúvidas, a considerarem que um novo filho repre­sentaria mais trabalho, maiores responsabilidades... Du­rante anos tentamos localizá-lo em outro lar. Sabíamos que sem uma família disposta a ampará-lo ele teria difi­culdades para superar suas fraquezas. Imaturo, seria ten­tado a resolver seus problemas partindo para a delinquência. Foi exatamente o que aconteceu, desde os nove anos quando fugiu do orfanato onde fora internado.

Sinval ouvia comovido a narrativa. Várias inda­gações fervilhavam em sua mente.

– Poderíamos dizer que a equipe que trabalhou em favor de Antonio, da qual o irmão participa, agiu como instrumento de Deus?

– Sempre que nos propomos ao exercício do Bem e o fazemos de maneira consciente e disciplinada, o Senhor nos tem por preciosos auxiliares.

– Assim sendo, era da vontade de Deus a adoção por parte de Gaudêncio e Nádia?

– Sem dúvida.

– Por que, então, não deu certo?

– Deus nos outorgou o livre-arbítrio, afim de que se­jamos responsáveis por nossos atos e donos de nossa vi­da. Por isso, o cumprimento dos desígnios divinos, na la­voura do Bem, depende da boa vontade dos homens.

– Isso significa que em todo planejamento da Espiritualidade Maior nesse sentido, há que se considerar o fa­tor humano?

– Sim, e reside o grande problema, porquanto os homens sensibilizam-se ante os apelos da Divindade, mas se deixam seduzir por suas próprias vacilações. Pro­clama velho aforismo que o homem propõe e Deus dis­põe; no entanto, em relação às iniciativas mais nobres, não raro ocorre o inverso: Deus propõe e o homem dis­põe, recusando-se a cumprir as diretrizes do Alto.

– É frequente o descumprimento da Vontade Divi­na em relação às crianças que nascem na Terra?

– Para saber exatamente basta calcular a quantidade de menores com problemas semelhantes aos de Anto­nio. Toda criança abandonada exprime o fator huma­no, à distância dos programas de Deus.

– E quanto a Antonio?

– No momento experimenta grande turvação men­tal, em instituição socorrista da Espiritualidade. Oportu­namente tentaremos nova experiência para ele na carne, buscando sensibilizar almas generosas que se dispo­nham a ajudá-lo...

O mentor despediu-se, enquanto Sinval ficava a meditar como é difícil cogitar das iniciativas divinas em favor dos homens, enquanto cada homem estiver interessado em seu próprio bem-esta 

Ao abrigo da jornada terrestre, atendendo a cuidadosas diretrizes de mentores espirituais, cruzamos com companhei­ros de experiências passadas que hoje nos são confiados para trabalhos redentores.

Um filho inesperadamente concebido, uma criança para adoção, o familiar ao desamparo, o amigo em dificuldade...

Se não estivermos atentos, cérebro iluminado pela reflexão, coração aquecido pela fraternidade, deixaremos passar o ensejo de ajudar, com perda preciosa de tempo.

E acrescentaremos débitos a nossa conta existencial na medida em que, por falta de nosso apoio, desviem-se dos roteiros do Bem aqueles aos quais nos competia amparar.

quarta-feira, 23 de julho de 2014


Uma página apenas – Orson Peter Carrara

A Natureza é a grande mestra. Só ela contém a verdade, e todo aquele que saiba vê-la, com olhar filosófico, desven­dar-lhe-á os secretos tesouros ocultos aos ignorantes. As leis que regem a evolução proteiforme da matéria física ou vivente atestam que nada aparece súbita e perfeitamente acabado.

O sistema solar, o nosso planeta, os vegetais, os animais, a linguagem, as artes, as ciências, longe de traduzirem rebentos espontâneos, são antes o resultado de longa e gradual ascensão, a partir das mais rudimentares formas até às modalidades hoje conhecidas.

Lei geral e absoluta, dela não poderia aberrar a alma hu­mana constituir uma exceção. Essa alma, vemo-la, passa na Terra pelas mais diversas fases, desde as humílimas e incipientes concepções dos silvícolas, até as esplêndidas florações do gênio nas nações civilizadas.

Deverá nosso exame retrospectivo deter-se aí? Deveremos crer que essa alma, que manobra no homem primitivo um orga­nismo tão complicado, tenha podido, de súbito, adquirir propriedades tão variadas e tão bem adaptadas às necessidades do indivíduo?

