quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


PODIA SER PIOR

Pelo Espírito Hilário Silva. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Almas em Desfile. Segunda Parte - Lição nº 03; Página 119.

O médium Filgueiras era espírita de grande serenidade.

Certa feita, um amigo, que ele não via desde muito, visita-lhe a casa e, depois das saudações habituais, dá notícias do próprio pessimismo.

Declara-se ausente de toda atividade doutrinária. Continua espírita de convicção, mas afastou-se do trabalho mediúnico, da leitura, das sessões, das preces...

Inquirido por Filgueiras, começou a explicar-se:

– Imagine você que minha infelicidade começou quando o meu sócio conseguiu furtar-me quase tudo o que eu possuía. Foi terrível desastre...

– Mas podia ser pior! – falou Filgueiras, preenchendo a pausa da conversação.

– Em seguida, estabeleci-me com pequena loja; no entanto, meu único empregado ateou fogo a tudo, após roubar-me...

– Podia ser pior... – atalhou Filgueiras.

– O azar não ficou aí, pois, quando me viu sem qualquer recurso, a companheira me abandonou, buscando aventuras inconfessáveis...

– Podia ser pior...

– Depois disso, minha única filha, aquela que ainda se mantinha ao meu lado, ouviu as insinuações de um homem que a seduziu, desprezando-me com amargas palavras...

– Podia ser pior...

– Por fim, meu irmão, a única pessoa que ainda me dispensava proteção e carinho, foi assassinado por um salteador que escapou à cadeia.

– Mas podia ser pior... – acentuou Filgueiras, calmo.

O outro sorriu, mal-humorado, e objetou :

– Ora essa! Que podia ser pior? Dois ladrões me acabam com os negócios, dois malandros me acabam com a família e um assassino me acaba com o único irmão... Que podia ser pior, Filgueiras?

O prestimoso médium abanou a cabeça e respondeu calmamente:

– Podia ser pior, sim, meu amigo! 

- Podia ser você o autor de tantos crimes; entretanto, cá está conversando comigo, de consciência purificada e mãos limpas. Sofrer dos outros é, de algum modo, trilhar o caminho em que Jesus transitou, mas fazer sofrer os outros é outra coisa...

O amigo silenciou e, ao despedir-se, rogou a Filgueiras o benefício de um passe.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

SEXO - Richard Simonetti
1 – A Doutrina Espírita condena o amor livre?

O Espiritismo não se situa como um tribunal. Apenas nos informa quanto às consequências de nossos atos e nos ensina que o amor nunca é livre, porquanto é impossível exercitá-lo em plenitude sem cogitar da felicidade e do bem-estar do ser amado.

2 – O que é, então, o amor livre?
Apenas libertinagem sexual, em que se confunde amar com transar, nos domínios da inconsequência.


3 – E isso é ruim?
Em princípio é muito bom, mas nunca nos realiza afetivamente, deixando sempre um resíduo amargo de inquietude e insatisfação. 

4 – Não se deve buscar o sexo antes do casamento?
Na atual conjuntura, pretender que os jovens esperem pelo casamento para exercitar o sexo, seria o mesmo que tapar o sol com a peneira. Mas deveriam colocá-lo no lugar certo: depois do amor. Não exercitá-lo antes da certeza de que há entre os parceiros uma ligação afetiva legítima.

5 – Isso não fica complicado quando a disposição é apenas de um dos parceiros? A moça, por exemplo, cujo namorado insiste em transar?
Se tal orientação não serve para o parceiro, o parceiro não serve para ela.

6 – Tal comportamento pode parecer fácil na teoria. Na prática não é assim, porquanto há um estímulo, quase uma indução à promiscuidade.
É um problema de consciência, um caminho a seguir. Nunca foi fácil remar contra a correnteza. Jesus dizia que tudo é possível àquele que crê. Se estivermos convictos de que esse é o caminho, chegaremos lá.

7 – Normalmente, logo nos primeiros contatos, os rapazes querem ir para o motel. Se a jovem se recusa, perdem o interesse. Como lidar com esse problema quando ela se sente atraída por alguém que age assim?

Se houver nele um sinal de vida inteligente, algo além do mero comportamento instintivo de macho obtuso, gostará de vê-la resistindo e mudará suas disposições. Se não mudar, a jovem deve partir para outra. Atração irresistível é filha de devaneios fantasiosos.

8 – E quando o jovem não consegue passar sem o sexo promíscuo?
Experimente ocupar seu tempo em atividades produtivas, relacionadas com estudo, realização profissional, atividade religiosa, exercício do Bem. Pensamento vazio é forja do demônio – diz o velho ditado. Saem dela as brasas mais ardentes do desejo sexual.




terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Uma resposta – Orson Peter Carrara

Em artigo publicado no jornal O Paraná, de Cascavel-PR, no dia 7 de julho de 2004, o Dr. Wilson Meiler (www.wilsonmeiler.com.br), ofereceu resposta a e-mail recebido de um de seus leitores. A pessoa que escreveu encontrava-se aflita, indecisa, apresentou sua dificuldade e perguntou o que devia fazer. A resposta transcrevemos aos leitores:

O que você não deve fazer? Não deve mais repetir: Minha vida não é fácil. Mesmo que não seja fácil e você saiba disso, o seu subconsciente não sabe distinguir daquilo que lhe dizemos e a realidade. Assim, quanto mais você falar que tem motivos para se sentir infeliz, que sua vida não é fácil, que está assustada com a situação por causa da filha, do filho, da mãe, do marido, da esposa, enfim, tudo o que possa imaginar de ruim que se passa em sua vida, experimente adotar uma postura positiva. Quanto mais negativas forem suas palavras, mais negativas serão suas atitudes, sua energia, e as substancias que o seu cérebro fica liberando em seu corpo também. O Universo não gosta de pessoas negativas. Assim, a primeira coisa a fazer é parar de falar e pensar negativo. Isso atrai cada vez mais desgraças e infelicidade.

