terça-feira, 30 de setembro de 2014

CONVERSAR COM DEUS Richard Simonetti

Ao sul da Índia e a leste da África, há um país cujo território é feito de pequenas ilhas, mais de mil, espalhadas numa extensão de oitenta mil quilômetros quadrados. Seu nome, Maldivas, vem do sânscrito maladiv, que significa guirlanda de ilhas, todas belíssimas, como uma grinalda de flores.

Os visitantes confirmam: as ilhas são maravilhosas, uma rara combinação de céu azul, mar límpido, águas mansas, alvas praias, peixes em profusão, frutos e flores – verdadeiro paraíso.

O que mais impressiona é a tranquilidade dos maldivenses. Não obstante a pobreza do país, vivem felizes, sem os problemas de violência, roubo e vício que conturbam as sociedades atuais.

Em princípio se poderia dizer que o caráter risonho e cordial do povo maldivo vem da placidez do oceano, da beleza das ilhas, da exuberância da Natureza. Não é só isso, porquanto em outros lugares a Natureza mostra-se igualmente generosa, mas a existência é conturbada.

Exemplo típico temos no Rio de Janeiro, uma das cidades mais belas do Mundo. Quando contemplamos a Baía da Guanabara, do alto do Corcovado, e nos deslumbramos com a magnificência da paisagem, sentimos a presença de Deus e compreendemos a exaltação do sambista ao cantar a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil… No entanto, o Rio enfrenta graves problemas, envolvendo drogas, assassinatos, assaltos, prostituição… A cidade maravilhosa continua linda, como sempre, mas a vida está cada vez pior.

Qual seria, pois, o segredo dos maldivenses? Os pesquisadores têm constatado que a fórmula mágica que lhes sustenta a cordialidade, o bom humor e a urbanidade, é a oração. Cinco vezes por dia, em horários determinados, a população, formada por muçulmanos sunitas, entrega-se à oração, nos templos e pequenas igrejas que existem em grande quantidade. 

Não dura mais que alguns minutos, mas é o suficiente para iluminar o dia, mantendo-os conscientes da presença de Deus e da necessidade de cumprir os preceitos morais de sua religião.

Certamente passaríamos por uma mudança radical, se ao longo do dia, lembrássemos de Deus. Muitos problemas seriam evitados, muitas dificuldades superadas, se nos habituássemos a conversar com Deus com maior frequência. 

Há uma situação curiosa em relação à oração. A pessoa conversa com Deus e parece que tudo piora.

– Não sei o que acontece comigo. Quando oro minha cabeça fica conturbada, sinto-me estranho.

Ocorre que a oração funciona como um mergulho na intimidade de nossa própria consciência, uma espécie de varrer e colocar em ordem a casa mental. Quando usamos a vassoura, sobe a poeira. Pode nos incomodar em princípio, mas depois o ambiente fica melhor, mais limpo, mais saudável. 

A introspeção, esse voltar para dentro de nós mesmos, revolve o entulho de nossas fraquezas, de nossos pensamentos negativos, das más palavras, e em princípio poderemos sentir algum desconforto.

Com perseverança, buscando cumprir a vontade do Senhor, expressa nas lições de Jesus, em breve teremos muita paz em nosso coração.

A oração, dizem os mentores espirituais, deve ser algo tão natural, tão instintivo em nossa vida, como a respiração. Devemos lembrar de Deus em todas as horas de nossos dias, para que sintamos sua presença em todos os dias de nossa vida. 

Principalmente na hora de dormir é importante pensar em Deus, pedindo sua proteção para um sono reparador e um despertar tranquilo. Estaremos, então, preparados para o novo dia, como está na singela oração de Robert Louis Stevenson, famoso escritor americano:

Senhor, quando o dia voltar,

Fazei que eu desperte

Trazendo no rosto e no coração

A alegria das alvoradas,

Disposto ao trabalho,

Feliz se a felicidade for o meu quinhão,

Resignado e corajoso, 

Se me couber, nesse dia,

Uma parcela de sofrimento.



quarta-feira, 24 de setembro de 2014


DE PAPO PARA O AR - Richard Simonetti

O turista visita uma colônia de pescadores.

Encontra vários deles a tomar sol, tranqüilos, nas areias escaldantes.

– O que vocês fazem durante o dia?

– Nois descansemo.

– E vocês não cansam de descansar?

– Cansemo…

– E o que fazem quando cansam de descansar?

– Descansemo, ué!

A história exprime a velha tendência para a indolência, que costuma “infectar” pessoas não habituadas ao batente. 

Esse “de papo para o ar” está arraigado no espírito humano.

O estudante vibra com as férias escolares.

O operário aguarda o fim de semana, o feriado, o descanso anual…

Realização suprema: a aposentadoria! A inatividade remunerada é considerada por muitos a ante-sala do paraíso. Garantido o sustento diário, sentem-se plenamente isentos de compromissos com horários e serviços.

Por paradoxal pareça, há pessoas que se empenham em múltiplas atividades, buscando alcançar, no menor prazo possível, uma situação financeira que lhes permita a felicidade de não fazer nada.

A própria teologia ortodoxa nos apresenta o Céu como região de contemplação. Nessas etéreas plagas, almas eleitas se desvanecem no mais absoluto repouso.

Num Universo dinâmico, onde tudo vibra em movimento de trabalho e progresso, desde o verme, que nas profundezas do solo o fertiliza, aos mundos que se equilibram no espaço, eis o Homem, o ser mais evoluído do planeta, a confundir a felicidade com o não fazer nada, a paz com a ausência de responsabilidade.

Daí a sua dificuldade em ser feliz.

Está fora dos ritmos do Universo.

Na questão 683, de O Livro dos Espíritos, indaga Allan Kardec:

Qual o limite do trabalho?

A resposta é surpreendente:

O das forças.

Antes que o leitor se disponha a denunciar os Espíritos ao Ministério do Trabalho, por induzirem à exploração do trabalhador, é bom lembrar que a resposta não significa que labutemos na atividade profissional até a exaustão.

Sugerem os mentores espirituais que devemos estar sempre ativos, evitando ceder espaço em nossa mente a influências deletérias e idéias infelizes, que se instalam quando nos entregamos à inércia, campo propício aos miasmas da perturbação.

Diz o velho ditado:

Mente vazia é forja do demônio.

Devemos trabalhar até o limite das forças, não no sentido material, envolvendo o ganha-pão diário. Essa atividade tende a reduzir-se na medida em que avançam os recursos tecnológicos.

No início da revolução industrial, no século XIX era comum a jornada de trabalho de doze a quatorze horas, sete dias por semana. Hoje, em países desenvolvidos, pode ser de seis horas, com descanso semanal de dois dias.

Além das horas despendidas com a atividade profissional, das necessárias ao repouso noturno, aos cuidados de higiene, à alimentação, ao atendimento da família, não podemos perder de vista, se desejamos um legítimo aproveitamento das oportunidades de edificação da jornada humana, aquelas que devemos usar, diariamente, em dois tipos de trabalho que devem completar a labuta diária:

Eternidade. Somos imortais. Vivíamos, antes do berço. Viveremos, depois do túmulo. Imperioso que privilegiemos a atividades que nos permitam adquirir aqueles valores perenes que as traças não roem nem os ladrões roubam, como ensina Jesus, representados pela virtude, o conhecimento, a cultura, com o desenvolvimento de nossas potencialidades criadoras.

Universalidade. Oportuno identificar e combater o mal maior, no estágio de evolução em que nos encontramos – o egoísmo. É por estamos muito preocupados com nosso próprio bem estar que nos complicamos nos caminhos da vida. O trabalho em favor do próximo nos ajuda a vencer o egoísmo, dando-nos a estabilidade necessária para que possamos viver em paz.

Dizia Jesus (João, 5:17):

Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.

Portanto, leitor amigo, considere:

O descansemo pode ser muito atraente, mas não é compatível com os padrões divinos.

Melhor mesmo é o trabalhemo.


sábado, 20 de setembro de 2014

UNIDOS PELO CORAÇÃO-Richard Simonetti

Como é que as dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos que as causam?

O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que choram e talvez à sua reunião com estes.

Livro dos Espíritos, questão 936.

O homem se despe e entra no chuveiro.

Súbito a porta do banheiro é arrombada. Desco­nhecidos o agarram, vendam seus olhos e o amordaçam. Conduzido ao aeroporto, é embarcado num avião, em indesejável viagem para remota região, onde o deixam sem nenhuma explicação. Confuso e desorientado va­gueia sem rumo.

Semelhante situação se assemelha a de Espíritos que retornam à Vida Espiritual abruptamente, “rapta­dos” por um acidente, um ato de violência, uma síncope fulminante.

A extensão de suas perplexidades dependerá, evidentemente, de vários fatores, destacando-se os conhecimentos relacionados com o trânsito para o Além, a maturidade emocional e, sobretudo, a natureza de seu envolvimento com os interesses materiais. Neste parti­cular, aplica-se perfeitamente a advertência de Jesus: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu co­ração” (Mateus 6, 21).

Aqueles que fazem da existência humana um fim em si, que de nada cogitam além dos seus negócios, ape­gados aos bens da Terra, terão imensas dificuldades de adaptação, se “raptados” para o continente espiritual. Um rico empresário, empolgado por suas atividades co­merciais, sem espaço em seu coração para cogitações mais nobres, sentir-se-á dolorosamente lesado, como se lhe houvessem roubado até o último centavo.

Espíritos evoluídos, que fazem “poupança para o Além”, guardando seus tesouros nos bancos da sabedo­ria e da virtude, não têm dificuldade para enfrentar a grande transição, mesmo que ocorra inesperadamente.

Herculano Pires, notável escritor e jornalista espíri­ta, é um exemplo marcante. Tendo sofrido um enfarte, foi imediatamente conduzido ao hospital. Enquanto os médicos o socorriam, iniciava-se uma reunião de estu­dos espíritas e prática mediúnica, na garagem de sua re­sidência, que funcionava como pequeno centro espírita, frequentado por amigos e admiradores. A família resolve por bem não informar o grupo reunido, a fim de evitar tumulto no hospital.

No desdobramento dos trabalhos mediúnicos, para surpresa dos presentes, um Espírito informou o faleci­mento de Herculano. Em seguida ele próprio se manifesta­va para suas despedidas, em mensagem psicografada, em que dizia:

Família querida,

Vivendo contigo dias felizes e amenos, na

[experiência do lar prossegue a vida.

Coragem e otimismo, não quero pompas nem velas,

Apenas a simplicidade do professor do interior

[em metrópole de céus e estrelas...

Sustenta em apoio vibratório a casa,

Ampara o livro da codificação,

E eu, em espírito ou memória, ao lado dos

[amigos espirituais contigo sempre estarei,

No apostolado de pregar e servir a Doutrina dos

[Espíritos, com o Mestre de Lion.

Virgínia querida, mais esposa do que esposo fui,

Já não tem falar, nem riso, não mais o poeta.

Mas que semblante triste o teu! Volte ao que era,

Como o tempo na casa velha,

Tudo é vida, das noites de rima, doutrina e cozinha,

Lar, amigos,

Não é confusão, é nova sensação,

A de viver, sentir que já não sou corpo,

Mas alma, até que enfim!

Desculpe, sou espírito de verdade,

Amparado em novas luzes,

A minha, a nossa luzinha, que ajudaste a construir...

No momento adeus, menos choro e mais café!

Se há dificuldade de captar a escrita,

Imagine a de despertar aqui,

Para dizer aos meus da sobrevivência da alma!

Muita paz em Jesus.



Somente depois do encerramento da reunião che­gou à notícia do falecimento. Ficou-se sabendo que Herculano costumava escrever poesias dirigidas aos familia­res em ocasiões especiais. E assim procedeu novamente, em data muito significativa ─ a de sua própria desencarnação! Identificamo-lo perfeitamente nas ideias e ex­pressões usadas, particularmente ao solicitar aos familia­res que trabalhem em favor da obra de Allan Kardec, o “Mestre de Lion”, como ele o fez, por supremo ideal de sua existência.

A manifestação de Herculano Pires, momentos após o seu falecimento, é um atestado eloquente de imortalidade, uma demonstração de como o Espírito es­clarecido e consciente pode superar de imediato o trau­ma da morte repentina, mas é, inegavelmente, uma ex­ceção.

Por isso, o melhor mesmo é “morrer na cama”, em doença de longo curso, que nos prepara compulsivamente, induzindo-nos à oração, à superação das ilusões, à procura da religião, ao desapego das humanas paixões, à disposição de cultivar valores espirituais. A transferên­cia, então, efetua-se de forma mais branda. Não nos sen­timos “raptados”. Podemos até ensaiar despedidas, se formos capazes de “encarar” a morte.

Em mortes “à vista” ou “a prazo”, muita gente parte despreparada; muita gente fica inconformada, originan­do dois problemas:

No primeiro, o “morto” perturba os “vivos”.

Se o desencarnante encontra dificuldades para defi­nir seu novo estado; se o afligem impressões relaciona­das com o tipo de morte que sofreu; se ele está confuso e atribulado, há uma tendência natural para procurar aqueles aos quais está ligado pelos laços do coração, que constituem parte de seu “tesouro”.

Aproxima-se deles para pedir socorro, para recla­mar atenção, para expor suas angústias e perplexida­des.