O compacto texto acima é do escritor francês Gabriel Dellane. Peço ao leitor ler novamente e com bastante atenção. Ele mostra o real aspecto das sucessivas transformações que vemos a natureza realizar, inclusive em nosso próprio corpo. É o que também ocorre conosco como individualidades, não restrito à questão do corpo e suas naturais transformações, mas refiro-me às transformações morais, intelectuais, emocionais, psicológicas e do permanente aprendizado advindo das experiências sucessivas que nos aprimoram.

Uma transformação real, na conquista de virtudes e no aprimoramento intelectual ou na segurança psicológica e emocional é impossível durante os poucos anos de uma única existência, por mais longa que seja.

Carregamos conosco ainda, como seres humanos, traumas e carências, manias e imperfeições morais que são as causadoras das perturbações individuais e seus lamentáveis desdobramentos e do caos social que mostra violência, corrupção e insegurança.

Considerando a sabedoria, bondade e perfeição do Criador, nossa condição de seres imortais e a necessidade real de continuarmos aprendendo, não é mais lógico pensar numa continuidade natural das experiências de aprendizado?

Como disse o autor francês, como adquirir de súbito virtudes e conhecimentos que não integram nossa personalidade? A própria lógica e o bom senso indicam que é na continuidade do tempo que isso se fará. Como o tempo é infinito, ele trará essas oportunidades em épocas que naturalmente se renovarão. É só raciocinar mais um pouco. Se a própria dinâmica de vida e seus acontecimentos já é assim, nas transformações gradativas, porque seria diferente com as individualidades?

É preciso dar tempo ao tempo...

E pela mesma razão começamos a compreender causas e consequências, causa e efeito de tantas situações, encontros, reencontros, desajustes e impedimentos de toda ordem que ora se apresentam e que outra não é a causa senão a estreita relação entre as experiências vividas pelo mesmo ser, em épocas, lugares e situações totalmente diferentes. Por isso também a prudência hoje para evitar arrependimento e lágrimas nos dias que inevitavelmente virão. É muito melhor agir hoje com discernimento, bondade e bom senso do que colher amanhã os resultados dos descuidos de hoje.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lema que define programa – Orson Peter Carrara
                Semana passada abordamos alguns trechos do Hino à Bandeira. Foi bom que publicado antes da confirmação do vexame nacional da seleção brasileira. Assim não vinculamos a bandeira apenas a jogos de futebol. O episódio lamentável da Copa deixou muitas lições à nação, desde a do cuidado que se deve ter com planejamentos e disciplina, até à renúncia a tolas vaidades do “oba-oba” e seus desdobramentos. Isso sem falar dos supostos desvios e superfaturamentos nas reformas e construções dos estádios, outro lamentável episódio da história brasileira. São lições duras que teremos ainda de mastigar devidamente.
                Mas, é claro, as lições não foram apenas desagradáveis. Houve lições verdadeiras de cidadania – como, por exemplo, os japoneses retirando lixo dos estádios – e os saudáveis desdobramentos do intercâmbio internacional. O Brasil não foi elogiado pela beleza dos estádios, mas pela postura do povo, pelo carinho e acolhida, pela alegria brasileira. Isto é marcante, belo, e deve figurar entre os motivos reais de nossa sensibilidade para viver a fraternidade. Felizmente os esperados incidentes e manifestações violentas não ocorreram e os isolados casos de violência não fugiram à rotina diária do cotidiano.
                Detenho-me, hoje, porém, no lema que figura em nossa bandeira. O lema de nossa bandeira, o “Ordem e Progresso” – lema político do positivismo e abreviatura do lema do positivista francês Augusto Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, cujo sentido é a realização dos ideais republicanos, ou seja, a busca de condições sociais básicas e ao melhoramento do país – bem indica uma síntese das Leis de Amor que regem o Universo e convida a uma nova postura coletiva, a iniciar-se, naturalmente, pela individualidade que compreende e age...
Afinal, já não é hora de sairmos desse círculo vicioso de corrupção e desvios dos verdadeiros objetivos do Amor, da Ordem e do Progresso?
Viciamos num sistema que só gera violência. Mais que político, o sistema ideal é o do cumprimento do dever, em respeito à cidadania ao bem estar coletivo.
Agora que passou a Copa e aí estamos à beira das eleições, cumpre observar mais atentamente o sério compromisso do voto, quando a visão deve estar voltada para os interesses coletivos e nunca para os interesses partidários ou individuais, ou de grupos.
Como eleitor, candidato ou eleito, o dever é o mesmo: respeito e amor à Pátria. E isso significa comprometimento com os interesses nacionais e nunca a busca do conhecido “tirar proveito”, onde está inserida a demissão do egoísmo, a renúncia às tolas vaidades e, claro, o pulso firme de direcionar nossa caminhada para o bem de todos.
Isto é noção exata de fraternidade!
Convidemo-nos mutuamente, sem medo, de olhar a bandeira e repensar sua beleza artística, mas também prestarmos atenção em seu lema: Ordem e Progresso!
É um lema que define o programa da nação!

terça-feira, 15 de julho de 2014

A SURRA QUE LEVAMOS - Richard Simonetti       
No Evangelho de Marcos (11:24), diz Jesus, referindo-se à oração:

          Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes.
         Os fatos parecem contrariar essa promessa do Mestre, porquanto é muito comum que nossos anseios, expressos em oração, não sejam atendidos, como se Deus fizesse ouvidos moucos.  É fácil explicar essa aparente contradição.

          Deus nunca deixa de nos ouvir e atender, mas há um detalhe:

         Pedimos o que queremos; Deus nos dá aquilo de que necessitamos.
         Por isso nem sempre nossos desejos guardam consonância com os desígnios divinos.
         Em O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo 27, diz Allan Kardec:

          Desta máxima: “Concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece”, fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem.

         É como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses.
         Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura.
         Raciocínio perfeito, que lembra o velho ditado: Há males que vêm para bem. Ou, se o leitor preferir, Deus escreve certo por linhas tortas.

          Uma cirurgia, em princípio, é algo ruim, mas objetiva sempre um bem, a cura do mal que aflige o paciente, restituindo-lhe a saúde.

         O adolescente rebelde ficará aborrecido com o pai por não lhe dar a sonhada motocicleta, mas reconhecerá mais tarde que a recusa paterna lhe preservou a integridade, em face de sua imaturidade.
         Certamente muitos torcedores brasileiros ficaram aborrecidos com Deus, na semana passada.

          Pediram ao Senhor que Fred fizesse muitos gols e Júlio César defendesse todas as bolas no jogo com a Alemanha. O Senhor fez o contrário.

         Reflitamos, leitor amigo:

         Não será a surra que levamos do poderoso time alemão um divisor de águas, um estímulo para pensarmos em assuntos mais importantes?

         Não será uma das alavancas para acordar o povo e contribuir para a mudança de foco, voltando a atenção para os problemas do país?

         A dona de casa displicente costuma varrer o pó para debaixo do tapete, eximindo-se do trabalho de coletá-lo e descartá-lo devidamente.

          A Copa do Mundo no Brasil foi um imenso e vistoso tapete, tecido sobre o ufanismo nacional em torno do hexa, sob o qual se pretendia acobertar as mazelas nacionais, particularmente nos setores da educação, da saúde, da segurança, bem como da entranhada corrupção política...

         Cabe-nos agora a oração, muita oração, milhões de orações, pedindo a Deus que nos dê o que nunca negará: disposição de trabalhar por um Brasil melhor!
         Um Brasil sem baderna, sem queima de ônibus, sem depredação de imóveis, sem corrupção, sem conturbação, sem atitudes irresponsáveis, com a sustentação da ordem e do progresso exaltados na bandeira nacional!

          Um Brasil com os valores de um comportamento legitimamente cristão, em que assumamos nossas responsabilidades como cidadãos brasileiros, conscientes de que nosso país melhorará sempre que melhorarmos!

domingo, 13 de julho de 2014

CONQUISTANDO A PAZ

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Paciência. Lição nº 15. Página 74.

Existem tribulações e tribulações...

Para extinguir aquelas que conturbam a vida, comecemos a cooperar na construção da paz onde estivermos.

Necessitamos, porém, conhecer as farpas que entretecem as inquietações que nos predispõem ao desequilíbrio e ao sofrimento.