O que deve fazer? Atividade. Há muita gente precisando de ajuda. Ajude os outros, faça tudo o que puder para amparar as pessoas. Ocupe o seu tempo o tempo todo até cair exausta(o) para dormir. Ajude. Há muita gente em situação muito pior do que você precisando da sua ajuda no mundo. Afaste-se de pessoas pessimistas e reclamadoras. Ninguém gosta de pessoas chorosas, reclamadoras, pessimistas e acabam fugindo delas.

Lembre-se: O último depósito da noite é a primeira retirada da manhã. À noite faça depósitos bons, positivos. Chega de se auto lamentar e ficar se sentindo um(a) "coitadinho(a) de mim". Eu sei e reconheço que sua vida não deve ser fácil. Mas olhe para os lados e para trás. Veja o que o mundo faz para certas pessoas. Você tem os dois braços e as duas pernas? Você tem os dois olhos para enxergar? Que tal o que a vida fez com o Super Homem?

LEMBRE-SE: A vida é difícil porque a vida é difícil. É difícil para você, para o padeiro da esquina e para o resto do mundo. Nossos entes queridos morrem, nós ficamos sem dinheiro, alguns ficam sem trabalho, outros não têm o que comer, outros vivem a miséria e o sofrimento da guerra, perdem pais, mães, filhos. Mesmo aqueles milionários que no fim acabam se suicidando ou se transformando em drogados, para eles também a vida é difícil. É difícil para todo mundo. A única coisa que muda É A FORMA COMO ENCARAMOS OS DESAFIOS QUE A VIDA NOS APRESENTA. Na vida, nós fazemos escolhas. Não temos outra alternativa a não ser escolher. Podemos escolher ficar sofrendo, lamentando, ficando doentes para que os outros tenham pena de nós e assim recebamos atenção, ou ESCOLHEMOS ENFRENTAR TUDO DE CABEÇA ERGUIDA SABENDO QUE SE CAIRMOS SÓ TEMOS DUAS ALTERNATIVAS: OU FICAMOS DEITADOS CHORANDO ESPERANDO A MORTE, OU NOS LEVANTAMOS E VAMOS À LUTA. SE ESTAMOS AQUI, É POR QUE TEMOS UMA MISSÃO A CUMPRIR. Então amigo (a), levante-se e lute !!!

Alguém tem algo mais a dizer? Com a clareza de Jesus: Sois Deuses! ainda nos damos o direito ao desânimo? É incoerente! Com a lógica da Lei do Progresso tão bem expressa em O Livro dos Espíritos, como estacionar? A lei é de evolução! Sigamos adiante, determinados e destemidos. 


domingo, 23 de fevereiro de 2014

INICIAÇÃO

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Intervalos. Lição nº 20. Página 89.

No anseio da perfeição, não te confies ao êxtase inoperante, à maneira daqueles que se enamoram do Céu, perdendo-se nos labirintos da Terra.

Não menosprezes a iniciação pura e simples para que a vitória te coroe, mas tarde, os votos ardentes.

O fruto substancioso desabrochou na flor tenra e humilde e o palácio que impressiona pela beleza e majestade foi, um dia, inexpressivo e incipiente alicerce.

Se te propões atingir o poder curativo, amplo e seguro, principia por ajudar ao enfermo da vizinhança, quando não possuas um doente no próprio lar.

Se aspiras a liderança no amparo à infância desvalida, começa por ajudar na limpeza e na alfabetização dos pequenos desamparados que te rodeiam o ninho doméstico.

Se arquitetas para ti mesmo o belo destino do missionário, consagrado à edificação popular, inicia a tua obra, entre as quatro paredes da própria casa, oferecendo ternura e arrimo, segurança e consolo aos parentes menos felizes.

Se pretende advogar a causa dos alienados mentais, fazendo-te protetor dos semelhantes que a loucura e a obsessão encarceraram na sombra, estréia o nobre serviço, suportando com alegria o progenitor desequilibrado, a mãezinha demente, o irmão ignorante ou o próprio filho ainda cego para a luz!

Muitos sonham a santidade quando não chegaram ainda a exercitar os menores rudimentos da gentileza e muitos intentam escalar a montanha do heroísmo espetaculoso quando apenas dormem nos impulsos primitivos da natureza, caídos no vale da perturbação a que se acolhem!...

Acordemos para a melhoria justa, antes do acesso aos dons de que nos achamos infinitamente distantes.

Quando todos imaginam grandes feitos sem coragem de atacar os feitos pequeninos, o bem não passa de formosa ilusão no caminho das criaturas.

Encetemos, hoje, a construção do amor, para que o amor, um dia, reine na Terra, em sublime triunfo...

Uma palavra de estímulo ao cansado, um gesto de carinho que soerga o irmão que tombou, um sorriso de compreensão à vítima do erro, um agasalho à criança nua, um consolo ao velhinho desesperado, um ato singelo de renúncia que nos ajude a própria educação...

O êxito da grande viagem começa nos passos mais simples.

Saibamos, pois, antes de tudo, oferecer a Jesus a migalha de nosso esforço persistente no bem, para que Jesus, desde agora, atenda ao muito de que necessitamos, com o pouco que lhe podemos dar.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Incipiente ou Insipiente? – Orson Peter Carrara


