terça-feira, 11 de março de 2014


ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DA ALMA: DO MINERAL AO HOMINAL?
Muito em voga nos meios espíritas é a tão conhecida frase atribuída a Léon Denis: “A alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem.” Contudo, o pensamento em questão sofreu alguns acréscimos não constantes do original, visto que a frase real pronunciada pelo citado autor difere no conteúdo e na extensão: “Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas.” (O Problema do Ser, do Destino e da Dor, 26ª Edição, FEB, p. 123).

Léon Denis não disse que a alma dorme no mineral, mas traçou uma rota filogenética a ser perseguida por ela antes de atingir a condição de homem, qual seja, a de passar primeiro pelos reinos vegetal e animal. Não fez menção alguma ao fato da alma ter que passar pelo reino mineral. Essa progressão evolutiva a que a alma deve se submeter, segundo Denis, está de acordo ou não com os princípios nos quais a Doutrina Espírita se assenta? Pensamos que sim, senão vejamos.

A ciência biológica preconiza, através de experimentos realizados com a molécula de DNA que a vida na Terra se originou de um ancestral universal e comum a todas as espécies: o progenota. Considerado um ser vivo extremamente simples, amorfo e capaz de se multiplicar de forma impressionante. Estima-se que o seu surgimento tenha ocorrido há cerca de 3,5 bilhões de anos, período em que o nosso planeta já se encontrava em condições propícias de abrigar a vida. A seu respeito se refere Emmanuel nos seguintes termos: “Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.” (A caminho da Luz, FEB, 19ª Edição, página 22). Na resposta à questão de número 44 do Livro dos Espíritos há o seguinte relato: “(...) Estes germens permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.” A este ser vivo, ou seja, o progenota, André Luiz chamou-o de “massa viscosa a espraiar-se no colo da paisagem primitiva.” conforme se vê no livro Evolução em dois Mundos, capítulo 3.  

Foi exatamente a partir de um ser vivo rudimentar, matriz de toda a vida organizada no orbe que a alma ou princípio inteligente teve o seu ponto de partida até culminar na existência de todas as espécies de seres vivos, inclusive a humana. Fica fácil de perceber, portanto, que em nenhum momento da escalada evolutiva que a alma teve que percorrer ela enveredou-se para o reino mineral e aí ter o seu habitat para se transformar no que somos hoje. Não há lógica e muito menos base científica para explicação desta tese. Defensores desta teoria dizem que o princípio inteligente permaneceu dormente no fundo dos oceanos ou mares e justificam, por esta razão que ele esteve presente sim no reino mineral. Há um equívoco dos que assim pensam, visto que a água em estado líquido não é considerada um mineral. Mesmo que cristalizada em gelo, única hipótese em que a água passaria a ser entendida como um mineral, de qualquer modo a alma não seria um bloco glacial, mas um ser vivo individuado e inerte pelo estado de congelamento da água. O máximo que se pode dizer é que ela dormiu sobre a plataforma continental, ou seja, sobre as rochas oceânicas que são minerais por excelência!

Em resumo, o mais coerente e cientificamente aceitável é que o princípio inteligente migrou, após longos anos de estágio como progenota ou geléia cósmica para o reino vegetal e daí numa sucessão infinita para o reino animal e deste, finalmente, para a condição de homem. Esse é o ensino ministrado pelos espíritos a Kardec (Livro dos Espíritos, questões ns. 43 a 49) e também o pensamento externado por Léon Denis na supracitada obra.  

O início da vida na Terra, então, teve origem em um ser vivente considerado o ancestral comum de todas as espécies de que se tem notícia, ou seja, o progenota. Em uma abordagem mais ampla e completa o princípio inteligente percorreu os reinos conhecidos: moneras (bactérias), protistas (algas), fungos, plantas e animais. Ao sair de cada reino em que se manteve vinculado saía ele mais bem equipado e com uma estrutura morfológica mais complexa e especializada para atender-lhe as inúmeras funções a que estaria um dia submetido quando chegasse ao apogeu da evolução infinita. A árvore filogenética (diagrama representativo da ancestralidade e descendência das espécies) mostra com exatidão o longo trânsito realizado pela alma ou princípio inteligente. 

É que a idéia de um ancestral único permite que se compreenda com mais exatidão que a origem dos seres vivos não foi um acontecimento que se restringiu milagrosamente a uma única e isolada etapa da criação, mas a milhares delas que se estenderam ao longo de milhões de anos que foram transformando lenta e gradualmente um ser simples e ignorante em um ser dotado de inteligência e razão: o Homem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário