terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O AMOR QUE PRESENTEIA - Richard Simonetti

Informa o evangelista Mateus (2:1) que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. A tradição evangélica o situa como reis e os nomeia Belchior, Baltazar e Gaspar.

Guiados por uma estrela, vinham homenagear o mensageiro divino, que chegara pela porta da humildade, nascendo numa estrebaria. Iniciava a jornada ensinando que o caminho para Deus passa, necessariamente, pela simplicidade e o despojamento das vaidades humanas.

Traziam presentes: ouro, incenso e mirra.

Três símbolos: O ouro, a realeza de Jesus. O incenso, sua elevada espiritualidade. A mirra (usada para embalsamar cadáveres), o sacrifício da própria vida, a fim de nos mostrar os caminhos para Deus.

A iniciativa foi a base para que se estabelecesse, nos séculos que se sucederam ao advento do Cristianismo, a tradição de presentear no Natal. Infelizmente, desvirtuada pelos interesses comerciais, transformou-se em obrigação.

Não oferecer os indefectíveis mimos aos familiares é quase uma ofensa. Ninguém se sente feliz se não recebê-los, particularmente as crianças. O ideal seria lembrar o aniversariante. Se a missão de Jesus foi nos ensinar os caminhos do Amor, que tal, amigo leitor, oferecer-lhe três amorosos presentes, à semelhança dos magos, envolvendo empenho por seguir-lhe os passos?

O primeiro presente de amor: o bom ânimo. Evangelho significa boa nova. É maravilhosa a notícia transmitida por Jesus!

Deus, o Criador, o Senhor todo poderoso, é nosso pai de infinito amor e misericórdia, a trabalhar, incessantemente, pela felicidade de seus filhos. Com um paizão assim não há por que ter medos, dúvidas, angústias, tormentos...

Estamos desempregados? Deus nos ajudará a encontrar uma ocupação com que prover a subsistência.

Trazemos o coração partido pelo relacionamento afetivo que não deu certo? Se juntarmos os pedaços, dispostos a seguir em frente, Deus o restaurará com perfeição, sem marcas.

Estamos doentes? Conscientes da proteção divina enfrentaremos com serenidade o mal, reconhecendo as funções educativas da enfermidade, que depura e sensibiliza a alma.

Mesmo ante as perspectivas de constrangimentos dolorosos, impostos pela Vida, no desdobramento de nossas provações, o bom ânimo é valioso testemunho de confiança em nosso Pai Celeste. É tão estranho alguém que acredita em Deus estar na fossa, quanto se dizer torturado pela sede alguém a nadar num lago de águas cristalinas.

O segundo presente de amor: o bom humor.

Exprime-se na capacidade de cultivar o sorriso, mesmo em situações difíceis. Melhor se consegue rir de si mesmo. Quem o faz jamais será infeliz.

Um homem dotado dessa virtude enfrentou grave problema circulatório. Teve que amputar uma perna. Tempos depois, nova complicação. Foi-se a outra perna. Os familiares ficaram preocupados. Naquela situação constrangedora certamente ficaria pra baixo. Viram logo que infundados eram seus temores. Tão logo passou a anestesia e despertou, virou-se para o médico:

– Doutor, estou preocupado!

– Diga o que é. Estou aqui para ajudá-lo.

– Ah! Doutor, receio que nada poderá fazer.

– É tão grave assim?

– Muito! É que agora, sem as duas pernas, não sei em que pé ficou a situação!

Pessoas assim, dispostas a rir de si mesmas, da própria adversidade, jamais serão infelizes.

Jesus geralmente é apresentado com expressão compungida, torturada, sofredor nato. Nada mais equivocado. O bom humor é uma característica do espírito superior. Os Evangelistas, sempre sucintos nas narrativas, não desciam aos detalhes, imprimindo a alguns episódios uma solenidade que certamente não existiu.

Certa feita (Lucas, 9:51-56), transitando pela Samaria, o grupo não encontrou ninguém disposto a oferecer pousada. Imediatamente João e Tiago, chamados irmãos boanerges, filhos do trovão, por seu caráter impulsivo, perguntaram a Jesus se não poderiam evocar o fogo do céu, para queimar aqueles infiéis.

Que tipo de reação poderia ter Jesus, diante de tal disparate?

Certamente, deu boas risadas, antes de advertir, sorridente:

– Gente, que é isso! Vim para salvar os homens, não para queimá-los!

Noutra oportunidade (Mateus, 14:25-31), os discípulos atravessavam de barco, à noite, o Tiberíades. Em dado momento viram um vulto que se aproximava, deslizando sobre as águas.

Um fantasma! Ficaram apavorados.

Logo viram que era Jesus. Certamente o Mestre sorriu, ante o medo dos companheiros. Simão Pedro, afoitamente, dispôs-se a ir ao seu encontro.

– Vem, Simão.

E ele foi, deu alguns passos, vacilou e começou a afundar.

– Senhor, salva-me!.