Note o leitor o que é a língua portuguesa. Duas palavras com a mesma pronúncia, ambas adjetivos e com apenas uma das letras alteradas ("s"ou "c") tem significados diferentes, embora ligados entre si, como veremos. A primeira delas, segundo o dicionário (www.uol.com.br/michaelis), é a qualidade de quem começa, principiante. Já a segunda palavra, designa aquele que é ignorante, insensato, imprudente, ou que não é sapiente, que designa aquele é sábio, conhecedor...
O assunto surge para breve análise em virtude de notícia divulgada há alguns anos pela imprensa escrita e virtual. É que a notícia informava que o governo russo contratou marroquinos para assentar assoalhos de madeira em seu país (por falta de mão de obra especializada), enquanto que nos Estados Unidos havia russos efetuando o mesmo trabalho para americanos. Por outro lado, pedreiros mexicanos e brasileiros atuando nos Estados Unidos estariam executando com maior perfeição os serviços da área de construção civil com mais competência que nos seus países de origem.
O contraste faz pensar. Tanto na Rússia como no Brasil (usados aqui como exemplos), a deficiência de formação ou de valorização da mão de obra ocasiona um grave problema social: a fuga dessa mão de obra para locais onde é valorizada. Mas o pior ainda não é isso. O que mais impressiona no nosso caso brasileiro é a ausência de uma mentalidade de transmissão de conhecimentos e/ou experiência. Será egoísmo, retenção de informação, desinteresse, omissão? Seja lá qual a designação que dermos, o fato é que nossos jovens - principiantes no mercado de trabalho - estão "meio que" abandonados na aquisição de oportunidades, experiência e conhecimentos. Apesar de várias iniciativas nesse sentido como as do SESI, entre outras – inclusive de iniciativa privada.
Para desenvolver-se em qualquer campo (seja ele profissional ou não), os indivíduos necessitam de experiências vivas que lhe proporcionem a formação. Como esperar que alguém aprenda algo se não tem a oportunidade do exercício? Isto ocorre com tudo. Para aprender a dirigir um veículo, precisamos exercitar. Para aprender a andar, uma criança precisa exercitar-se, etc. etc. Com jovens ou adultos, a questão é a mesma. Não adianta ficarmos na crítica designando incompetência, desinteresse, ignorância. É preciso mesmo oferecer experiências reais de aprendizado. Somente estas formarão pessoas capazes em qualquer área de atividade.
Para que o incipiente não seja um insipiente, pensemos nisso e comecemos a valorizar aqueles que convivem conosco e de quem esperamos o melhor... Afinal, conhecer nunca é demais.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O TRATAMENTO E A CURA - Richard Simonetti

Chico Xavier sempre conviveu com problemas nos olhos, particularmente um deles, que exigia permanente cuidado, não raro sangrando e dolorido.

Numa dessas crises, pediu a Emmanuel:

– O senhor poderia pedir ao doutor Bezerra de Menezes ou outro benfeitor um tratamento de cura?

A resposta do guia o deixou apreensivo:

– Continue o tratamento médico e tenha paciência e resignação, porque seu mal não tem cura e nada posso fazer.

– Mas, se é assim, como vou continuar meu trabalho mediúnico?

E Emmanuel:

– Não tem cura, mas tem tratamento! Continue cuidando dos olhos.


A resposta de Emmanuel resume um tratado de resignação ativa.

Estranhou a adjetivação, leitor amigo?

É que considero a existência de dois tipos de resignação – ativa e passiva.

Embora ambas exprimam uma aceitação dos males da existência, dizem respeito a posturas diametralmente opostas.

Senão, vejamos:

Resignação passiva: aceitação acomodada que paralisa a iniciativa e nos situa na lamentável condição do coitadinho, a inspirar a comiseração alheia.

Certamente você já passou pela experiência de alguém que o procurou exprimindo silencioso apelo, a partir de um cartão com os seguintes dizeres: Sou surdo-mudo. Peço seu auxílio para sobreviver.

Por que, pelo fato de ter uma deficiência dessa natureza, deve alguém viver da caridade?

Não seria mais razoável e produtivo, em benefício de sua autoafirmação e bem-estar, ligar-se a instituições que preparam deficientes para o desafio de garantir a própria subsistência?

E não há falta de vagas no mercado de trabalho. Por lei, empresas com mais de cem funcionários são obrigadas a contratar deficientes físicos.

Resignação ativa: a capacidade de conviver com as limitações, sem sujeitar-se a elas, nem permitir que inibam nossas iniciativas.

Casos de superação, em que o indivíduo dá a volta por cima, como se costuma dizer, envolvem Espíritos nessa condição.

Ao longo da história há exemplos notáveis, como Helen Keller (1880-1968), a admirável mulher americana que, quando bebê, teve grave doença, que a deixou surda e cega. Consequentemente, muda também, já que para aprender a falar é preciso ouvir.

Surdez, mudez, cegueira, isoladamente, são duras provações. Imaginemos as três juntas!

Contrariando qualquer expectativa, Helen Keller aprendeu a falar, tornou-se escritora e conferencista.

Diz ela, no livro Minha Vida de Mulher:

Ninguém pode saber melhor do que eu o que são as amarguras dos defeitos físicos.

Não é verdade que eu nunca esteja triste, mas há muito resolvi não me queixar. Mesmo o ferido de morte deve esforçar-se por viver seus dias com alegria, por amor dos outros.

Eis para que serve a religião: inspirar-nos à luta até o fim, de ânimo forte e sorriso nos lábios.

São exemplos maravilhosos de superação. Pessoas que enfrentam suas provações sem rebeldia, sem se entregarem, sem se julgarem os coitadinhos.

Valorizam a existência, resgatam débitos cármicos, habilitam-se a estágios mais altos de espiritualidade.

Sobretudo nos deixam envergonhados, porquanto, enfrentando problemas muito menos complexos, nos deixamos abater, não raro com pena de nós mesmos.

A Medicina é bênção de Deus.

Oferece-nos cura para os males curáveis e lenitivo aos incuráveis, a fim de que possamos conviver com eles, sem que impeçam nossa realização como seres humanos, filhos de Deus, dotados de suas potencialidades criadoras.

Assimilando muito bem as orientações de seu mentor, Chico foi exemplo marcante de resignação ativa, jamais permitindo que suas limitações físicas e enfermidades o impedissem de realizar seu abençoado trabalho.

Poderia fazer suas as palavras de Helen Keller:

Uma ambição eu tenho: a de não me deixar abater. Para tanto conto com a bênção do trabalho, o conforto da amizade e a fé inabalável nos altos desígnios de Deus.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

SIMPLIFICA

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Mentores e Seareiros. Lição nº 04. Página 19.