Estabelecida a sintonia entre o desencarnado e seus afetos, surge o que poderíamos definir como uma obsessão pacífica, já que não há nenhuma intenção maldosa do “obsessor”. Ele apenas quer ajuda, como alguém que, prestes a morrer afogado, agarra-se desesperadamente ao companheiro que está mais próximo.

Semelhante envolvimento impõe penosas impres­sões àqueles que o sofrem, mas não há grandes dificulda­des para ser superado. A simples frequência ao Centro Espírita vale por uma desobsessão, porquanto o desen­carnado tende a acompanhá-los, colhendo os benefícios do ambiente e das palestras, que o esclarecem e prepa­ram para a ajuda mais efetiva dos mentores espirituais.

E há o problema dos “vivos” que perturbam os “mortos”.

Particularmente nas mortes repentinas, se os fami­liares não têm nenhuma noção a respeito do assunto, tendem a cultivar ideias negativas, em insistente questio­namento íntimo. E revivem interminavelmente as cir­cunstâncias do desencarne, envolvendo um carro des­troçado, um incêndio devorador, um afogamento trági­co, um tiro fatal...

Quando o desencarnante tem certa maturidade es­piritual, superando o trauma do trágico retorno à Vida Espiritual, consegue neutralizar as vibrações de angústia e desespero dos familiares, embora lhe sejam penosas.

Se, entretanto, como ocorre com frequência, o re­torno inesperado lhe impõe perplexidades e dúvidas, o desajuste dos familiares recrudesce suas reminiscências dolorosas relacionadas com as circunstâncias de sua morte, como quem vive um pesadelo que se repete inde­finidamente.

Ao se manifestarem em reuniões mediúnicas, estes atribulados companheiros imploram aos entes queridos uma trégua em suas amargas cogitações íntimas. Não de­sejam ser esquecidos, mas que deixe de jorrar a fonte de inconsoláveis e torturantes lembranças. Que não os ima­ginem queimados, destroçados, afogados, desintegra­dos, mas vivos, num outro corpo, numa outra dimen­são.

Insistindo para que mudem suas disposições e re­tornem à normalidade, sugerem aos familiares que se disponham a trabalhar em favor dos semelhantes, inte­grando-se nos serviços da fraternidade humana.

O falecimento de um afeto caro ao nosso coração se assemelha a uma amputação psicológica. É como se arrancassem parte de nós mesmos, ficando um imenso vazio onde, se não tivermos cuidado, proliferam facil­mente os miasmas do desajuste e da perturbação.

O esforço do Bem ajuda-nos a preencher adequada­mente esse vazio, operando prodígios de refazimento em favor de nossa saúde e bem-estar, harmonizando-nos com a existência.

Obras notáveis de caridade e promoção humana têm nascido em situações dessa natureza, quando pes­soas atormentadas pelo falecimento de alguém muito querido, dedicam suas vidas à sementeira do Bem, co­lhendo consolo e alento no empenho de servir.

A saudade sempre fica, mas sem amarguras, sem do­res inconsoláveis, uma saudade suave, como a notícia fe­liz de um afeto que não se extingue jamais, assegurando-lhes, no recôndito da alma, que seus amados estão presentes no seu dia-a-dia, no trabalho edificante que executam, nas lágrimas que enxugam, nas bênçãos que dis­tribuem. Embora habitando mundos paralelos, permanecem unidos pelo coração. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

ATITUDES DE URGÊNCIA

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Urgência. Lição nº 01. Página 20.

Em favor da paz em ti e em torno de ti, não te esqueças das Atitudes de Urgência.

Cultiva a fé em Deus para que não te falte a tranquilidade do espírito.

Age sempre, buscando servir.

Lembra-te de que outros farão a ti o que fizeres dos outros e com os outros.

Espalha o bem que puderes, onde puderes e quanto puderes.

Não cobres tributos de gratidão.

Abstém-te de procurar defeitos no próximo, recordando que todos nós, os espíritos ainda vinculados à evolução da terra, temos ainda o lado escuro do próprio ser por iluminar.

Evita o ressentimento para que o ódio não se te faça veneno na vida e no coração.

Esquece as ofensas, incondicionalmente, na certeza de que as agressões pertencem aos agressores.

Já que nem sempre será possível viver sem adversários, não olvides o respeito que lhes é devido.

Se erraste, apressa-te a corrigir-te.

Na hipótese de haveres ferido a alguém, solicita desculpa a quem prejudicaste, reparando essa ou aquela falta cometida.

Cumpre o dever a que te empenhaste.

Não descarregues em ombros alheios as obrigações que te competem.

Guarda fidelidade aos compromissos assumidos para que os teus companheiros se te mantenham fiéis.

Não acredites em facilidades sem preço.

Conserva correção nas tarefas pequenas, para que essa mesma correção não se te faça pesada nas grandes tarefas.

Nos instantes de crise, não te suponhas a única pessoa em provação sobre a terra para que a tua dor não se converta em perturbação.

Trabalha sempre e sê útil, sem transitar nos labirintos do tempo perdido, ainda mesmo quando te reconheças sem a necessidade de trabalhar.

Usa criteriosamente a vida e os bens da vida, reconhecendo que tudo pertence a Deus que, por amor, te empresta semelhantes recursos e a quem, no momento oportuno, tudo precisarás restituir.

Nessas Diretrizes, seguiremos tranquilos, estrada adiante, e, conquanto as imperfeições de que ainda sejamos portadores, estaremos, com a Bênção de Deus, na condição de Obreiros da Paz.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Quanto mais crise, melhor! Orson Peter Carrara 

Debatemo-nos, muitas vezes angustiados, com as chamadas crises que dizemos abatem a humanidade. Em nosso caso particular, no Brasil, ficamos indignados com a corrupção e todos os demais desafios da violência, tráfico de drogas, crianças e idosos abandonados, etc, etc, etc.
Mas, convenhamos. Na maioria das vezes, a única maneira de provocar mudanças, individual e coletivamente, é através de crises que conclamam alterações em posturas já cristalizadas e viciadas. Sem ela, a acomodação com o já estabelecido tem sido vencedora das mais diversas situações. São poucas as iniciativas que modifiquem os fatos, sem as crises que demonstrem a necessidade de mudanças.
A crise e suas consequências provocam reflexão, amadurecimento, ou seja, vamos aprendendo a fazer melhores escolhas. Isto inclui o uso correto do voto, melhor administração da vida privada e pública e as próprias modificações morais – no campo individual mesmo – que todos temos necessidade de fazer.
Se não houvesse a crise, estaríamos todos muito bem acomodados. E não haveria progresso. O próprio planeta, em suas estruturas sociais – e até geológicas – vive sofrendo crises que modificam as circunstâncias...
Assim é que na vida individual, ela, a crise, nos faz sair do lugar. Na dificuldade financeira, incita-nos a administrar melhor os próprios gastos; na enfermidade, exige avaliação de nosso proceder; nos relacionamentos, pede revisão de nossa conduta; nas angústias e aflições, ensina-nos a procurar ajuda e confiar. 
Na vida pública ensina-nos o respeito às leis, à ordem, ao respeito ao patrimônio público, etc. Na vida das instituições igualmente não é diferente. Uma má escolha redunda em modificações que muitas vezes alteram toda uma estrutura – antes modelar –, o que nos ensina a repensar nossa participação no cotidiano de nossas atividades.
É a crise que nos leva à reciclagem profissional, que nos estimula voltar a estudar, a reler o que antes não entendemos; é ela, a crise, que nos faz cuidar melhor da saúde; a administrar finanças com critério. Ora, os exemplos são muitos. Basta pensar na própria crise individual que vivemos que já acharemos respostas imediatas.
Por isso, em termos de crise nacional ou coletiva, basta buscar a sábia resposta na questão 932 deO Livro dos Espíritos, em outras palavras: O predomínio do mal, no mundo, se dá pela timidez dos bons; quando estes o quiserem, dominarão.
Possamos, pois, prestarmos mais atenção no sentido da crise que nos incomoda tanto. Não há nela uma mensagem pedindo mudanças que nos trarão o bem que esperamos?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

DAR AOS POBRES - Richard Simonetti



Reza a sabedoria popular: quem dá aos pobres empresta a Deus. A origem está num adágio, contido em Provérbios, na Bíblia. 

O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, e Ele lhe recompensará o benefício (19:17).

Os empresários deveriam considerar essa possibilidade. Atender os pobres seria, talvez, o mais valioso de todos os investimentos. Que agente melhor credenciado para gerir o nosso dinheiro? O próprio Criador!

Dinheiro investido na população carente – rendimento seguro, infalíveis recompensas, retorno enriquecido do capital aplicado, com as benesses da contabilidade divina.

Oportuno, portanto, abrir as burras, isto é, os cofres, em favor dos desvalidos. 

Quem mais doar, mais receberá!

O Espiritismo é um desmancha-prazeres, mais exatamente, um desmancha negócios, porquanto esclarece que dar aos pobres não é mero investimento. Somos convocados a fazê-lo, não para multiplicar nosso capital na Terra ou conquistar o Céu.

Há uma única e irrecusável motivação: é o nosso dever!

Imperioso atender os pobres sem pensar em galardões. Quando muito, cogitando de uma única recompensa:

A certeza do dever cumprido! 

Talvez pareça pouco, meu caro leitor, mas lembre-se: sem o cultivo do Bem, sem o empenho em minorar as misérias humanas, jamais teremos paz. A ausência dela, como você sabe, é a pior de todas as carências. Sem ela de nada nos valerá ganhar o mundo. Haverá sempre um gosto amargo de insatisfação em nossas realizações.

Em defesa da paz, portanto, vamos emprestar a Deus, não apenas o nosso dinheiro, mas também o nosso tempo, o nosso trabalho, a nossa dedicação, a nossa vida, atendendo aos apelos da solidariedade!

Somente assim seremos realmente ricos.

Ricos das bênçãos divinas!

Ricos de felicidade!

Ricos de paz!

INVESTIMENTOS

Como aplicar bem o dinheiro?

Faça doações.

Qual a vantagem?

É um investimento.

Para garantir o Céu?

Para abençoar a Terra.

Há bons rendimentos?

Alegria e bem-estar.

Por que é tão difícil?

O egoísmo atrapalha.

Como neutralizar o egoísmo?

Investindo na compaixão.

Em que instituição?

No Banco do coração. 

sábado, 6 de setembro de 2014

FÉ EM DEUS

Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Amigo. Lição nº 20. Página 123.

A Fé em Deus não te arredará das provas inevitáveis, mas te investirá na força devida para suportá-las...

- não te afastará os obstáculos do caminho, entretanto, doar-te-á a significação de cada um deles, para que recebas, em silêncio, a mensagem de que são portadores;

- não impedirá o afastamento dos companheiros a que mais te afeiçoas, nos encargos que te marcam a vida, todavia, conceder-te-á energias e recursos para substituí-los, até que surjam outros cooperadores decididos a apoiar-te;

- não te livrará da enfermidade de que ainda precises, no entanto, iluminar-te-á o entendimento para que lhe assimiles o recado salutar;

- não te retirará dos desenganos e decepções que o mundo te propicie, mas auxiliar-te-á a extrair deles mais luz ao próprio discernimento;

- não te desligará do parente difícil, porém, ajudar-te-á a aceitá-lo e compreendê-lo em teu próprio benefício;

- não te proibirá as quedas prováveis nas trilhas da existência, no entanto, ensinar-te-á, através da própria dor, onde se encontram as situações que te cabe evitar, em auxílio a ti mesmo;

- não te demitirá dos problemas que, porventura, te ameacem a paz, contudo, dar-te-á serenidade para resolvê-los com segurança;

- não te buscará nos labirintos de ilusão, nos quais talvez hajas penetrado, impensadamente, entretanto, clarear-te-á o raciocínio para te libertares.

A Fé em Deus, por fim, não te mudará os quadros exteriores de luta, mas infundir-te-á Paciência a fim de que compreendas em todos eles os degraus de elevação, de que necessitas, para escalar os cimos da vida imperecível.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A FORÇA DO EXEMPLO

Pelo Espírito Hilário Silva. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Almas em Desfile. Primeira Parte - Lição nº 03. Página 24.

José do Espírito Santo, modesto espírita de Nilópolis, Estado do Rio, falava à porta do Centro Espírita, a pequeno grupo de amigos:

- Sim, meus irmãos, a caridade é a maior bênção.

Nisso, passam dois estudantes, ouvem breves trechos da palestra e avançam conversando:

- Você ouviu? Todo espírita é só “fachada”!

- Realmente. Fazem as coisas “para inglês ver”.

Logo depois, os rapazes deparam com infeliz mendigo. Pálido e doente. Sem paletó. Camisa em frangalhos. Pele à mostra. A tiritar de frio, estende-lhes a mão magra.

Um dos estudantes dá-lhe alguns centavos.

Notam, então, que José do Espírito Santo vem vindo sozinho, pela rua.

E um deles diz:

- Olhe! Lá vem o “tal”! Aposto que não dará nada a esse homem.

- Sim. Vamos ver. Afastemos um pouco, senão ele vai querer “fazer cartaz”.

Os dois jovens ficaram escondidos na esquina, um pouco adiante.

O pedinte roga auxílio.

José do Espírito Santo chega junto dele e o abraça, fraterno. Em seguida, apalpa os bolsos e exclama:

- Infelizmente, meu amigo, estou sem um níquel...

Os jovens entreolharam-se, rindo...

Um deles recorda:

- Não lhe disse?...

O espírita condoeu-se, vendo a nudez do homem que tremia de frio. Deitou um olhar em torno para ver se estava sendo observado. Sentiu a rua deserta. Num gesto espontâneo, José do Espírito Santo tirou o paletó. Dependurou a peça num portão de residência próxima, arrancou a camisa felpuda e, seminu, vestiu-a no companheiro boquiaberto, mas encantado.

A seguir, após recobrir, à pressa, o busto nu com o paletó, disse com simplicidade:

- Meu amigo, é só isso que tenho hoje. Volte aqui mesmo amanhã.

E estugou o passo para a frente, enquanto o necessitado sorria, feliz.

No outro dia, os dois estudantes estavam no templo espírita, ouvindo a pregação.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Respeito à Pátria, compromisso inadiável! – Orson Peter Carrara

A vida permitiu-nos renascer no Brasil, a querida Pátria que nos acolhe. A história do país, na colonização, nos embates para a construção da democracia e mesmo nos gigantescos desafios da atualidade – onde se incluem a violência e o tráfico, o contraste entre os interesses de variadas ordens e a corrupção, entre outros itens dispensáveis de serem citados –, também apresenta os benefícios de um povo aberto, feliz, descontraído, ardente na fé e na disposição. 

É nosso querido Brasil, gigantesco em proporções geográficas e na diversidade que se apresenta em todos os aspectos! Bendita pátria!

Por outro lado, o país acolheu a Doutrina Espírita como nenhum o fez. Das sementes germinadas em solo francês, foi aqui que a grande árvore do conhecimento se fez gigante como o próprio país continental. E nós temos a felicidade de conhecer essa Doutrina maravilhosa que inspira ações de caridade – em toda a extensão da palavra –, convivência fraterna e amiga por toda parte. Apesar das dificuldades e limitações humanas que são nossas, individuais e coletivas, ele, o Espiritismo, espalhou e espalha seus frutos pelas mentes e corações que o buscam ou são beneficiados por sua imensa luz.

Estamos no mesmo país que recebeu o cognome de Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, justa e coerente adjetivação para um povo ameno, solidário, apesar das lutas próprias de nossa condição humana. É aqui que as variadas expressões religiosas se manifestam para conduzir mentes e corações; é também nessa terra querida que nasceram ou renasceram almas que conhecemos sob os abençoados nomes de Irmã Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, Divaldo Franco, Dr. March, Dr. Bezerra de Menezes, entre tantos outros ilustres filhos que lhe dignificam o nome, sendo impossível citar todos e mesmo especificá-los por área, tamanha a variedade e quantidade de benfeitores que aqui vieram e ainda aqui vivem.

Setembro lembramos a Pátria, desde os tempos escolares. Setembro também normalmente estamos às vésperas das eleições, como ocorre agora em 2014. Isso lembra responsabilidade, comprometimento, ética. Afinal, temos um compromisso com o país, com a coletividade brasileira. Qualquer cidadão está comprometido com a segurança, com os valores do país, com a obrigação moral da retidão e da gratidão, que se estendem por ações em favor do bem comum. É o dever! Não apenas um dever cívico, mas o dever moral para conosco mesmo e para com o próximo, como indica o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Aliás, lembrando a Codificação Espírita, há que se ater às Leis Divinas, didaticamente apresentadas pelo Codificador em O Livro dos Espíritos. Leis que baseiam-se no amor, diga-se de passagem, mas igualmente são justas e misericordiosas.

Por tudo isso, a reflexão sobre nosso papel de brasileiros perante a Pátria Brasileira inclui-se igualmente no dever, ainda que apenas por gratidão pelo país que nos acolhe, garantindo-nos a paz desse foco irradiador de trabalho e fé que é o Brasil. Tamanho compromisso dispensa corrupção, egoísmo e tolas vaidades. Pede-nos, isso sim, trabalho e dignidade, exatamente pelo alto compromisso que todos temos com a vida e seu significado. O que significa, em termos de eleições para outubro próximo, o compromisso com a decência e a escolha consciente sem outros interesses que não os da coletividade.

Repare o leitor atento que, quando ouvimos o Hino Nacional, a emoção nos envolve completamente. É o sentimento de compromisso com a missão da Pátria que integramos. O renascimento no país não é obra do acaso. Indica comprometimento e programação sabiamente elaborada. Saibamos respeitar e cumprir o que antes prometemos.