Vejamos algumas:

- a queixa contra alguém;

- a reclamação agressiva;

- o palavrão desatado pela cólera;

- a resposta infeliz;

- a frase de sarcasmo;

- o conceito depreciativo;

- o apontamento malicioso;

- o gesto de azedume;

- a crítica destrutiva;

- o grito de desespero;

- o pensamento de ódio;

- a lamentação do ressentimento;

- a atitude violenta;

- o riso escarninho;

- a fala da irritação;

- o cochicho do boato;

- o minuto de impaciência;

- o parecer injusto;

- a pancada verbal da condenação...

Cada espinho invisível a que nos reportamos é comparável à chispa capaz de atear o incêndio da discórdia. E ganhar a discórdia não aproveita a pessoa alguma.

Tanto quanto possível, aceitemos as tribulações que a vida nos reserve e saibamos usar o amor e a tolerância, a paciência e o espírito de serviço para que estejamos realmente conquistando os valores e bênçãos da paz.

Não esperes que o próximo te solicite cooperação. Colabora voluntariamente, na certeza de que estarás realizando valiosas sementeiras de trabalho e de amor, na construção do futuro melhor.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

DEUS TE ABENÇOE

Pelo Espírito Hilário Silva. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: O Espírito da Verdade. Lição nº 06. Página 25.

Logo após fundar o Lar “Anália Franco”, na cidade de São Manuel, no Estado de São Paulo, viu-se D. Clélia Rocha em sérias dificuldades para mantê-lo.

Tentando angariar fundos de socorro, a abnegada senhora conduzia crianças, aqui e ali, em singelas atividades artísticas. Acordava almas. Comovia corações. E sustentava o laborioso período inicial da obra.

Desembarcando, certa noite, em pequena cidade, foi alvo de injusta manifestação anti-espírita. Apupos. Gritaria. Condenações.

D. Clélia, com o auxílio de pessoas bondosas, protege as crianças. Em meio à confusão, vê que um moço robusto se aproxima e, marcando-lhe a cabeça, atira-lhe uma pedra.

O golpe é violento. O sangue escorre. Mas a operosa servidora do bem procede como quem desconhece o agressor. Medica-se depois.

Há espíritas devotados que surgem. D. Clélia demora-se por mais de uma semana, orando e servindo.

Acabava de atender a um doente em casa particular, quando entra senhora aflitíssima. É mãe. Tem o filho acamado com meningite e pede-lhe auxílio espiritual.

D. Clélia não vacila. Corre ao encontro do enfermo, e surpreendida, encontra nele o jovem que a ferira.

Febre alta. Inconsciência. A missionária desdobra-se em desvelo. Passes. Vigílias. Orações. Enfermagem carinhosa. Ao fim de seis dias, o doente está salvo.

Reconhece-a envergonhado e, quando a sós, beija-lhe respeitosamente as mãos e pergunta: - A senhora me perdoa?

Ela, contudo, disse apenas, com brandura:

- Deus te Abençoe, meu filho.

Mas o exemplo não ficou sem fruto, porque o moço recuperado fez-se valoroso militante da Doutrina Espírita e, ainda hoje, onde se encontra é denodado batalhador do Evangelho.

quarta-feira, 9 de julho de 2014


Olhai a bandeira! – Orson Peter Carrara

                 O notável Olavo Bilac (1865 – 1918) – jornalista, escritor e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras e muito conhecido por sua atenção à literatura infantil e especialmente por sua participação cívica – é o autor da belíssima letra do Hino à Bandeira. A música é de Francisco Braga (1868 – 1945), que foi compositor, regente e professor.
                Detenho-me, porém, na letra do hino. Nesses tempos em que nossa bandeira está exposta com grande destaque em virtude da Copa do Mundo, é preciso meditar sobre a importância desse valioso símbolo oficial da República Federativa do Brasil. E de seu hino.

                Apresentado pela primeira vez em 1906, a letra do hino representa um apelo vivo ao civismo, sentimento um tanto esquecido e tão necessário a todos nós. Parece-nos que só nos lembramos dos hinos, entre eles o incomparável Hino Nacional, em jogos de futebol e, infelizmente, já não se canta mais o hino nas escolas, procedimento lamentável da educação brasileira.

                Estive palestrando na AFA – Academia da Força Aérea, em Pirassununga-SP, e, ao deparar-me com o desfile dos cadetes, ouvindo os hinos cívicos do país, detive-me na letra de autoria de Bilac. Peço ao leitor pensar comigo em alguns trechos:

a)    Salve lindo pendão da esperança!

Salve símbolo augusto da paz

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.

Já parou o leitor para pensar na importância e alcance dessas afirmações? Pendão da esperança, símbolo da paz, lembrança da grandeza da Pátria. Como podemos esquecer a querida Pátria que nos acolhe? O conjunto harmonioso de cores e figuras geográficas reunidas na bandeira inspira-nos realmente esperança, lembra a grandeza da Pátria...

Mais adiante encontramos essa pérola de consciência cívica:

b)    Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever,

E o Brasil por seus filhos amado,

poderoso e feliz há de ser!

 Diante do momento difícil que o país atravessa, como está nosso dever perante a Pátria ou só ficamos no canto do Hino Nacional em jogos de futebol?

Essa compreensão do dever pátrio para fazermos um país feliz e poderoso (claro que não restrito a riquezas materiais), convoca-nos a uma consciência cívica mais intensa do que aquela que estamos vivendo.

Convido o leitor a pensarmos juntos nessa responsabilidade individual e coletiva perante os abusos todos que temos presenciado com a corrupção e desmandos de toda ordem, que resultam em violências e tudo mais que estamos vendo, indicando falta de amor ao país, com total ausência de patriotismo e civismo. Não sejamos desses que desrespeitam a nacionalidade.

Assistindo o desfile militar, pensando nas grandezas do país, fui às lágrimas ao pensar no sentimento de gratidão que deve brotar em todos nós diante da riqueza do país onde estamos, infelizmente ainda não no caminho que lhe cabe. Ouvir o Hino Nacional, que comove a todos durante jogos de futebol, deve estar em nossos corações como autêntica prece diária de gratidão e estímulo ao trabalho em favor da Pátria. Notem os leitores que as letras de nossos hinos revelam verdadeiros programas de ação que podem nos inspirar e conduzir diante de tão complexos desafios da atualidade. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

CHEIRO DE LAMPARINA - Richard Simonetti
Conta o historiador grego Plutarco (46-119), que Demóstenes (384-322 a.C.), um dos grandes mestres da eloquência no mundo antigo, experimentava, quando jovem, sérias limitações com a palavra.

Não parecia destinado a brilhar na tribuna. Teve que empregar grande força de vontade para superar limitações que no início de sua carreira o submeteram ao vexame de ser vaiado pelos auditórios onde discursava como advogado.

Buscando corrigir graves defeitos de dicção, declamava, solitário, intermináveis discursos, retendo seixos na boca. Não raro o fazia à beira-mar, esforçando-se por elevar a potência da voz acima do marulhar das ondas, habilitando-se a dominar os clamores da multidão.

Costumava encostar o peito à ponta de uma espada, obrigando-se a corrigir certos movimentos desordenados do seu corpo, quando falava. Trancava-se em casa por meses, estudando, trabalhando, aprimorando-se incessantemente. Chegou a copiar a vasta obra do historiador Tucídedes (465-404 a.C.), oito vezes!

Com sua persistência adquiriu as virtudes que fizeram dele o mais brilhante orador da antiguidade.

         Piteas, um de seus opositores, zombava dele, dizendo que seus dons “cheiravam a lamparina”. Não eram naturais. Exigiam esforço.

         Antes do advento da lâmpada elétrica, usava-se a lamparina, rústica luminária, em que um pavio aceso fornece luz, alimentado por óleo inflamável. Iluminação precária. Era necessário tê-la bem perto do texto quando se pretendia a leitura noturna. Daí a expressão “queimar as pestanas” para definir alguém que se dedica intensamente ao estudo.
         Respondendo à observação mordaz, Demóstenes informou que, se bem usada, a lamparina era um poderoso instrumento de aprimoramento intelectual, algo que pessoas como Píteas, não habituadas ao estudo, desconheciam. Por isso, em relação aos resultados, havia uma grande diferença no trabalho de ambos.

A posteridade demonstraria o acerto de suas afirmações. Demóstenes será sempre lembrado por sua cultura, pelos dons de oratória que conquistou. Quanto a Piteas, quem ouviu falar dele?

         O relato de Plutarco nos remete a uma questão importante:

          A genialidade é inata ou fruto de esforço?

          À luz da reencarnação, ficamos com a segunda opção. Trata-se de uma conquista.

O gênio de hoje foi o aprendiz de ontem, desde o passado remoto. Cultivou experiências, aprimorou técnicas, acumulou conhecimentos… São realizações inalienáveis do Espírito imortal, que se exprimem, no suceder das existências, em tendências e vocações inatas.

         Gênios artísticos como Rafael, Miguel Ângelo, Bach, Mozart, Beethoven, exprimiam em sua arte o aprendizado de múltiplas romagens terrestres.

          Diz Buffon: O Gênio não passa de uma longa paciência.

Emmanuel, em psicografia de Chico Xavier, passa a mesma ideia: O gênio é a paciência que não acaba.

         Ninguém está condenado à mediocridade perene.

Todos, sem exceção, podemos crescer em qualquer atividade, tornando-nos produtivos, talentosos, competentes… Com esse empenho, amanhã ou dentro de séculos, conquistaremos a genialidade.

         Importante não esmorecer, não deixar para amanhã, não transferir para um futuro incerto o que podemos e devemos fazer hoje. Mister aprender sempre, produzir cada vez melhor, ampliar horizontes culturais, mentais, morais, espirituais… Melhor hoje que ontem! Melhor amanhã que hoje! Melhorar sempre!

         Alguns dos piores males humanos estão relacionados com a indolência e o desinteresse que marcam as almas imaturas, ainda não conscientes do fundamental:

 Não há vida em plenitude sem plena utilização de nossas potencialidades criadoras, a partir do empenho em queimar as pestanas.

sexta-feira, 4 de julho de 2014


NA  GRANDE  ESCOLA

Emmanuel

        A Terra é uma grande e abençoada escola, em cujas classes e cursos, nos matriculamos, solicitando — quando já possuímos a graça do conhecimento — as lições necessárias à nossa sublimação. 

       Todas as matérias que constituem o patrimônio do educandário, se aproveitadas por nossa alma, podem conduzir-nos aos resultados que nos propomos atingir. 

       Não existe, porém, ensinamento gratuito para a comunidade dos aprendizes.

       Cada aquisição tem o preço que lhe corresponde.

       A provação da riqueza é sedutora, mas repleta de perigos cruéis.

       A passagem na pobreza é simples e enternecedora, contudo oferece tentação permanente ao extremo desespero.

       O estágio na beleza física é fascinante, entretanto, mostra escuros abismos ao coração desavisado.

       A demora no poder é expressiva, todavia, atrai dificuldades infernais, que podem comprometer o nosso futuro.

       O ingresso na cultura da inteligência favorece a posse de verdadeiros tesouros, no entanto, nesse setor, o orgulho e a vaidade representam impertinentes verdugos da alma.

       A estação de calmaria na vida familiar é tempo doce e agradável ao espírito, mas aí, dentro, no oásis do carinho, o monstro do egoísmo pode enganar-nos o coração.
       Em qualquer parte onde estiverdes, acordai para o bem!... 

       Recordai que o ouro e a intelectualidade, os títulos e as honras, as aflições e os sofrimentos, as posses e os privilégios são meros acidentes no longo e abençoado caminho evolutivo.

       Lembrai-vos de que a vida é a eternidade em ascensão e não vos esqueçais de que, em qualquer condição, só no cultivo do amor puro, conseguireis edificar para a vitoriosa imortalidade. 

Livro: Taça de Luz – Ed. LAKE - Emmanuel – Chico Xavier

quinta-feira, 3 de julho de 2014

PALAVRAS AOS ENFERMOS

Pelo Espírito Neio Lúcio. Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Livro: Através do Tempo. Lição nº 18. Página 57.

Psicografia em reunião pública em 01/03/1950 no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na cidade de Pedro Leopoldo - Minas Gerais.

Toda enfermidade do corpo é processo educativo para a alma.

Receber, porém, a visitação benéfica entre manifestações de revolta é o mesmo que recusar as vantagens da lição, rasgando o livro que no-la transmite.

A dor física, pacientemente suportada, é golpe de buril divino realizando o aperfeiçoamento espiritual.

Tenho encontrado companheiros a irradiarem sublime luz do peito, como se guardassem lâmpadas acesas dentro do tórax.

