quinta-feira, 27 de março de 2014

Tijolos... – Orson Peter Carrara

 Claro que o que você vai ler abaixo é simbólico, mas bem retrata a atual situação do mundo...
Um jovem e bem sucedido executivo dirigia por sua vizinhança, correndo um pouco demais em seu novo Jaguar. Observando crianças se lançando entre os carros estacionados, diminuiu um pouco a velocidade, quando achou ter visto algo.
Enquanto passava, nenhuma criança apareceu. De repente um tijolo espatifou-se na porta lateral do Jaguar! Freou bruscamente e deu ré até o lugar de onde teria vindo o tijolo. Saltou do carro e pegou bruscamente uma criança entre alguns veículos estacionados e gritou:
- Por que isso? Quem é você? Que besteira você pensa que está fazendo? Este é um carro novo e caro, aquele tijolo que você jogou vai me custar muito dinheiro. Por que você fez isto?
- Por favor senhor me desculpe, eu não sabia mais o que fazer! - Implorou o pequeno menino - Ninguém estava disposto a parar e me atender neste local.
Lágrimas corriam do rosto do garoto, enquanto apontava na direção dos carros estacionados.
- É meu irmão. Ele desceu sem freio e caiu de sua cadeira de rodas e não consigo levantá-lo.
Soluçando, o menino perguntou ao executivo:
- O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.
Movido internamente muito além das palavras, o jovem motorista engolindo "nó imenso" dirigiu-se ao jovenzinho, colocando-o em sua cadeira de rodas.
Tirou seu lenço, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo estava bem.
- Obrigado e que meu Deus possa abençoá-lo - a grata criança disse a ele.
O homem então viu o menino se distanciar... empurrando o irmão em direção à casa.
Foi um longo caminho de volta para o Jaguar... um longo e lento caminho de volta. Ele nunca consertou a porta amassada. Deixou amassada para lembrá-lo de não ir tao rápido pela vida, que alguém tivesse que atirar um tijolo para obter a sua atenção.
Deus sussura em nossas almas e fala aos nossos corações.
Algumas vezes quando nós não temos tempo de ouvir, Ele tem de jogar um tijolo em nós.
É sua escolha: ouvir o sussurro ou esperar pelo tijolo!
Boa reflexão!

"O sofrimento é o alto-falante de Deus para um mundo surdo"

Não esperem pelo "tijolo".

É claro também que Deus não atira tijolos em seus filhos. Porém, a insensibilidade humana requer mesmo umas boas "chacoalhadas" para despertar do letárgico sono da indiferença... Qualquer semelhança com os dias atuais é mera coincidência.

quarta-feira, 26 de março de 2014

SINAIS DE ALARME Pelo Espírito Scheilla. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Ideal Espírita. Lição nº 27. Página 73.

Há dez sinais vermelhos, no caminho da experiência, indicando queda provável na obsessão:

quando entramos na faixa da impaciência;

quando acreditamos que a nossa dor é a maior;

quando passamos a ver ingratidão nos amigos;

quando imaginamos maldade nas atitudes dos companheiros;

quando comentamos o lado menos feliz dessa ou daquela pessoa;

quando reclamamos apreço e reconhecimento;

quando supomos que o nosso trabalho está sendo excessivo;

quando passamos o dia a exigir esforço, sem prestar o mais leve serviço;

quando pretendemos fugir de nós mesmos, através da gota de álcool ou da pitada de entorpecente;

quando julgamos que o dever é apenas dos outros.

Toda vez que um desses sinais venha a surgir no trânsito de nossas idéias, a Lei Divina está presente, recomendando-nos, a prudência de parar no socorro da prece ou na luz do discernimento.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Única alternativaOrson Peter Carrara
               Multiplicam-se as tragédias sociais no planeta. E não precisamos sair do Brasil para constatar o agigantar crescente, diário, dos crimes, das explosões em terminais bancários, da corrupção galopante, da destruição de famílias inteiras com a invasão das drogas ou com os homicídios passionais. Entre as causas estão a vaidade, o orgulho, a ganância, o ciúme, a inveja e mesmo a prepotência ou todo tipo de arrogância, geradores das angústias humanas e todos efeitos diretos do egoísmo que ainda nos caracteriza a condição humana.
               E acrescente-se a esse difícil quadro as doenças que se multiplicam assustadoras, a falta de chuvas com seus desdobramentos, o aborto, o desemprego e tantos outros desafios, inclusive os de natureza interior como a timidez, a insegurança e por aí vai.
               A presente abordagem não é pessimista. Ao contrário desejamos mostrar outro ângulo da velha questão que ainda infelicitam as gerações. Apenas iniciamos a abordagem com a cruel realidade de nosso tempo, sem nos determos em outros detalhes e situações bem conhecidas que agravam ainda mais o cotidiano.
               Somos pela vida, pela esperança, pela alegria de viver, pela gratidão a Deus.
               O que ocorre é que, como seres humanos, não temos outra alternativa: ou melhoramos moralmente ou melhoramos moralmente. Não há outro caminho.
               A melhora moral traz alegria, esperança, gratidão, solidariedade. Tais virtudes modificam completamente o quadro social onde se apresentam. Elas diluem as mágoas – causa conhecida de muitas doenças –, afastam o crime, modificam os ambientes de carência e miséria, demitem a corrupção, dispensam as drogas e a violência em geral, pois que com elas não há lugar para o egoísmo, pai de todos os vícios e desarmonias sociais.
               É o velho ensino de fazer aos outros o que queremos para nós mesmos. Não há desculpas mais que justifiquem a permanência no velho egoísmo da satisfação de caprichos pessoais em detrimento da tranquilidade alheia. É exatamente pela melhora individual que conseguiremos as tão sonhadas reformas sociais que trazem a esperada felicidade.
               Não teremos felicidade enquanto houver benefícios para uns em detrimento de outros. A igualdade é uma lei, assim como o amor. Sim, uma lei da vida. Pode não ser uma lei humana, mas enquanto desrespeitarmos o próximo – e esse desrespeito está em todo tipo de marginalização ou diferença que façamos a alguém – não teremos a paz social.
               Note-se o quadro social da atualidade. Os desafios aí presentes são frutos imediatos ou veteranos dos velhos vícios humanos de tirar vantagens, de atendermos interesses próprios em detrimento do interesse coletivo. E convenhamos que há situações e situações, múltiplas, onde nos portamos de maneira a desrespeitar as diferenças humanas.
               Então, a solução para os dias que correm é nossa melhora moral. Uma pessoa melhor faz sua família melhor, que, por sua vez, reflete-se na vida social.
               Ou aprendemos a amar sem distinção ou continuaremos nessa roda viciosa dos desafios sem fim que se multiplicam, envergonhando nossa condição humana.
               Crimes, corrupção, vaidades ou qualquer tipo de sentimento ou ação que denigram interesses coletivos são contabilizados como débitos morais que deveremos reparar.
               É algo para pensar, não é? Inclusive com nossos filhos e o tipo de influência que estamos exercendo uns sobre os outros.

terça-feira, 18 de março de 2014

DINÂMICA DA RESIGNAÇÃO - Richard Simonetti
        Uma das mais belas virtudes que exornam a alma humana é a resignação, a expressar-se na aceitação dos males da existência, por fruto da vontade sábia e justa de Deus. 

O Senhor deu, o Senhor tirou! Bendito seja o seu santo nome! – dizia serenamente Jó, após receber a notícia de que seus filhos estavam mortos e perdidos os seus bens. 

Surgem, entretanto, sentimentos que, aparentando resig­nação, conduzem a caminhos tortuosos, distanciados dos desígnios divinos. Há viajores que pedem pouso em albergues, revelando-se conformados com a indigência em que se encontram. Proclamam sua confiança no Todo-Poderoso, mas, quando o Senhor lhes fa­culta recursos de recuperação, no trabalho digno que surge, pre­ferem as incertezas do caminho, demandando nova cidade. Esta resignação chama-se vadiagem.

Há chefes de família que procuram instituições de benefi­cência, a implorar auxílio. Não obstante a precária situação em que se encontram, repetem com convicção: Se Deus quiser, tudo há de melhorar! – mas continuam a pedir, alheios a qualquer esforço, ensaiando a profissão de mendigar. Esta resignação chama-se indolência. Há crentes fervorosos que enfrentam aflitivos transes, de coração voltado para o Onipotente, sem palavras de desespero ou revolta, mas recusam buscar a normalidade, cultivando durante largos anos impressões que pertencem ao passado. Esta resigna­ção chama-se volúpia de sofrer. 

Há ardorosos fiéis que, colhidos por dificuldades e atri­bulações, erguem comoventes preces ao Alto, exaltando sub­missão à Vontade Celeste, mas passam as horas em queixas amargas e azedas imprecações, como se carregassem sobre os ombros as dores do mundo. Esta resignação chama-se comple­xo de vítima. 

Admitir na adversidade a manifestação de desígnios divi­nos nenhum bem nos trará se não considerarmos que o Senhor espera, sobretudo, que sigamos adiante, com a disposição de quem pretende melhorar a paisagem do mundo pela renovação de si mesmo.  Se um terremoto destrói nossa casa, é sublime manter a serenidade, considerando que é a Vontade Maior que se cumpre. Todavia, cruzar os braços e esperar que do solo brote nova resi­dência é escolher o pior processo de reconstrução. 

Mesmo os transcendentes princípios da Doutrina Espíri­ta, que iluminam o caminho humano, proporcionando-nos uma visão panorâmica da Vida, pouco representarão se não alcançar­mos seu significado mais amplo, a indicar que é preciso confiar em Deus, mas é preciso, também, ação decidida no campo de no­bres experiências, para que o Senhor possa confiar em nós, na edificação de um futuro de bênçãos. 

Não basta que o conhecimento favoreça a resignação, por­que conhecimento implica responsabilidade de viver. Viver, no sentido exato, é evolver, e ninguém evoluirá sem esforço. 

Há muitos anos conhecemos simpática senhora, cujo filho fora vitimado, juntamente com outras crianças, em trágico desas­tre que enlutara dezenas de lares. Dias mais tarde, enquanto as outras mães ainda choravam, em desespero, ela adotava um órfão, entregando-lhe as roupas, o quarto, os brinquedos e demais pertences do querido morto. 

O filho que partiu nunca sairá de seu coração, mas o cari­nho que dedica ao filho que ela acolheu é bênção celeste em sua vida. 

Eis a verdadeira resignação: – Senhor, seja feita a tua vontade! – diz uma mãe que per­deu o filho. E, cumprindo a vontade do Senhor, aconchega ao seio um filho que perdeu a mãe!

segunda-feira, 17 de março de 2014

SINTONIA  - Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
As bases de todos os serviços de intercâmbio, entre os desencarnados e encarnados, repousam na mente, não obstante as possibilidades de fenômenos naturais, no campo da matéria densa, levados a efeito por entidades menos evoluídas ou extremamente consagradas à caridade sacrificial.

De qualquer modo, porém, é no mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos da comunhão de espírito a espírito.

Daí procede a necessidade de renovação idealística, de estudo, de bondade operante e de fé ativa, se pretendemos conservar o contato com os Espíritos da Grande Luz.

Simbolizemos nossa mente como sendo uma pedra inicialmente burilada.

Tanto quanto a do animal, pode demorar-se, por muitos séculos, na ociosidade ou na sombra, sob a crosta dificilmente permeável de hábitos nocivos ou de impulsos degradantes, mas se a expomos ao sol da experiência, aceitando os atritos, as lições, os dilaceramentos e as dificuldades do caminho por golpes abençoados do buril da vida, esforçando-nos por aperfeiçoar o conhecimento e melhorar o coração, tanto quanto a pedra burilada reflete a luz, certamente nos habilitamos a receber a influência dos grandes gênios da sabedoria e do amor, gloriosos expoentes da imortalidade vitoriosa, convertendo-nos em valiosos instrumentos da obra assistencial do Céu, em favor do reerguimento de nossos irmãos menos favorecidos e para a elevação de nós mesmos às regiões mais altas.

A fim de atingirmos tão alto objetivo é indispensável traçar um roteiro para a nossa organização mental, no Infinito Bem, e segui-lo sem recuar.

Precisamos compreender - repetimos - que os nossos pensamentos são forças, imagens, coisas e criações visíveis e tangíveis no campo espiritual.

Atraímos companheiros e recursos, de conformidade com a natureza de nossas idéias, aspirações, invocações e apelos.

Energia viva, o pensamento desloca, em torno de nós, forças sutis, construindo paisagens ou formas e criando centros magnéticos ou ondas, com os quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação dos outros.

Nosso êxito ou fracasso dependem da persistência ou da fé com que nos consagramos mentalmente aos objetivos que nos propomos alcançar.

Semelhante lei de reciprocidade impera em todos os acontecimentos da vida.

Comunicar-nos-emos com as entidades e núcleos de pensamentos, com os quais nos colocamos em sintonia.

Nos mais simples quadros da natureza, vemos manifestado o princípio da correspondência.

Um fruto apodrecido ao abandono estabelece no chão um foco infeccioso que tende a crescer, incorporando elementos corruptores.

Exponhamos a pequena lâmina de cristal, limpa e bem cuidada, à luz do dia, e refletirá infinitas cintilações do Sol.

Andorinhas seguem a beleza da primavera.

Corujas acompanham as trevas da noite.

O mato inculto asila serpentes.

A terra cultivada produz o bom grão.

Na mediunidade, essas leis se expressam ativas.

Mentes enfermiças e perturbadas assimilam as correntes desordenadas do desequilíbrio, enquanto que a boa vontade e a boa intenção acumulam os valores do bem.

Ninguém está só.

Cada criatura recebe de acordo com aquilo que dá.

Cada alma vive no clima espiritual que elegeu, procurando o tipo de experiência em que situa a própria felicidade.

Estejamos, assim, convictos de que os nossos companheiros na Terra ou no Além são aqueles que escolhemos com as nossas solicitações interiores, mesmo porque, segundo o antigo ensinamento evangélico
: - “teremos nosso tesouro onde colocamos o coração”.

sexta-feira, 14 de março de 2014

O ÓBVIO - por Richard Simonetti
        Alguém perguntou a Chico Xavier:
        – Qual o homem mais rico?
        – O que tem menos necessidades.
        – E o homem mais justo e sábio?
        – O que cumpre com o dever.
        – Isso tudo é o óbvio…
        – Meu filho, tudo que está no Evangelho é o óbvio.
        Observação perfeita!
        No livro Eclesiastes, no Velho Testamento, há uma observação muito citada (1:9): Não há nada de novo debaixo do Sol.
        Em se tratando da sabedoria humana, nos domínios do Bem e da Verdade, bem como as conquistas sociais, nos domínios da justiça, da vida social, da atividade religiosa, no que há de mais puro e inspirador, não há nada de novo depois do Evangelho.
        Todas essas realizações guardam suas origens nos ensinamentos de Jesus. Como diz Chico, isso será sempre o óbvio.
        No comentário à questão 625, de O Livro dos Espíritos, Kardec explica que sendo Jesus o mais puro Espírito que já esteve na Terra, o próprio Criador o inspirava, o que significa que o Evangelho é o código do amor divino, base fundamental de todas as realizações mais nobres da Humanidade.
        Dois exemplos práticos:
        Serviço Social: Certa feita, participando de um curso de relações humanas no trabalho, observei, admirado, que tudo o que o monitor expunha, em favor de uma convivência produtiva entre funcionários e chefes, guardava relação com o Evangelho.
        Munido de uma chave-bíblica, eficiente recurso de localização de textos na Bíblia, estabeleci um confronto entre as teorias do curso e as lições de Jesus. Apresentei o resultado numa das aulas. O monitor e os colegas ficaram admirados ao constatar que, sem que fosse usado o nome de Jesus, muito de suas lições estavam contidas no curso.
        Direito: A justiça brasileira vem aplicando as chamadas penas alternativas para determinados crimes. Sabemos que as prisões são escolas de criminalidade. O sentenciado costuma sair dali pior do que entrou, sob influência do ambiente que é medonho. Assim, em vez de confinar o infrator, gerando problemas para o futuro, com quase inevitável reincidência, o juiz determina que ele preste serviços comunitários, colaborando em instituições filantrópicas.
        Ensinava Jesus (Mateus, 5:20): Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus.
        A justiça dos escribas e fariseus é a do olho por olho, dente por dente, de Moisés, cheirando a vingança. A sociedade vinga-se do infrator confinando-o. É preciso ir além, considerando sua condição e suas limitações, lembrando ainda com Jesus (Mateus, 9:12): Os sãos não precisam de médico.
        Quando a justiça humana recorre às penas alternativas está dando ao infrator o melhor remédio – o compromisso de um trabalho, atendendo a uma instituição que serve à comunidade. Isso é de inspiração evangélica.
        O Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, tem acolhido sentenciados em penas alternativas.  São pessoas do bem, diríamos, que deram um passo em falso. Cumprem pena prestando serviços na instituição e posteriormente, não raro, tornam-se voluntários. Há um excelente funcionário que começou a trabalhar como sentenciado. Se tivesse sido confinado numa penitenciária, só Deus sabe o que poderia lhe acontecer.
        Tudo o que de bom e belo há na sociedade humana vem das sementes lançadas por Jesus, em favor da construção do Reino de Deus. Lentamente, com imensa dificuldade, vamos tendo uma harmonização entre a orientação do Homem na vida social, e a orientação de Jesus, para que finalmente o Reino se consume.
        Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec debulha para nós as lições de Jesus, mostrando-nos como podemos estender o Bem ao redor de nossos passos para que o Bem se realize em nós.
        Como diria Chico: – Isso tudo é o óbvio!

quinta-feira, 13 de março de 2014


O PODER DA NÃO VIOLÊNCIA - Dr. Arun Gandhi

             O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do Instituto M. K. Gandhi para a Vida Sem Violência, em sua palestra de 9 de junho, na Universidade de Porto Rico, compartilhou a seguinte história como exemplo da vida sem violência exemplificada por seus pais:

"Eu tinha 16 anos e estava vivendo com meus pais no instituto que meu avô havia fundado, a 18 milhas (mais ou menos 29 Km) da cidade de Durban, na África do Sul, em meio a plantações de cana de açúcar.

Estávamos bem no interior do país e não tínhamos vizinhos. Assim, sempre nos entusiasmava, às duas irmãs e a mim, poder ir à cidade visitar amigos ou ir ao cinema.

Certo dia, meu pai me pediu que o levasse à cidade para assistir a uma conferência que duraria o dia inteiro, e eu me apressei de imediato diante da oportunidade.

Como iria à cidade, minha mãe deu-me uma lista de coisas do supermercado, as quais necessitava, e como iria passar todo o dia na cidade, meu pai me pediu que me encarregasse de algumas tarefas pendentes, como levar o carro à oficina.

Quando me despedi de meu pai, ele me disse: “Nós nos veremos neste local às 5 horas da tarde e retornaremos à casa juntos”.

Após, muito rapidamente, completar todas as tarefas, fui ao cinema mais próximo. Estava tão concentrado no filme, um filme duplo de John Wayne, que me esqueci do tempo. Eram 5:30 horas da tarde, quando me lembrei.

Corri à oficina, peguei o carro e corri até onde meu pai estava me esperando. Já eram quase 6 horas da tarde.

Ele me perguntou com ansiedade: “Por que chegaste tarde?”

Eu me sentia mal com o fato e não querendo dizer a meu pai que estava assistindo um filme de John Wayne. Então, eu lhe disse que o carro não estava pronto e que tive que esperar... isto eu disse sem saber que meu pai já havia ligado para a oficina.

Quando ele se deu conta de que eu havia mentido, disse-me: “Algo não anda bem, na maneira pela qual te tenho educado, que não te tem proporcionado confiança em dizer-me a verdade”.

Vou refletir sobre o que fiz de errado contigo. Vou caminhar as 18 milhas à casa e pensar sobre isto”.

Assim, vestido com seu traje e seus sapatos elegantes, começou a caminhar até a casa, por caminhos que nem estavam asfaltados nem iluminados.

Não podia deixá-lo só. Assim, dirigi por 5 horas e meia atrás dele... vendo meu pai sofrer a agonia de uma mentira estúpida que eu havia dito.

Decidi, desde aquele momento, que nunca mais iria mentir.

Muitas vezes me recordo desse episódio e penso... Se ele me tivesse castigado do modo que castigamos nossos filhos... teria eu aprendido a lição?... Não acredito...

Se tivesse sofrido o castigo, continuaria fazendo o mesmo...

Mas, tal ação de não violência foi tão forte que a tenho impressa na memória como se fosse ontem...

Este é o poder da vida sem violência

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ciumentos e invejosos – Orson Peter Carrara
 Não há dúvidas de que, basicamente, são dois os sofrimentos que experimentamos na vida humana: os sofrimentos morais, oriundos das aflições, remorsos, medos, entre outros quesitos e os materiais, próprios da vida material e muitas vezes independente da nossa vontade.
            Interessante porque no caso das enfermidades, os sofrimentos se confundem nos aspectos moral e espiritual, face às origens e desdobramentos dos mesmos.
            A questão se torna ainda mais abrangente quando percebemos os sofrimentos oriundos do orgulho ferido, da ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme e todas as paixões, em uma palavra, constituem torturas para a alma.
            Sim, torturas. Invejosos e ciumentos torturam-se com a alegria e o progresso do próximo, o que é uma bobagem. Antes, mais inteligente, é alegrar-se com as conquistas, alegrias e vitórias de outras pessoas. Mais inteligente porque estamos melhorando o ambiente, o psiquismo do planeta. Afinal, estamos todos destinados à felicidade e o momento difícil que possamos enfrentar é apenas o indício de felicidade futura. Mas, pela tendência humana egoística, estacionamos na comparação, o que causa sofrimento.
            A inveja e o ciúme são autênticos vermes roedores da tranquilidade. Com eles não há calma, nem repouso. São como verdadeiros fantasmas que não dão trégua e costumam tirar até o sono, causar úlceras. É como se fosse uma febre contínua, que não cessa. Tudo pelo efeito da comparação, da baixa autoestima.
            É que não percebemos. Alimentando vaidades, ambições, ansiedades, invejas e ciúmes, lutamos contra nossa própria paz.
            Do ponto de vista dos sofrimentos materiais, muitas vezes somos os próprios artífices dessas ocorrências. São decorrentes dos descuidos, negligências, atrasos, impaciências e precipitações, entre outras causas. Em alguns casos independem de nossa vontade, como nos casos de acidentes causados por outras pessoas ou mesmo nas calamidades naturais.
            Todavia, pequena reflexão nos fará ver que no caso dos sofrimentos morais nossa responsabilidade é ainda maior. Muitos deles poderiam ser evitados com a calma, a paciência, a fé e mesmo a confiança na vida. E mais ainda se dermos um basta na maledicência, na revolta interior, na inconformação, na reclamação ou na perniciosa tendência de diminuir-se e fazer comparações com bens e posições de outras pessoas.
            Ora, cada pessoa está no estágio e posição que lhe é própria. Ninguém é maior do que ninguém, nem menor. Por isso, não há porque se sentir diminuído ou preterido. Em tudo há sábias razões da vida que visam nos proporcionar aprendizados.
            São reflexões que extraímos da sabedoria das palavras seguintes: “(...) Deus deixa ao homem a escolha do caminho; tanto pior para ele, se toma o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal. (...)”, de transcrição parcial em conhecida fonte de conhecimentos. 

terça-feira, 11 de março de 2014


ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DA ALMA: DO MINERAL AO HOMINAL?
Muito em voga nos meios espíritas é a tão conhecida frase atribuída a Léon Denis: “A alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem.” Contudo, o pensamento em questão sofreu alguns acréscimos não constantes do original, visto que a frase real pronunciada pelo citado autor difere no conteúdo e na extensão: “Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas.” (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, 26ª Edição, FEB, p. 123).

Léon Denis não disse que a alma dorme no mineral, mas traçou uma rota filogenética a ser perseguida por ela antes de atingir a condição de homem, qual seja, a de passar primeiro pelos reinos vegetal e animal. Não fez menção alguma ao fato da alma ter que passar pelo reino mineral. Essa progressão evolutiva a que a alma deve se submeter, segundo Denis, está de acordo ou não com os princípios nos quais a Doutrina Espírita se assenta? Pensamos que sim, senão vejamos.

A ciência biológica preconiza, através de experimentos realizados com a molécula de DNA que a vida na Terra se originou de um ancestral universal e comum a todas as espécies: o progenota. Considerado um ser vivo extremamente simples, amorfo e capaz de se multiplicar de forma impressionante. Estima-se que o seu surgimento tenha ocorrido há cerca de 3,5 bilhões de anos, período em que o nosso planeta já se encontrava em condições propícias de abrigar a vida. A seu respeito se refere Emmanuel nos seguintes termos: “Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.” (A caminho da Luz, FEB, 19ª Edição, página 22). Na resposta à questão de número 44 do Livro dos Espíritos há o seguinte relato: “(...) Estes germens permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.” A este ser vivo, ou seja, o progenota, André Luiz chamou-o de “massa viscosa a espraiar-se no colo da paisagem primitiva.” conforme se vê no livro Evolução em dois Mundos, capítulo 3.  

Foi exatamente a partir de um ser vivo rudimentar, matriz de toda a vida organizada no orbe que a alma ou princípio inteligente teve o seu ponto de partida até culminar na existência de todas as espécies de seres vivos, inclusive a humana. Fica fácil de perceber, portanto, que em nenhum momento da escalada evolutiva que a alma teve que percorrer ela enveredou-se para o reino mineral e aí ter o seu habitat para se transformar no que somos hoje. Não há lógica e muito menos base científica para explicação desta tese. Defensores desta teoria dizem que o princípio inteligente permaneceu dormente no fundo dos oceanos ou mares e justificam, por esta razão que ele esteve presente sim no reino mineral. Há um equívoco dos que assim pensam, visto que a água em estado líquido não é considerada um mineral. Mesmo que cristalizada em gelo, única hipótese em que a água passaria a ser entendida como um mineral, de qualquer modo a alma não seria um bloco glacial, mas um ser vivo individuado e inerte pelo estado de congelamento da água. O máximo que se pode dizer é que ela dormiu sobre a plataforma continental, ou seja, sobre as rochas oceânicas que são minerais por excelência!

Em resumo, o mais coerente e cientificamente aceitável é que o princípio inteligente migrou, após longos anos de estágio como progenota ou geléia cósmica para o reino vegetal e daí numa sucessão infinita para o reino animal e deste, finalmente, para a condição de homem. Esse é o ensino ministrado pelos espíritos a Kardec (Livro dos Espíritos, questões ns. 43 a 49) e também o pensamento externado por Léon Denis na supracitada obra.  

O início da vida na Terra, então, teve origem em um ser vivente considerado o ancestral comum de todas as espécies de que se tem notícia, ou seja, o progenota. Em uma abordagem mais ampla e completa o princípio inteligente percorreu os reinos conhecidos: moneras (bactérias), protistas (algas), fungos, plantas e animais. Ao sair de cada reino em que se manteve vinculado saía ele mais bem equipado e com uma estrutura morfológica mais complexa e especializada para atender-lhe as inúmeras funções a que estaria um dia submetido quando chegasse ao apogeu da evolução infinita. A árvore filogenética (diagrama representativo da ancestralidade e descendência das espécies) mostra com exatidão o longo trânsito realizado pela alma ou princípio inteligente. 

É que a idéia de um ancestral único permite que se compreenda com mais exatidão que a origem dos seres vivos não foi um acontecimento que se restringiu milagrosamente a uma única e isolada etapa da criação, mas a milhares delas que se estenderam ao longo de milhões de anos que foram transformando lenta e gradualmente um ser simples e ignorante em um ser dotado de inteligência e razão: o Homem!

segunda-feira, 10 de março de 2014

SINTONIA E PRESSENTIMENTOS

Ah! Interrogai vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos.
Allan Kardec, questão 495, O Livro dos Espíritos

Lembro-me do ocorrido, em minha infância, num dia em que eu, meu pai e minha mãe saíamos de um clube, depois de uma manhã na piscina. Acomodados na cabine de sua caminhonete, ele estava pronto para ligar a ignição, quando minha mãe falou, chamando-o pelo costumeiro apelido carinhoso:
— Nego! Espere! Dê uma olhada atrás do carro.
— Já olhei, Aparecida. Está tudo em ordem.
— Olhe de novo!
Entre irritado e curioso, obedeceu. Acompanhei-o. Para surpresa de todos nós, havia uma criança, abaixo da linha de visão, brincando bem próxima das rodas do veículo.

       O pressentimento é sempre uma advertência do Espírito protetor?

       É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Está também na intuição da escolha que se fez e é a voz do instinto. O Espírito, antes de encarnar, tem conhecimento das principais fases de sua existência, quer dizer, do gênero de provas nas quais se obriga. Quando estas têm um caráter marcante, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de impressão, que é a voz do instinto, despertando quando o momento se aproxima, como pressentimento.

O Livro dos Espíritos, questão 522

Um grande orador espírita estava sendo conduzido pelas ruas do Rio de Janeiro. A Casa Espírita em que iria falar ficava em um dos subúrbios, próximo de conhecida e perigosa região dominada pelo tráfico. Ao se aproximar do destino, embora o navegador indicasse determinado itinerário, mesmo sem conhecer o Rio, teve a intuição de seguir outro caminho.

Ao chegar ao local da palestra, os anfitriões estavam preocupados. Experientes e conhecedores da região, haviam sabido de sério conflito, exatamente no percurso por onde o orador deveria, normalmente, ter passado. Perigosa troca de tiros entre traficantes e polícia militar poderia ter-lhe trazido algum transtorno. Todos tiveram plena consciência da proteção espiritual que haviam recebido.
              Se o indivíduo alvejado não tem que perecer desse modo, o Espírito bondoso lhe inspirará a ideia de se desviar, ou então poderá ofuscar o que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal, porquanto, uma vez disparada a arma, o projetil segue a linha que tem de percorrer.
O Livro dos Espíritos, questão 528

Foram avisos de Espíritos protetores? Podem ter sido. Quando fazemos por merecer, os guardiães se manifestam, poupando-nos dissabores.

Mas, pode ter-se manifestado também a voz do instinto. Conhecendo, no ato da reencarnação, o gênero de provas que vamos passar, pode ocorrer que Deus nos permita o pressentimento.

Pode ser também aquilo que Kardec chama de precisão do golpe de vista moral, que nada mais é do que a potencialização dos sentidos, dando ao indivíduo melhor tato, maior perspicácia e uma espécie de segurança de seus atos. 

Seja, porém, por influência de protetores, por conhecimento prévio do fato ou por superexcitação dos sentidos, ou por combinação dessas faculdades, dois fatores são indispensáveis, para que a graça se manifeste: mérito e sintonia com os bons espíritos.

Se cultivamos a bondade, a tolerância e a solidariedade, se nos esforçamos para superar erros e más tendência e nos colocamos cotidianamente em contato com o Alto, criamos condições para que muitos males sejam prevenidos e dores evitadas.

Mérito e sintonia com o bem - características do Espírito que leva a sério a sua oportunidade evolutiva.

domingo, 9 de março de 2014

MODO DE FAZER
Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Fonte Viva. Lição nº 02. Página 19.


“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” Paulo - Filipenses, 2:5.


Todos fazem alguma coisa na vida humana, mas raros não voltam à carne para desfazer quanto fizeram.

Ainda mesmo a criatura ociosa, que passou o tempo entre a inutilidade e a preguiça, é constrangida a tornar à luta, a fim de desintegrar a rede de inércia que teceu ao redor de si mesma.

Somente constrói, sem necessidade de reparação ou corrigenda, aquele que se inspira no padrão de Jesus para criar o bem.

Fazer algo em Cristo é fazer sempre o melhor para todos:

- Sem espectativa de remuneração;

- Sem exigências;

- Sem mostrar-se;

- Sem exibir superioridade;

- Sem tributos de reconhecimento;

- Sem perturbações.

Em todos os passos do Divino Mestre, vemo-lo na ação incessante, em favor do indivíduo e da coletividade, sem prender-se.

Da carpintaria de Nazaré à cruz de Jerusalém, passa fazendo o bem, sem outra paga além da alegria de estar executando a Vontade do Pai.

Exalta o vintém da viúva e louva a fortuna de Zaqueu com a mesma serenidade.

Conversa amorosamente com algumas criancinhas e multiplica o pão para milhares de pessoas, sem alterar-se.

Reergue Lázaro do sepulcro e caminha para o cárcere, com a atenção centralizada nos Desígnios Celestes.

Não te esqueças de agir para a felicidade comum, na linha infinita dos teus dias e das tuas horas.

Todavia, para que a ilusão te não imponha o fel do desencanto ou da soledade, ajuda a todos, indistintamente, conservando, acima de tudo, a glória de ser útil, “de modo que haja em nós o mesmo sentimento que vive em Jesus Cristo”.

sábado, 8 de março de 2014

A TENTAÇÃO DO REPOUSO Pelo Espírito Meimei. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Num campo de lavoura, grande quantidade de vermes desejava destruir um velho arado de madeira, muito trabalhador, que lhes perturbava os planos e, em razão disso, certa ocasião se reuniram ao redor dele e começaram a dizer:

- Por que não cuidas de ti? Estás doente e cansado...

- Afinal, todos nós precisamos de algum repouso...

- Liberta-te do jugo terrível do lavrador!

- Pobre máquina! A quantos martírios te submetes!...

O arado escutou... escutou... e acabou acreditando.

Ele, que era tão corajoso, que nem sentia o mais leve incômodo nas mais duras obrigações, começou a queixar-se do frio da chuva, do calor do Sol, da aspereza das pedras e da umidade do chão.

Tanto clamou e chorou, implorando descanso, que o antigo companheiro concedeu-lhe alguns dias de folga, a um canto do milharal.

Quando os vermes o viram parado, aproximaram-se em massa, atacando-o sem compaixão.

Em poucos dias, apodreceram-no, crivando-o de manchas, de feridas e de buracos.

O arado gemia e suspirava pelo socorro do lavrador, sonhando com o regresso às tarefas alegres e iluminadas do campo...

Mas era tarde.

Quando o prestimoso amigo voltou para utilizá-lo, era simplesmente um traste inútil.

A história do arado é um aviso para nós todos.

A tentação do repouso é das mais perigosas, porque, depois da ignorância, a preguiça é a fonte escura de todos os males.

Jamais olvidemos que o trabalho é o dom divino que Deus nos confiou para a defesa de nossa alegria e para a conservação de nossa própria saúde.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Chaves que libertam – Orson Peter Carrara

Alguns estados emocionais e mesmos algumas circunstâncias são verdadeiras prisões, quase algemas que impedem viver em harmonia, com evidentes prejuízos à saúde e à convivência. Afinal as dificuldades existem e é preciso aprender a conviver com elas, tirando das adversidades os aprendizados de libertação, construindo chaves que libertam. 

Relacionamos algumas prisões, extraídas de estados emocionais ou de situações em que qualquer um de nós pode se situar no cotidiano:

Desgosto – O contratempo aborrece. Sem ele, contudo, não adquirimos experiência;

Obstáculo – Ele atrapalha. Sem eles, porém, não efetua a superação das próprias deficiências;

Decepção – Ela incomoda. Mas aprendemos a discernir entre o certo do errado;

Enfermidade – Ninguém a deseja. Mas sem ela não se consolida a preservação da saúde;

Tentação – São muitas e conturbam. Mas sem ela não se consegue medir a própria resistência;

Prejuízo – Quem não os tem? – Ele fere, mas constrói segurança na relação uns com os outros;

Ingratidão – Estraga a vida. Com ela, porém, construímos verdadeiros valores afetivos;

Morte – Traz dor. Com ela, todavia, alcançamos renovação e livramo-nos de tolas ilusões.

Claro que não podemos fazer apologia das dificuldades, mas é preciso reconhecer que são elas, as dificuldades, que nos despertam da sonolência ilusória das formas. Sem elas, eternizaríamos paixões, enganos, desequilíbrios e desacertos, razão pela qual é justo interpretar as adversidades das circunstâncias como autênticas chaves libertadoras, que funcionam em nós a fim de mudarmos para o que devemos ser realmente, sem ilusões ou falsidades, mudando em nós – por dentro e por fora – aquilo que nos compete mudar.

Quem já não experimentou os itens acima enumerados? Considerados indesejáveis, são verdadeiros mestres que nos ensinam a viver com simplicidade, nos encaminham para a humildade, nos ensinam a esperar e nos estimulam à tolerância, conduzindo-nos seguros para o bem e para a gratidão a Deus. Não devemos enxergá-los como inimigos ou presenças indesejáveis, mas acolhê-los como lições que ainda precisamos aprender para sermos melhores.

Tais reflexões não são minhas. São de André Luiz, na psicografia de Chico Xavier. Adaptei o texto para o artigo, extraindo as “chaves” e algumas transcrições parciais do livro Meditações Diárias, edição do IDE-Araras, que é repleto dessas lições valiosas selecionadas de diversas obras editadas por aquela editora. Possivelmente vai se transformar em palestras, com casos, exemplos e dicas incluídas em cada item acima relacionado. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

O HOMEM E A MULHER Richard Simonetti

São iguais perante Deus o homem e a mulher e têmos mesmos direitos? 

Não outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir? 

Questão 817, de O Livro dos Espíritos 

Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender alguma cousa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos, porque para a mulher é vergonhoso falar nas igrejas. 

Estas preconceituosas recomendações, que reduzem a mulher a mera ouvinte nas atividades religiosas, surpreendentemente foram feitas pelo apóstolo Paulo, em sua Primeira Epístola aos Coríntios (capítulo 13, versículos 34 e 35). Não obstante sua inteligência e lucidez, o grande arauto do Cristianismo não conseguiu superar as limitações de seu tempo em relação à mulher, considerada então um ser inferior, mera serva do homem, que podia, dentre outras prerrogativas, dispensá-la como esposa, se não a desejasse mais, obrigá-la a coabitar com concubinas ou mandá-la apedrejar se suspeitasse de sua fidelidade. 

Ela era marginalizada até mesmo em razão de suas funções biológicas. A menstruação a tornava impura. O mesmo ocorria no nascimento de filhos, obrigando-a a severas disciplinas e a indispensáveis rituais de purificação. 

Nem mesmo a gloriosa mensagem do Cristo, combatendo todos os preconceitos, foi suficiente para libertar a mulher de discriminações que perduraram até o início deste século. 

Em 1857, quando foi lançado O Livro dos Espíritos, era inconcebível qualquer pretensão de igualdade entre os sexos. Estavam por ser articulados os movimentos feministas que garantiriam à mulher o direito de votar, de exercer profissão liberal, de gerir seus próprios negócios, de exercitar o livre-arbítrio. Nesta como em muitas outras questões, a Doutrina Espírita situava-se numa vanguarda de idéias renovadoras em favor de uma sociedade mais justa. 

Nem poderia ser diferente, partindo do princípio doutrinário segundo o qual o Espírito não tem sexo. Tanto pode encarnar em corpo masculino ou feminino. Iguais quanto à origem e destinação, inteligentes e perfectíveis, o homem e a mulher devem exercitar direitos idênticos. 

Estão distantes os tempos em que filósofos discutiam se a mulher tem alma e somente em sociedades primitivas pode persistir a concepção de que ela é inferior ao homem. 

Contribuíram para essa desejada igualdade os imperativos da sociedade atual, em que a mulher é convocada a exercer uma atividade profissional, não simplesmente por uma necessidade de autoafirmação, mas, sobretudo, em decorrência de um problema econômico, a fim de auxiliar na formação de renda que atenda às necessidades de subsistência da família. Raros os lares que podem dispensar tal iniciativa. 

Há quem afirme que a liberação feminina, longe de representar um progresso, transformou-se em instrumento de conturbação da sociedade, favorecendo o aumento da infidelidade conjugal, o negligenciamento dos filhos e a dissolução da família. 

Apesar do caráter machista que acompanha críticas dessa natureza, forçoso reconhecer que o processo de liberação da mulher não se faz de forma pacífica, gerando dificuldades no relacionamento familiar e inspirando perturbadoras iniciativas na alma feminina. 

Muitos lares estão em crise porque a mulher não admite ser contestada em sua disposição de fazer o que julga conveniente, em favor de sua autorrealização, não vacilando em partir para a separação se encontra resistência no cônjuge. 

Semelhantes problemas são passageiros, situando-se como tremores de superfície que acompanham modificações nas profundezas, e serão superados na medida em que a Humanidade assimilar plenamente um princípio fundamental, enunciado na questão número 822-a, de O Livro dos Espíritos, quando Kardec ínterroga se uma legislação perfeitamente justa deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher. Respondem os Mentores: Dos direitos, sim; das funções, não. Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. 

Pretender absoluta igualdade envolvendo as funções é contrariar a própria biologia. O homem foi estruturado para o trabalho mais pesado, no esforço da subsistência familiar; a mulher é convocada às responsabilidades do lar, particularmente no cuidado dos filhos. 

O progresso moral iguala ambos quanto aos direitos. 

O progresso material os aproxima no desempenho de funções, na medida em que o trabalho se torna menos pesado na atividade profissional e mais prático no lar, com as conquistas da tecnologia. Ambos podem dividir parte de suas atribuições. 

No entanto, é preciso reconhecer que à mulher está afeta a mais sublime missão, o mais elevado ideal, a tarefa redentora por excelência: a preparação do ser humano para a Vida. Edificaremos um mundo melhor na medida em que a criança for convenientemente orientada. Eesse serviço, por mais o neguem as feministas intransigentes, compete muito mais à mulher. Ela é a preceptora por excelência, a educadora mais eficiente. A maternidade é, talvez, a mais sacrificial e árdua de todas as missões, mas, se exercitada em plenitude é, também, a mais gloriosa de todas as realizações humanas. 

Não pretendemos a reinstituição das Amélias, o retorno da mulher à condição de escrava do lar. Ela tem o direito e, mais que isso, a necessidade de desenvolver atividades na comunidade. Mas é preciso reconhecer que acima dos sucessos no campo social e profissional, está a suprema realização feminina como esposa e mãe, sustentando o lar, que é reconhecidamente a célula básica da civilização. 

Evocando as funções redentoras da alma feminina, Victor Hugo tece significativas comparações entre o homem e a mulher: 

O homem é a mais elevada das criaturas. A mulher o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono; para a mulher um altar. O trono exalta; o altar santifica. 

O homem é o cérebro; a mulher o coração. O cérebro produz a luz; o coração o amor. A luz fecunda. O amor ressuscita. 

O homem é um gênio; a mulher um anjo. O gênio é imensurável; o anjo indefinível. A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher a virtude extrema. A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade. 

O homem tem a supremacia; a mulher a preferência. A supremacia representa a força; a preferência o direito. O homem é forte pela razão; a mulher é invencível pela lágrima. A razão convence, a lágrima comove. 

O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher de todos os martírios. O heroísmo enobrece; o martírio sublima. O homem é o código; a mulher o evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa. O homem é um templo; a mulher um sacrário. Ante o templo, nós nos descobrimos; ante o sacrário, ajoelhamo-nos. 

O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é um oceano; a mulher um lago. O oceano tem a pérola que o embeleza; o lago tem a poesia que o deslumbra, O homem é uma águia que voa; a mulher um rouxinol que canta. Voar é dominar os espaços; cantar é conquistar a alma. O homem tem um fanal: a consciência. A mulher tem uma estrela: a esperança. O fanal guia e a esperança salva. 

Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra, A mulher onde começa o Céu.