Jesus deu-lhe a mão e o sustentou, rindo, sem dúvida.

– Ah! homem de pouca fé!

O terceiro presente de amor: a boa vontade.

Trata-se da vontade de ser bom, o empenho por fazer algo em favor do próximo. É fundamental! Segundo os anjos, que fizeram a proclamação celeste no nascimento de Jesus (Lucas, 2:14), somente com seu exercício haverá paz entre os homens.

Jesus foi a personificação da boa vontade, a começar pelo doloroso mergulho na carne. Governador de nosso planeta, Espírito puro e perfeito, poderia guardar-se nas alturas, enviando um embaixador. No entanto, fez questão de comparecer pessoalmente, submetendo-se a imensos sacrifícios.

Após uma existência de dedicação ao Bem, pregado no madeiro da infâmia, cercado de impropérios, continuou a exercitar a boa vontade, pedindo a Deus que perdoasse a todos. Não sabiam o que estavam fazendo.

Depois voltou, materializando-se diante do atônito colégio apostólico. Tinha muito a reclamar dos companheiros. Um deles o traíra, outro o negara três vezes, e todos haviam fugido no momento extremo, vergonhosamente. Mas o Mestre não tocou no assunto. Limitou-se a saudá-los como nos dias venturosos do passado, convocando-os à gloriosa tarefa de disseminação de seus princípios.

Exercitou, como sempre, a boa vontade.

Que sejam muito felizes seus Natais, amigo leitor.

Sempre plenos de bênçãos e também de reflexões em torno do bom ânimo, do bom humor e da boa vontade, três presentes que Jesus muito apreciará, oferecidos com amor.

Com nossas dádivas estaremos contribuindo pela edificação de um Mundo melhor.

Se o fizermos, certamente estaremos nele, desde agora!
 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014



UM NATAL DECENTE - Richard Simonetti

Dizia um confrade:

– Não sinto prazer em festejar o Natal nas tradicionais reuniões familiares, mesa farta, tendo consciência de que há na periferia milhares de irmãos nossos passando fome.

E só conseguia tranquilizar a consciência depois de realizar ampla campanha, arrecadando recursos para distribuir dezenas de cestas básicas na periferia. Pelo menos as famílias carentes que viesse a beneficiar teriam, segundo sua expressão, um Natal decente.

Se levássemos essa concepção às últimas consequências, teríamos que optar por uma, dentre duas situações extremas:

Jejum coletivo. Ninguém festejaria o Natal com comes e bebes. Se não é possível mesa farta a todos, que ninguém a desfrute. 

Abençoado dividir o pão. A nenhuma família carente faltaria a cesta básica de Natal, sob a égide da solidariedade. 

Na atual conjuntura, neste Mundo orientado pelo egoísmo e o apego à posse, nenhuma dessas possibilidades será observada em plenitude. Raros renunciariam ao repasto natalino. Raros trabalhariam por estendê-lo a todos.

Bem, leitor amigo, que tal se cogitássemos de uma situação intermediária, como faz o nosso confrade? Se não podemos beneficiar todas as famílias carentes, por que não atender o maior número possível, somando esforços e recursos? 

Há uma excelente iniciativa nesse particular: a Campanha da Cesta Básica do Natal.

A fórmula é simplíssima e pode ser aplicada por qualquer instituição interessada em estimular o Natal Decente. Efetua-se um levantamento de preços para a composição da cesta, envolvendo gêneros de primeira necessidade e artigos natalinos como o infalível panetone e as uvas-passas.

Fixado o valor, inicia-se a arrecadação no início de dezembro. É aberta uma lista de doações e solicita-se algo muito especial aos participantes: que não sejam meros contribuintes, mas multiplicadores. 

Que se empenhem em sensibilizar amigos, familiares, colegas de trabalho e vizinhos, convidando-os a colaborar. Cartazes são afixados em local apropriado, no Centro, e folhetos são distribuídos. Os palestrantes contam histórias edificantes que enfatizam o significado do Natal, como um apelo à solidariedade.

Destaque para o aniversariante, que renunciou às paragens celestiais e mergulhou na carne para nos ensinar a alegria de servir.

Na segunda quinzena de dezembro, após a apuração dos resultados, centenas de cestas serão distribuídas pelos próprios voluntários.

Como pode observar, amigo leitor, a iniciativa não exige nenhuma sofisticação e tem a vantagem de ser disparada no final do ano. É um período mágico. A manjedoura sensibiliza os corações para o exercício da fraternidade.

A Campanha da Cesta Básica do Natal pede apenas o que exaltam os anjos, na proclamação celeste: Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontade.

Com boa vontade haveremos de realizar nossa ceia e confraternizar com os familiares, guardando a tranquilidade em nossos corações.

É aquela boa paz que nos felicita quando cumprimos nosso dever como cristãos, proporcionando aos irmãos em penúria algo do que pretendemos para nós, a começar pela bênção de um Natal Decente.