Em maior parte, são irmãos que aceitaram, com serenidade, as dores longas que a Providência lhes destinou, a benefício deles mesmos.

Em compensação, tenho sido defrontado por grande numero de ex-tuberculosos e ex-leprosos, em lamentável posição de desequilíbrio, afundados muitos deles em charcos de treva, porque a moléstia lhes constituiu tão somente motivo à insubmissão.

O doente desesperado é sempre digno de piedade, porque não existe sofrimento sem finalidade de purificação e elevação.

A enfermidade ligeira é aviso.

A queda violenta das forças é advertência.

A doença prolongada é sempre renovação de caminho para o bem.

A moléstia incurável no corpo é reajustamento da alma eterna.

Todos os padecimentos da carne se convertem, com o tempo, em claridades interiores, quando o enfermo sabe manter a paciência, aceitando o trabalho regenerativo por bênção da Infinita Bondade.

Quem sustenta a calma e a fé nos dias de aflição, encontrará a paz com brevidade e segurança, porque a dor, em todas as ocasiões, é a serva bendita de Deus que nos procura, em nome d´Ele, a fim de levar a efeito, dentro de nós, o serviço da perfeição que ainda não sabemos realizar.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

PARA DESATIVAR EXPLOSIVOS -    Richard Simonetti                                

         Ouvistes o que foi recomendado aos antigos: “Não matarás” e “quem matar, estará sujeito a jul­gamento”. Eu, porém, vos digo que quem quer que se encha de cólera contra seu irmão, estará sujeito a julgamento; que aquele que disser a seu irmão: ‘Raca’, estará condenado pelo tribunal; e que aquele que lhe disser: ‘És louco’, merecerá conde­nação ao fogo do inferno. (Mateus, 5:21 e 22.)

         Sentenciando: Ouvistes o que foi recomendado aos anti­gos, Jesus refere-se às escrituras sagradas do Judaísmo, para citar determinado trecho que irá abordar. Em seguida, usando outra expressão: Eu, porém, vos digo, enunciava ensinos que alterariam substancialmente conceitos temporais superados pela sua moral ou dar-lhes-ia um alcance maior, oferecendo ao homem uma vi­são mais clara de si mesmo e uma responsabilidade mais bem definida em relação ao semelhante.

Aqui Jesus ensina que cometemos falta, não apenas quando matamos alguém, mas também quando nos encoleriza­mos contra o próximo, quando colocamos em dúvida sua sanidade mental ou quando o desprezamos, o que os judeus faziam pro­nunciando a palavra raca – que significava homem sem ne­nhum valor –, e enunciavam-na cuspindo de lado para deixar bem claro que a pessoa não merecia nenhuma consideração.

Embora fora do alcance da justiça humana, esse tipo de comportamento é de uma violência arrasadora,  capaz de matar, na vítima, o bom humor, a coragem, a alegria, a estabilidade íntima. Há indivíduos tão agressivos que conseguem aniquilar nas pessoas a própria vontade de viver.

Por isso, sempre que a nossa palavra se transformar em estilete agudo, contundente, a ferir o semelhante, estaremos en­quadrados como matadores do sossego alheio, a nos impor estágios depuradores de inquietação e angústia em penitenciárias interiores, situadas em nossa própria consciência.

Há quem diga: – Quando me exaspero com alguém é porque já me aborreceu ou prejudicou tanto, que feriu mortalmente mi­nha paciência.

Semelhante raciocínio revela total desconhecimento dos princípios evangélicos. Segundo Jesus, a base fundamental de nossa estabilidade íntima não é o que os outros nos fazem, mas o que fazemos aos outros. O mal atirado em nossa direção somente nos atingirá na proporção em que lhe oferecermos guarida e nos propusermos a usá-lo em revide.

Se alguém nos remete uma bomba pelo correio e souber­mos qual o conteúdo do pacote, seremos tolos se nos dispuser­mos a abri-lo. O mesmo acontece com as injúrias que nos fazem. São bombas perigosas, capazes de colocar em risco nossa própria saúde. Por que recebê-las, reagindo negativamente? A atitude mais acertada é a compreensão. Se procurarmos ver no remeten­te alguém certamente perturbado por problemas e desajustes que lhe inspiram tal agressividade, teremos condições para desativar a bomba, preservando o próprio equilíbrio.