Se desejas a bênção da paz, simplifica a própria vida para que a tranquilidade te favoreça.

Muitos recorrem ao auxílio dos outros, esquecendo a necessidade do auxílio a si mesmos.

Encarceram-se no cipoal das preocupações sem proveito, adquirindo compromissos que lhes prejudicam a senda e acabam suplicando o socorro da caridade, quando, mais avisados, poderiam entesourar amplos recursos para a assistência generosa aos mais desfavorecidos do mundo, empregando o talento das horas nas mais ricas sementeiras de simpatia.

É que se extraviam nas ambições desregradas, buscando para si próprios os mais duros grilhões de angústia ou fixando aos ombros frágeis, cruzes e fardos difíceis de suportar.

Não se contentam em viver com segurança o dia que o Senhor lhes concede. Preferem sofrer por antecipação as tempestades morais do amanhã remoto que, talvez, jamais sobrevenham.

Não se conformam com o pão abençoado de hoje. Reclamam celeiro farto para longos anos, à frente da luta que lhes é própria, ignorando se a morte lhes espreita os passos na vizinhança.

Não se alegram com o agasalho valioso de agora. Exigem guarda-roupa repleto e variado de que provavelmente não mais se utilizarão, enquanto companheiros da marcha humana exibem a pele desnuda e fria.

Não se resignam a possuir o dinheiro prestimoso que lhes soluciona os problemas da hora em curso. Suspiram pela caderneta de banco dominadora e invejável, que lhes marque o nome com a melhor expressão financeira, não obstante a penúria que magoa, implacável, o lar alheio.

Aprende a viver o minuto que Deus te empresta no corpo físico, amealhando a luz do conhecimento nobre e fazendo aos outros o bem que possas.

Auxilia, perdoa, trabalha, ama e serve, gastando sensatamente os recursos que o Céu te situou no caminho e nas mãos, como quem sabe que a Contabilidade Divina a todos nos procura no grave instante do acerto justo.

E, simplificando as próprias experiências, reconhecer-te-ás mais leve e mais feliz, habilitando-te, por fim, à libertação espiritual que, infalivelmente, convocar-te-á hoje ou amanhã para o regresso à Vida Maior.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A DIFERENÇA

Pelo Espírito Irmão X. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Momentos de Ouro. Lição nº 12. Página 67.



A reunião alcançava a parte final, e, na organização mediúnica Bezerra de Menezes retinha a palavra.

O Benfeitor distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:

- Bezerra não concordo com tanta máscara no ambiente espírita.

- Estou cansado de ser hipócrita. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão?

- Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me frequentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente.

- Posso declarar-me espírita-cristão com tantos defeitos?

O venerável Bezerra de Menezes respondeu sereno:

- Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espírita-cristão...

- Como assim? - revidou o consulente agitado.

- Perfeitamente - concluiu Bezerra de Menezes, sem alterar-se.

- Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham...

- Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer.

É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas...

E, Bezerra de Menezes sorrindo:

- Como vê meu amigo, há muita diferença.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Murmúrio de Memórias - Orson Peter Carrara

O acúmulo das experiências dos anos não evita o saudosismo, ou aquele “murmúrio de memórias” que relata o tempo que passou. Uma certa sensação de que faltou algo por fazer e até mesmo uma decepção com a crescente decrepitude das forças físicas; uma saudade indefinível dos que se foram antes, uma inquietude interior.

Isto pode ser a velhice, mas não é regra. Há velhos e velhos. E peço ao leitor não considerar a expressão como pejorativa, apenas indica uma das fases da existência humana. Conheci idosos otimistas, alegres, sempre dispostos, longe do saudosismo ou da ausência do algo por fazer. Preencheram os dias com a dedicação a nobres causas, fazendo-se mais felizes e felicitando terceiros.

O conhecido compositor Taiguara tem uma bela música, O Velho e o Moço, que inspirou-me este pequeno artigo. Transcrevo a letra na íntegra para reflexão do leitor:

Deixa o velho em paz

com as suas histórias

de um tempo bom.

Quanto bem lhe faz

Murmurar memórias num mesmo tom.

A sua cantiga

Revive a vida que já se esvai

Uma velha amiga

Outra velha amiga e um dia a mais

Vão nascendo as rugas

Morrendo as fugas e as ilusões

Tateando as pregas

Se deixa entregue às recordações

Em seu dorso farto

Carrega o fardo de caracol

Mas espera atento

Que o céu cinzento lhe traga o sol

Ele sabe o mundo

O saber profundo de quem se vai

O que não faria

Pudesse um dia voltar atrás

Range o velho barco

O lamento amargo do que não fez

E o futuro espelha

Esse mesmo velho que são vocês.

Leitor amigo, volte a ler a letra da música. Leia, por favor, com bastante atenção. Todos nos situaremos nestas sábias linhas, à medida que formos meditando sobre elas.

Por outro lado, sábias frases de um texto conhecido por Ser Idoso ou Ser Velho, de autoria desconhecida, bem definem a situação de quem se deixa abater pela vida ou de quem determina a própria harmonia interior. Em três trechos que destacamos aos leitores, poderemos ter uma idéia do que estamos tentando dizer:

a) Idosa é pessoa que tem muita idade; velha é a pessoa que perdeu a jovialidade;



b) Nem todo idoso é velho, e há velho que nem chega a ser idoso;



c) Você é velho quando só sente ciúmes e desejo de posse.

Pois é bem isso mesmo. Conheço vários idosos que nunca chegaram à velhice.

Se levarmos o assunto para o âmbito da análise espírita, encontraremos infindáveis considerações, entre outras tantas respostas como estas:

a) A idade mais avançada significa, entre outras experiências, uma fase de reavaliação do que se fez ou se viveu, visando uma auto-aceitação e reflexão sobre a própria vida, o próprio comportamento;

b) O desgaste é apenas do corpo físico. O espírito conservará sua própria característica de idoso ou velho no corpo, lembrando a sabedoria das frases acima selecionadas;

c) A idade física avançada apenas indica a proximidade da constatação da própria imortalidade ou de um breve retorno para nova existência, em corpo novo, sobre a face do planeta... Por isso, nada de temores, pois a vida continua, apesar das diferentes existências.

