terça-feira, 7 de janeiro de 2014

AS MEDIDAS DA FELICIDADE - Richard Simonetti


A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?

Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.

Questão 922 de O Livro dos Espíritos

Vivemos num mundo de relatividade, condiciona­dos pelo ambiente em que nos situamos, o que determi­na que cada indivíduo tenha suas próprias ideias quanto ao mínimo necessário à felicidade.

Um executivo com rendimento mensal de duzen­tos salários mínimos, aplicados inteiramente em favor de seus caprichos e diversões, conforto e bem-estar, sentir-se-á o mais infeliz dos mortais se reduzido à décima parte desse valor. Já o operário de salário-mínimo sentir-se-á no paraíso se receber dez vezes mais ─ uma fortuna para ele.

Portanto, sem recorrer a cifras, podemos considerar que o mínimo necessário à felicidade, sob o ponto de vista material, é desfrutar do essencial à existência, relaciona­do com alimentação, habitação, educação e saúde.

Aqui deparamos com o primeiro entrave à felicida­de na Terra, porquanto populações imensas sofrem per­turbadora carência desses recursos.

Se não nos enquadramos nessa população sofredo­ra não há porque nos sentirmos infelizes, a não ser que cultivemos vaidades e ambições. Há muita gente angus­tiada e até desajustada porque não pode ter o palacete de seus sonhos, “aquele” automóvel, o incrementado apa­relho de som, o sofisticado guarda-roupa ou porque não pode realizar a desejada viagem. Muita gente que viveria bem melhor se cuidasse de assuntos mais importantes.



* * *

Seremos felizes, materialmente, se nos contentar­mos com o necessário para viver, superando as pressões da sociedade de consumo que, com seu incrível agente ─ a propaganda ─ induz-nos a desejar o supérfluo e a consu­mir até mesmo o que é nocivo, como o fumo e as bebidas alcoólicas.

A esse propósito vale lembrar Diógenes, famoso filósofo grego, que demonstrava um absoluto desprezo pelas convenções sociais e pelos bens materiais, em obe­diência plena às leis da Natureza.

Proclamava que para ser feliz o homem deve liber­tar-se do supérfluo, limitando-se ao essencial: andava descalço, vestia uma única túnica que possuía e dormia num tonel, que se tornou famoso em toda a Grécia.

Certa feita viu um garoto tomando água num ria­cho, a usar o côncavo das mãos.

─ Aí está ─ exultou o filósofo ─, esse menino acaba de ensinar-me que ainda tenho objetos desnecessários.

Ato contínuo, dispensou a caneca que usava, pas­sando a utilizar-se das mãos.

Alexandre, o grande, senhor todo poderoso de seu tempo, curioso por conhecer aquele homem singular e desejando testar seu famoso desprendimento, aproxi­mou-se dele em fria manhã de inverno, quando Dióge­nes se aquecia ao sol.

Conversaram durante algum tempo. Então, Ale­xandre se propôs a atender a qualquer pedido seu. Que escolhesse o bem mais precioso, que enunciasse o capri­cho mais sofisticado e seria prontamente atendido.

Diógenes contemplou por alguns momentos o ho­mem mais poderoso da Terra, senhor de vasto império. Depois, esboçando um sorriso, disse-lhe:

─ Quero apenas que não me tires o que não me po­des dar. Estás diante do sol que me aquece. Afasta-te, pois...

Evidentemente não podemos levar Diógenes ao pé da letra, mesmo porque estamos longe do desprendi­mento total. Ele representa um exemplo de como pode­mos simplificar a existência, despindo-nos de condicio­namentos e modismos, superando o artificial e o supér­fluo, para que, efetivamente, sob o ponto de vista mate­rial, não haja impedimentos à nossa felicidade.



* * *

Se nos contentarmos com o necessário teremos condições para tratar de assuntos mais importantes, co­mo a felicidade em plenitude, que é uma edificação inte­rior, uma espécie de conquista moral.

Seremos felizes em nosso universo interior se tiver­mos “a consciência tranquila e a fé no futuro”.

Aqui o assunto começa a ficar complicado...

Será que temos feito o que é absolutamente certo, justo, verdadeiro? Temos respeitado integralmente o se­melhante? Temos contido nossos impulsos inferiores? Temos trabalhado pela paz, onde estamos? Temos con­tribuído para a harmonia no lar?

Tudo isso e muito mais é necessário para que tenha­mos tranquilidade de consciência.

Raros se furtam a dias aflitivos de angústia, em que sentem um imenso vazio em suas almas, mente tortura­da por ideias infelizes.

Uma análise retrospectiva dirá que esse estado de­pressivo se originou de uma má palavra, de um compor­tamento vicioso e irresponsável, de uma atitude agressi­va, de um gesto impensado ─ tudo isso passível de ferir nossa consciência, precipitando-nos no desajuste.

* * *

Consideremos o mais importante:

Se há milhões de pessoas que não dispõem do míni­mo necessário à existência, muitas delas residentes em nos­sa cidade, podemos proclamar que temos a consciência em paz sem estar tentando algo em seu benefício?

Afinal, admitindo que Deus é nosso pai, somos todos irmãos! E o mais elementar dever de fraternidade impõe que o irmão melhor situado ampare o irmão em penúria.

Que diríamos de alguém que edificasse confortável residência num oásis, em pleno deserto, cercando-a de altos muros e se negando sistematicamente a socorrer os viajores cansados e sedentos que passam lá fora?

É exatamente isso que fazem os homens em sua maioria: preocupam-se com o oásis. Esquecem-se de seus irmãos...

Não nos iludamos. O Espiritismo é suficientemen­te claro ao demonstrar que a angústia existencial que afli­ge muita gente, que tem tudo para ser feliz, sustenta-se na criminosa indiferença, na deliberada surdez aos ape­los da própria consciência, que pergunta, insistente: O que está você fazendo em beneficio de seus irmãos?


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