Num conges­tionamento de tráfego, provocado por desarranjo em veículo à frente, será inútil ficarmos buzinando impacientes. Melhor será ajudar o motorista a resolver seu problema para que possamos prosseguir a viagem. O mesmo acontece no relacionamento hu­mano. Não raro as pessoas atravessam nosso caminho, estaciona­das na perturbação, trazendo-nos constrangimento e mágoa. Não adianta fazer soar buzinas de irritação. É fundamental usemos de compreensão e nos disponhamos a deixar o carro do melindre e do ressentimento, tratando de ajudar o companheiro, a fim de que nos libertemos.

Toda moral evangélica se funda num ponto essencial: nos­sa felicidade está subordinada não ao que recebemos, mas ao que damos. Aqueles que justificam sua agressividade, sua impaciên­cia, seus desajustes, atribuindo-os ao comportamento alheio, ain­da não aprenderam nem apreenderam nada do Evangelho.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Quatro e cinco de julho – Orson Peter Carrara

                Em meio à ocorrência da Copa do Mundo, que movimenta a mídia e consegue mudar a rotina diária, as datas de 4 e 5 de julho representam fatos importantes da história que merecem ser lembrados. Acompanhe comigo:

a) 4 de Julho: em 1776 – Declarada a Independência dos Estados Unidos; em 1865 – publicado o famoso livro infantil Alice no País das Maravilhas; em 1947 – nascimento de Luciano do Valle; em 1934, falecimento de Marie Curie; em 1948, falecimento de Monteiro Lobato e em 1955, falecimento de Albert Einstein.

b) 5 de julho: em em 1182 – nascimento de Francisco de Assis; em 1811 – Independência da Venezuela; em 1942 – Independência da Argélia e em 1975 – Independência de Cabo Verde.


Claro que nas duas datas citadas existem inúmeros outros fatos históricos, entre cívicos, de nascimentos e mortes, mas apesar da seleção acima – aleatória e sem desprezo para outros fatos ao longo da história nas duas datas em referência, proposito mesmo foi destacar duas personalidades marcantes: Francisco de Assis e Marie Curie. Claro que sem esquecer Lobato, Einstein e mesmo nosso marcante Luciano do Valle. Aliás, dos fatos acima citados, cada um deles constitui farto material de pesquisa e abordagens. Mas o foco foi mesmo Francisco e Marie.

A história de Francisco é muito mais conhecida e retrata uma das almas mais evoluídas que já pisou no planeta após o próprio Cristo. Seu legado de desprendimento e amor é incalculável na sensibilização do ainda duro e egoísta coração humano. A conhecida Oração de Francisco de Assis retrata sua grandeza moral e o amor que emanava dessa alma cândida e perfeitamente tocada pela essência do Evangelho. Conhecer sua história é trazer para o próprio coração a beleza e a profundidade da mensagem de Jesus.

Por outro lado, nem tanto conhecida, Marie Curie foi uma cientista polonesa, que trabalhou na França. Foi a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com um Prêmio Nobel. De Física, em 1903 – dividido com seu marido Pierre Curie e Becquerel, pelas descobertas no campo da radioatividade e com o de Química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio. O que pouco se fala dessa extraordinária mulher foi o sacrifício a que se submeteu nas pesquisas a que se dedicou, com grande benefício para a Humanidade.

Nosso objetivo aqui é estimular o leitor a pesquisar sobre a vida dessa extraordinária mulher – mesmo porque inviável no pequeno espaço de um artigo – e também convidar a todos nós – eu me incluo, claro – a meditarmos mais sobre a Oração de Francisco de Assis. Parece-nos que os tempos bicudos do presente estão a nos indicar o doce convite de Assis.

Afinal, se pensarmos bem – refletindo com profundidade – fazer-nos instrumento de paz, mais consolar que ser consolado, mais compreender do que ser compreendido, mais amar que ser amado, ou levar a alegria, esperança, perdão, entre outras virtudes apresentadas pelo magnífico apelo, exige uma mudança expressiva de comportamento, pois ainda estamos alimentados pelo egoísmo, ainda nos deixamos dominar pela agressividade. Infelizmente. Mas como estamos todos matriculados num grande curso de aprendizado, sempre é tempo de recomeçar e seguir adiante. Nossa homenagem aos dois vultos da história humana!