E, para aqueles que ainda não chegamos a esta fase, preparemo-nos para ela principalmente com o respeito para aqueles que agora nela vivem. Se a desencarnação não vier antes, chegaremos também a esta importante fase da vida, que amadurece as experiências e prepara para novo recomeço, até que aprendamos a viver...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

COM MENOS FICOU PIOR - Richard Simonetti

Jonas e Susie identificavam-se num mesmo desejo: teriam seis filhos. Por que não cinco ou sete? Não saberiam responder... Era o que sentiam, desde os primeiros tempos de namoro, imaginando-se felizes, às voltas com meia dúzia de pirralhos.

Problemas financeiros não existiriam. Ele tinha um bom emprego, com futuro promissor. Casaram-se, eufóricos, unidos pelo afeto, empolgados pelas perspectivas de muitos filhos. Os anos seguiram seu curso inexorável, o amor entre eles se manteve, embora os velhos problemas de relacionamento humano. Acima de tudo eram Espíritos amigos, mas o ideal acalentado começou a arrefecer, desde o nascimento do primeiro filho, portador de grave limitação mental. O segundo, saudável e inteligente, mas irrequieto ao extremo, dava trabalho por mil. Por isso, quando Susie engravidou pela terceira vez, tomou a decisão inabalável: seria o último filho. Jonas não discutiu. Também ele desiludira-se da prole numerosa: muita preocupação, muita dor de cabeça...

Nascida a criança, uma linda menina, simultaneamente foi providenciada a cirurgia esterilizadora... Trompas seccionadas e amarradas, o anticoncepcional definitivo. Ambos sentiram-se aliviados, mas benfeitores espirituais lamentaram a grave decisão, contra a qual tinham trabalhado muito junto ao casal, porquanto a intenção inicial não configurava mero capricho. Era o reflexo de compromisso assumido perante a Espiritualidade. Seis Espíritos reencarnariam como seus filhos, obedecendo a amplo programa de serviço redentor.

A cirurgia drástica prendera no Além os três últimos: um inimigo ferrenho, com o qual deveriam harmonizar-se, favorecidos pelos laços da consanguinidade e as bênçãos de esquecimento; uma vítima de seus caprichos, precipitada em tortuosos caminhos, para cuja reabilitação deveriam cooperar, e nobre entidade, detentora de vastos patrimônios de virtude, que os ajudaria como um anjo guardião, mais tarde, quando viessem a defrontar-se com as limitações da velhice.

Barrados irremediavelmente, os três Espíritos reagiram segundo sua posição evolutiva; o primeiro tornou-se obsessor dos futuros pais, complicando-lhes a existência; o segundo situou-se como alma penada no ambiente doméstico, impondo ao casal penosas impressões; o terceiro retornou às esferas mais altas, ante a impossibilidade de uma ajuda mais afetiva aos seus tutelados, na condição de filho...

E a existência de Susie e Jonas, que seria trabalhosa e sacrificial com seis filhos, tornou-se pior com três apenas...

Ocioso discutir sobre a legitimidade do planejamento familiar. Se os pais têm a responsabilidade de cuidar dos filhos, é elementar seu direito de decidir se desejam tê-los. Ressalte-se, todavia, que esse planejamento geralmente remonta à Espiritualidade, com o concurso de generosos e sábios mentores, antes do retorno à carne, quando os casais têm uma visão mais objetiva de suas necessidades evolutivas que, não raro, envolvem prole numerosa.

O problema é que, chegados à Terra, distraem-se das finalidades da existência e, transitando pelas névoas da ilusão, decidem limitar a natalidade, contrariando a própria consciência, que lhes diz inarticuladamente, no imo d’alma, que ainda há nascimentos programados para seu lar. Com isso adiam para futuro incerto experiências necessárias à própria edificação.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

PROFILAXIA DA ALMA

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Paz e Renovação. Lição nº 25. Página 78.

De múltiplos modos, enxergamos a intervenção dos outros na salvação alheia, quando o perigo ameaça.

Bombeiros, aqui e além, arrebatam criaturas ao império do incêndio, repondo-as em segurança.

Médicos se devotam a enfermos, preservando-lhes a vida.

Em todos os recantos da terra, guardiões dedicados das vias públicas arrancam à morte legiões de pessoas, todos os dias.

Um amigo acompanha outro amigo em dificuldade, caminha com ele, durante algum tempo, amparando-lhe os compromissos e livra-lhe o passo de precipitação em falência.

E, entre o plano espiritual e o plano físico, nós, os desencarnados observamos, de maneira incessante, os testemunhos de solidariedade e carinho de amigos inúmeros, domiciliados no mais além, que se empenham no auxílio aos companheiros que deixaram no mundo.

E isso ocorre, nos menores setores da vivência terrestre.

Aqui, é preciso suplementar a cautela de alguém, alertando-lhe a memória para fechar o gás ou desligar a força elétrica, prevenindo acidentes;

Ali, é necessário escoltar uma criança, pelos fios intangíveis do pensamento, frustrando-lhe quedas fatais;

Além, é forçoso socorrer um motorista descuidado, induzindo-o a verificar essa ou aquela peça do carro de que se vai servir coibindo desastre possível;

Mais adiante, é indispensável sugerir a determinados companheiros, em divertimento, a cessação de pequenos abusos, suscetíveis de impulsioná-los a processos de obsessão.

De múltiplos modos, repetimos, anotamos o amor e a fraternidade operando salvação alheia, entretanto, para que não venhamos a tombar nas trevas da ira ou do ódio, do orgulho ou da crueldade, só conhecemos um tipo de profilaxia espiritual: - Cada criatura deve orar, asserenar-se, abençoar os semelhantes, compreender que todos somos necessitados da Misericórdia Divina e resguardar a si mesma.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ENTRE FALSAS VOZES
Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Levantar e Seguir. Lição nº 10. Página 53.

