sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Mundo de regeneração - Richard Simonetti

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo III, Kardec fala dos vários mundos pelos quais o Espírito transita rumo à perfeição:

Mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana.

Mundos de expiação e provas, onde domina o mal.

Mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta.

Mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal.

Mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem.

E acentua Kardec sobre o nosso planeta:

A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias. Humilhante, não é mesmo, amigo leitor, estarmos a ocupar uma das posições mais modestas na sociedade dos mundos.

Piores que o nosso, apenas os mundos primitivos.

Considerando que esse estágio inferior é marcado por Espíritos ainda governados pelos instintos, só mesmo a Misericórdia Divina para nos situar em expiação e provas, já que considerável parcela da população ainda não aprendeu a exercitar a razão.

Embora me pareça que estamos mais na transição da primeira para a segunda categoria, fala-se no meio espírita que já estamos a caminho do mundo de regeneração.

Digamos que isso esteja acontecendo, mas talvez seja razoável, até para que não nos sintamos desiludidos, encarar com racionalidade esse assunto.

Se estou em São Paulo e inicio uma caminhada em direção a Salvador, desde o momento em que deixo os limites da maior cidade do Brasil estarei em transição, porém muito longe ainda da capital baiana. A viagem será longa.

Igualmente longa será a transição para mundo de regeneração, algo em torno de vários séculos ou mais, talvez.

Lembro que na virada do milênio a euforia tomou conta do movimento espírita. Estaríamos na iminência da realização da civilização cristianizada do terceiro milênio, marcando um mundo em regeneração.

Chico Xavier, indagado a respeito do assunto, respondeu com a sabedoria que o caracterizava:

– Não podemos esquecer que um milênio tem mil anos.

Dava a entender que muita água rolará no rio do tempo até que se dê a desejada realização.

E para entender por que estamos longe de uma civilização cristianizada, no caminho da regeneração, basta observar o panorama do mundo: corrupção, dissolução dos costumes, violência urbana, guerras e guerrilhas, terrorismo militante, escalada dos vícios e das paixões, a miséria e o infortúnio em que vive considerável parcela da população, sob a regência do egoísmo. Panorama desolador.

E quanto ao exercício do mal? Às vezes imagino que a população terrestre está empenhada num campeonato de maldades, tantas são as atrocidades cometidas nos terrenos individual e coletivo.

Confrontemos tudo isso com o que nos fala Santo Agostinho, um dos mentores da Codificação Espírita, em manifestação registrada no mesmo capítulo:

Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes.

A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se.

Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca.

Em todas as frontes vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.

Dá para perceber que estamos um bocadinho longe de concluir a caminhada para o mundo de regeneração.

O mais importante a ser destacado: se sob o ponto de vista físico moramos num planeta de provas e expiações, destinado a desbastar nossas imperfeições mais grosseiras, nada impede que intimamente vivamos em mundo melhor.

Jesus dizia que o Reino de Deus está dentro de nós.

Não temos condições para ter o Céu na intimidade da consciência, estágio dos habitantes dos mundos ditosos e dos celestes, em face de nossas imperfeições, mas nada nos impede de estarmos em regeneração desde agora, com o cultivo dos valores do Bem e da Verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário