sexta-feira, 25 de outubro de 2013

BICO DE LUZ  - por Richard Simonetti

Um homem transitava por estrada deserta, altas horas. Noite escura, sem luar, estrelas apagadas. Seguia apreensivo. Por ali ocorriam, não raro, assaltos. Percebeu que alguém o acompanhava.
− Quem vem lá? − perguntou assustado. Não obteve resposta. 

Apressou-se, no que foi imitado pelo perseguidor. Correu... O desconhecido também. 

Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um bico de luz. Olhou para trás e, como por encanto, o medo se desvaneceu. Seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos.

A história se assemelha ao que ocorre com a morte. A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera na espiritualidade.

As religiões, que poderiam preparar os fiéis para a vida além-túmulo, conscientizando-os da sobrevivência e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido, porquanto se limitam a incursões pelo terreno da fantasia.

O Espiritismo é o bico de luz que ilumina os caminhos misteriosos do retorno, afugentando temores irracionais e constrangimentos perturbadores. 

A Doutrina Espírita nos permite encarar a morte com serenidade, preparando-nos para a grande transição. Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos morreremos um dia!

A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação; um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas; uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores; uma escola para os que compreendem que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência humana simples jornada recreativa, mas não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo corpo carnal.

Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.

O primeiro passo nesse sentido é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... Há condicionamentos milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente se recusam a conceber o falecimento de um familiar ou o seu próprio. Transferem o assunto para um futuro remoto! Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação.

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? − pergunta o apóstolo Paulo (I Cor 15, 55), a demonstrar que a fé supera os temores e angústias da grande transição.

O Espiritismo nos oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo, inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é arroubo de emoção. Uma fé lógica, racional, consciente. Uma fé inabalável de quem conhece e sabe o que o espera, esforçando-se no campo do Bem e da Verdade para que o espere o melhor.



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