O Brasil tem grande papel a exercer junto à Humanidade. Filhos dignos, espíritos preparados e nobres estão sempre presentes como autênticos faróis a conduzir a coletividade. Sejamos daqueles que honram nossa condição humana e brasileira! Exemplos não faltam.

Por gratidão, ao menos, ao querido e grandioso Brasil! Lembremo-nos: o planeta construído por Jesus teve na mente e planejamento do Mestre da Humanidade a inclusão desse país incomparável, onde germinam as doces brisas do Evangelho. 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

TOC-TOC-TOC

Richard Simonetti

Três velhinhas tomavam o chá da tarde.

Preocupada, ponderava uma delas:

– Minhas queridas, creio que estou ficando esclerosada. Ontem me vi com a vassoura na mão e não me lembrava se varrera a casa ou não.

– Isso não é nada, minha filha – comentou a segunda –, noutro dia, de camisola ao lado da cama, eu não sabia se tinha acabado de acordar ou se me preparava para dormir.

– Cruzes! – espantou-se a terceira. – Deus me livre de ficar assim! 

E deu três pancadas na mesa, com o nó dos dedos, toc-toc-toc, enfatizando:

– Isola!

Logo emendou:

– Esperem um pouco. Já volto. Tem gente batendo na porta!

Pois é, leitor amigo, parece que velhice é sinônimo de memória fraca, raciocínio lento, confusão mental…

Sabemos que a evocação do passado e o registro do presente dependem das conexões entre os neurônios, as chamadas sinapses. Há uma perda de ambos com o passar do tempo.

O cérebro também envelhece.

Mas, e o Espírito?

Não reside no ser pensante, imortal, a sede da memória?

Não está o Espírito isento de degeneração celular?

Obviamente, sim! 

Ocorre que, enquanto encarnados, dependemos do corpo para as inserções mnemônicas na dimensão física, tanto quanto o pianista depende do piano ou o orador depende das cordas vocais. 

Uma das razões pelas quais não temos consciência das vidas anteriores é a ausência de registros relacionados com elas em nosso cérebro.

Pelo mesmo motivo, temos dificuldade para lembrar as experiências extracorpóreas, durante as horas de sono, na emancipação da Alma, como define Allan Kardec. 

Natural, portanto, que tudo o que afeta a massa cinzenta, perturbe a memória – acidentes, concussões cerebrais, distúrbios circulatórios, doenças degenerativas, envelhecimento...

Sabe-se hoje que é possível prolongar o viço, cultivando existência saudável – ginástica, alimentação adequada, disciplina de trabalho e repouso, ausência de vícios…

Da mesma forma, podemos conservar, até a idade provecta, a acuidade mental, desde que nos disponhamos a elementar cuidado: exercitar os miolos. Todo labor intelectual, que implica em movimentação dos neurônios, é salutar. 

Neste aspecto, os pesquisadores têm valorizado a leitura. A concentração exigida, quando lemos, é um exercício prodigioso para o cérebro, tanto mais vigoroso quanto maior o grau de concentração e o empenho por digerir o que lemos.

A experiência demonstra: as pessoas que cultivam o hábito de ler chegam mais longe com lucidez, preservam a memória, não obstante o avançar dos anos.

Sem movimentar os neurônios a velhice perde-se em sombras. 

É preciso conservar a vivacidade, o ideal de aprender, de desdobrar experiências, considerando que sempre é possível ampliar horizontes, fazer novas aquisições.

Alguém poderia contestar, afirmando que seria pura perda de tempo na idade provecta, em contagem regressiva para vestirmos o pijama de madeira e nos transferirmos para a cidade dos pés juntos.

Ocorre que lá ficarão apenas nossos despojos carnais.

Espíritos imortais, habitaremos outros planos do infinito.

Portanto, nenhum aprendizado será ocioso.

Um velhinho de oitenta anos propôs-se a tocar piano. O professor alertou:

– Estudo longo e cansativo. Pela ordem natural, o senhor não usufruirá desse aprendizado. 

E ele, animado:

– De forma alguma! Se não der para tocar aqui, serei pianista no Além!

Certíssimo! 

É assim que crescemos espiritualmente e mantemos azeitadas as engrenagens da mente, para que nunca nos falte esse élan que valoriza e torna feliz a existência, promovendo nossa evolução.

Praza aos céus seja essa a marca de nossos dias.

Toc-toc-toc!