Se a preguiça te pede: “Descansa!”, responde-lhe com algum acréscimo de esforço no trabalho que espera por teu concurso.

Se a vaidade te afirma: “Ninguém existe maior que tu!”, retribui com a humildade, reconhecendo que não passamos de meros servidores da vida, entre os nossos irmãos de luta.

Se o orgulho te diz: “Não cedas!”, aprende a esquecer-se, auxiliando sempre.

Se o ciúme te segreda aos ouvidos: “A posse é tua!”, guarda silêncio em tua alma e procura entender que o amor e o bem são bênçãos do Céu, extensivas a todos.

Se o egoísmo te aconselha: “Retém!”, abre as tuas mãos e distribui a bondade com os que te cercam.

Se a revolta te assevera: “Reage e reivindica os teus direitos!”, aguarda a Justiça Divina, trabalhando e servindo com mais abnegação.

Se a maldade te sugere: “Vinga-te!”, considera que mais vale amparar constantemente o companheiro, quanto temos sido auxiliados por Jesus, a fim de que o amor fulgure em nossas vidas.

Os falsos profetas vivem nos recessos de nosso próprio ser.

Surgem, cada dia, invariáveis, na forma da intriga ou da maledicência, da leviandade ou da indisciplina, induzindo-nos a cerrar o coração contra a consciência.

Se aceitamos Jesus em nosso roteiro, ouçamos o que nos diz o seu ensinamento e apliquemo-nos a pratica de suas Lições Sublimes.

Olvidemos as insinuações da ignorância e da treva, da crueldade e da má fé, que nos enrijecem o sentimento e, de coração unido à Vontade do Mestre, vendo a vida por seus olhos e ouvindo os nossos irmãos, através de seus ouvidos, estaremos realmente habituados à posição de intérpretes do seu Infinito Amor, em qualquer parte.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

EM TORNO DE UMA ORAÇÃO - Richard Simonetti

Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz.

Onde haja ódio, consenti que eu semeie amor.

Perdão, onde haja injúria.

Fé, onde haja dúvida.

Esperança, onde haja desespero.

Luz, onde haja escuridão.

Alegria, onde haja tristeza.

Oh! Divino Mestre! 

Permiti que eu não procure tanto ser consolado, quanto consolar.

Ser compreendido, quanto compreender.

Ser amado, quanto amar.

Porque é dando que recebemos.

Perdoando que somos perdoados.

E é morrendo que nascemos para a Vida Eterna.

Certamente você conhece essa oração, leitor amigo. Depois do Pai Nosso, essa rogativa de Francisco de Assis é a mais popular, obrigatória em qualquer antologia do sublime.

O missionário do Cristo sensibiliza e emociona. Há mananciais inesgotáveis de espiritualidade em suas expressões impregnadas de divino magnetismo. Nos momentos de angústia, ela é um refrigério abençoado para nossas almas. Raras pessoas, entretanto, percebem que a oração de Francisco de Assis transcende o mero conforto ou consolação que buscamos. Trata-se, fundamentalmente, de uma orientação de vida, sob inspiração do Evangelho. 

Oportuno, portanto, que nos detenhamos em suas afirmações, habilitando-nos a benefícios bem mais consistentes e duradouros. Pede o santo de Assis, inicialmente: Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz.

Seria interessante que indagássemos com frequência: “Sou um instrumento da paz? Em minha presença as pessoas sentem-se mais tranquilas, animadas e felizes? Ou a paz se despede quando vou chegando?”

Perguntei a uma senhora amiga sobre sua família.

– No momento, muito bem! Estamos em paz! ­– afirmou feliz.

E, sorriso brejeiro, completou:

– Meu marido está viajando…

Seu companheiro é um espantalho da paz. Quando está em casa, salve-se quem puder! Não dá sossego a ninguém.

A primeira reflexão, portanto, em torno da prece de Francisco de Assis, sugere que analisemos nossa vida e verifiquemos, cuidadosamente: Sustentamos a paz ou impomos a agitação? 

Onde houver ódio que eu semeie o Amor.

Mahatma Gandhi dizia que alguém capaz de realizar a plenitude do amor neutralizará o ódio de milhões. Ele mesmo o fez, conseguindo que a Índia se libertasse do jugo inglês sem banhos de sangue, com sua filosofia da resistência pacífica e da não-violência, superando seculares ressentimentos dos indianos contra seus dominadores.

Certamente estamos distanciados de suas realizações. Não obstante, podemos promover a paz, evitando que mágoas fermentem no coração alheio e se transformem nesse sentimento desajustante que é o ódio. 

Há uma fórmula para isso: A profilaxia dos contrários.

Certa feita, funcionário de uma grande empresa estava furioso com o gerente que frequentemente a transferia de setor. Certamente estava a pressiona-lo para que se demitisse. Cogitava disso quando um colega, um semeador da paz, disse-lhe.

– Está enganado quanto ao nosso chefe, meu amigo. Ele o admira muito, sabe que é eficiente e digno de confiança. Por isso o tem encaminhado para setores onde há problemas, consciente de que pode resolvê-los.  Sua intervenção pacificou o companheiro que passou a ver com simpatia as iniciativas do gerente a seu respeito. A profilaxia dos contrários é infalível. 

Perdão, onde haja injúria.

Diz a esposa sofredora:

– Meu marido me abandonou por outra mulher. Não me conformo! A vida ficou complicada, não tem mais graça… Estou muito infeliz!

Diz o semeador da paz:

– A mágoa é como um espinho cravado no peito. Machuca dói, incomoda… Perdoe para libertar-se. Esqueça.… Siga o seu caminho.

Segundo alguns exegetas, nos textos evangélicos em grego, perdoar é sinônimo de desligar. Exatamente o que ocorre conosco quando perdoamos. Desligamo-nos da mágoa, do ressentimento… Livramo-nos da intranquilidade. Tiramos o espinho de nosso peito.

Fé, onde haja dúvida.

No atendimento fraterno, num Centro Espírita, a voluntária consolava sofrida mulher, cujo filho falecera vitimado por mal súbito. 

– Confie em Deus, minha irmã. Considere que nada ocorre sem Seu consentimento. Quando manifestamos submissão à Sua Vontade tudo fica mais fácil. 

A mulher não se conformava:

– Você fala assim porque não sabe o que é perder um filho na flor da idade, estudante de medicina, futuro brilhante! Alguém que resumia minhas mais caras esperanças! Não dá para aceitar!

– Sei sim, minha amiga. Passei por experiência semelhante. Meus dois filhos faleceram num acidente. A certeza de que apenas transferiram residência para além-túmulo é o meu alento. Sei, também, que nossos amados sofrem com nossa inconformação e que ficam felizes quando cultuamos sua memória exercitando coragem e o bom ânimo. O consolo maior é saber que estão por perto. 

– Você costuma sentir a presença deles?!

– Sim, frequentemente.

– Como faz para receber essa dádiva?

– Sempre acontece quando me disponho a servir.

Esperança, onde haja desespero.

Reclama o favelado.

– Não há por que viver! Minha vida é um tormento. Minha mulher está doente. Eu, desempregado. Os filhos passam fome…

Afirma o semeador de esperança.

– Trouxe alimentos para seus filhos e remédio para sua esposa. Ajudarei você a conseguir emprego. Coragem! Com a ajuda de Deus e o nosso empenho tudo há de melhorar!

Luz, onde haja escuridão.

Diz o doente:

– Oh! Meu Deus, como é triste a solidão do leito, sem amigos, sem familiares… Apenas as dores, a tristeza… É tudo tão sombrio, tão triste!

Diz o semeador de luz:

– Vim lhe fazer companhia e dizer que você não está só. Busquemos juntos as claridades do Evangelho, o consolo das lições de Jesus, a luz da oração…

Alegria, onde haja tristeza.

No movimento espírita tivemos alguém que não obstante a provação que lhe impunha dolorosas limitações, era um maravilhoso semeador de alegria: Jerônimo Mendonça. 

Vítima de grave problema de saúde, ficou totalmente imobilizado, sem movimento num só dedo dos pés ou das mãos, e cego. Viveu várias décadas assim. Não obstante, nunca desanimou, nem se entregou ao desalento. Embora preso ao leito, mergulhado em escuridão, jamais deixou de se comunicar com as pessoas. Viajava, consolava, confortava, revelava uma tamanha coragem, inspirado nos princípios espíritas e nos ensinamentos de Jesus, que muitas pessoas se converteram a partir de seus exemplos. Tinha dois dons maravilhosos: Jamais se melindrava e ria das próprias limitações.

Enquanto detinha a visão, nos primeiros tempos da doença, ia ao cinema. O leito ficava num dos corredores. Certa feita, após o início da sessão, entrou uma jovem. Apressada, em plena escuridão tropeçou na improvisada poltrona. 

Irritada, bradou:

– Diabo de aleijado! Se vou à praça ele está lá! Vou a uma festa e ele está lá! No campo de futebol, está o aleijado! Até no cinema esse enxerido me persegue!

E Jerônimo:

– Também, pudera! Você não pára em casa!

Quando nos dispomos a seguir firmes e confiantes em Deus, não obstante dores e atribulações, influenciamos irresistivelmente as pessoas que nos rodeiam, tanto quanto os descrentes e revoltados semeiam a descrença e a revolta.

Os que se doam incessantemente, amando e servindo o semelhante, aprenderam com Francisco de Assis que: É dando que recebemos, perdoando que somos perdoados e é morrendo que nascemos para a Vida Eterna.

A afirmação final merece atenção. É preciso “matar” o homem velho, eivado de paixões, para que nasça o homem novo a que se referia o apóstolo Paulo. Um ser especial que tem no Evangelho o seu guia, o seu alento, a sua felicidade.

É assim que nasceremos para a vida eterna, isto é, nos livraremos das reencarnações expiatórias, habilitando-nos aos planos mais altos do infinito, onde há vida em plenitude, sem acesso para a morte.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

SER FELIZ É UMA DECISÃO - por Sidney Fernandes

Há algum componente moral na herança genética?

Resposta de Allan Kardec (LE 207)

O corpo deriva do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito.

Resposta de Richard Simonetti (Artigo Hereditariedade moral): Não há indicação de que os genes transmitam algo dos pais na formação do caráter de seus filhos

Como fica o ditado "filho de peixe, peixinho é"?

Resposta de Kardec: são Espíritos simpáticos, que reciprocamente se atraíram pela analogia dos pendores.

Resposta de Richard: podemos encontrar criminosos com filhos bandidos, mas isso não guarda nenhuma comprovada relação com a genética. No aspecto moral, somos herdeiros de nós mesmos.

Por que é que as boas qualidades dos pais nem sempre atraem, por simpatia, um bom Espírito para lhes animar o filho?

Resposta de Kardec: não é raro que um mau Espírito peça que sejam dados bons pais na esperança de que seus conselhos o encaminhem por melhor senda...

Como fica um Espírito que já conquistou o discernimento quando reencarna entre criminosos?

Resposta de Richard: se esses valores não forem superficiais, não será afetado pelo ambiente.

Nenhuma influência exercem os Espíritos dos pais sobre os filhos depois do seu nascimento?

Resposta de Allan Kardec: ao contrário, bem grande influência exercem. Os Espíritos têm que contribuir para o progresso uns dos outros.

Resposta de Richard: o superior acaba influenciando o inferior. Espíritos assim constituem-se em modelo para pais e irmãos, induzindo-os a reconsiderarem o próprio comportamento.

Não herdamos nossa moral de nossos pais. Somos herdeiros de nós mesmos. Não obstante, a influência dos pais e de Espíritos em melhor condição moral podem representar contribuição fundamental para o nosso progresso.

Espíritos têm que contribuir para o progresso dos outros, lembra Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos.

Sofremos a influência do meio, podemos ser auxiliados por outras pessoas mais preparadas, mas persiste a nossa responsabilidade. Se insistirmos na acomodação e na procura de coisas negativas, sendo pessimistas, as trevas tomarão conta do nosso espírito e de nossa vida.

Na História de Silas, do livro Ação e Reação, de André Luiz, encontramos um personagem que se especializara em destacar as calamidades da terra e do céu. Derrotismo em pessoa, criticava, criticava, mas não se abalançava em usar sua inteligência e seus recursos para minimizar a situação difícil de qualquer pessoa.

Resultado: tornou-se um prato cheio à influência negativa espiritual. Obsessores tinham grande facilidade de acesso, perturbando-o, desequilibrando seu psiquismo e seu organismo físico.

Há pessoas se caracterizam pela falta de prazer ou divertimento pela vida e pelo constante sentimento de negatividade. Isso se chama distimia.

Mesmo não privando o indivíduo de suas tarefas e obrigações, a distimia impede que desfrute plenamente da vida.

Sintomas como irritabilidade, desmotivação, estafa, falta de prazer, mau humor constante, temperamento difícil, isolamento social, alterações no sono ou no apetite, baixa autoestima, elevado senso de autocrítica, são características do distímico.

Esse paciente pode ser auxiliado pela medicina. Se aceitar o tratamento médico e fizer a sua parte, poderá ter seus sintomas amenizados e passar a ter uma vida normal, mais gratificante e com boa convivência social. Mas depende fundamentalmente de sua vontade de se curar. Infelizmente, por incrível que pareça, há indivíduos que preferem assumir o complexo de vítima e continuarem com a baixa qualidade de vida de que desfrutam.

São um prato cheio para os obsessores...

Valérium, no livro Bem-aventurados os simples, descreve o momento em que um chefe de família descreve, entusiasticamente, com detalhes, um incêndio criminoso ocorrido na cidade. Mais tarde, tendo que se ausentar do lar com a esposa, é chamado às pressas de volta à sua casa. O caçula da casa, um pequeno de oito anos, ateara fogo à residência, copiando todos os pormenores da descrição feita pelo pai. E conclui Valérium:

— Rememore que o mal, a não ser quando deva ser corrigido, não merece comentário em momento algum.

Não obstante o suporte que a abençoada medicina nos proporciona, aliviando sintomas e nos dando a necessária base para um esforço de recuperação, sem a nossa participação, ficaremos do jeito que estamos. O habitante do lar em desalinho que se deixa contaminar pelo desequilíbrio, o carente que fica esperando a ajuda alheia, o derrotista que só vê a vida em preto e branco, o distímico que em nada vê graça e o imprudente que fica rememorando o mal, TODOS são um prato cheio à influenciação negativa espiritual.

Dirija um homem a sua vontade para a ideia de doença e a moléstia lhe responderá ao apelo, com todas as características dos moldes estruturados pelo pensamento enfermiço. A sugestão mental determina a sintonia e receptividade da região orgânica, em conexão com o impulso havido.

André Luiz nos alerta, em Ação e Reação, para as doenças criadas por nós mesmos. Elas obedecem a ordens interiores, reiteradamente recebidas, formando no corpo a enfermidade idealizada. Mas, poderíamos perguntar, e as provas necessárias?

— Mesmo aí, continua André Luiz, o problema de ligação mental é infinitamente importante. Quando o espírito em reajustamento reage, valoroso, contra o mal, ainda mesmo que benéfico e merecido, encontra imensos recursos de concentrar-se no bem, integrando-se na corrente de vida vitoriosa.

Mais uma vez o alerta da espiritualidade para que nunca nos deixemos envolver pelo mal à nossa volta, não nos empolguemos pelo derrotismo e pela tendência da autocomiseração. O complexo de "coitadinho/judiação" nada acrescenta à nossa economia espiritual.

Uma senhora de 92 anos, delicada, bem vestida, com o cabelo bem penteado e um semblante calmo, precisou se mudar para uma casa de repouso. Seu marido havia falecido recentemente e a mudança se fez necessária, pois ela era deficiente visual e não havia quem pudesse ampará-la em seu lar. Uma neta dedicada a acompanhou. 

Após algum tempo em que aguardaram pacientemente na sala de espera, a enfermeira veio avisá-las que o quarto estava pronto. Enquanto caminhavam, lentamente, até o elevador, a neta, que já havia vistoriado os aposentos, fez-lhe uma descrição visual de seu pequeno quarto, incluindo as flores na cortina da janela. 

A senhora sorriu docemente e disse com entusiasmo: — Eu adorei! 

— Mas a senhora nem viu o quarto... Observou a enfermeira. 

Ela não a deixou continuar e acrescentou: 

— A felicidade é algo que você decide antes da hora. Se eu vou gostar do meu quarto ou não, não depende de como os móveis estão arranjados, e sim de como eu os arranjo em minha mente. E eu já me decidi a gostar dele... 

Ser feliz é uma decisão.

Depende muito mais do nosso interior do que das coisas materiais que nos rodeiam. Cada um de nós traz dentro de si um potencial enorme de belezas que espera para ser verbalizado. E esse banco de felicidades precisa ser constantemente abastecido.

A disposição para o trabalho, o silêncio diante da ofensa, o esquecimento do gesto infeliz, o aproveitamento do tempo, a facilidade do sorriso, a emoção diante da criança, a comiseração diante do necessitado, o apoio ao doente e outras atitudes positivas que se nos disponibilizam nos momentos da vida, são vetores de artefatos emocionais para abastecer nosso tanque de felicidades.

Cada pessoa tem o potencial de armazenar as belezas que deseja ver em sua tela mental...

A felicidade não depende de como as coisas estão arranjadas, mas de como nós as arranjamos na nossa mente.

Decidamos ser felizes.