SE A ALMA NÃO É PEQUENA - Richard Simonetti
Nem sempre as pessoas fazem o que querem; nem sempre querem o que fazem.
A criança gostaria de ficar brincando. Os pais impõem-lhe a escola, em seu próprio benefício. O doente não tem nenhuma disposição para internar-se no hospital. Inadiável, porém, a cirurgia para debelar o mal que se agrava. O operário preferiria o clube. Impossível. A família depende de sua atividade profissional.
Algo semelhante ocorre na experiência reencarnatória, indispensável recurso evolutivo no estágio em que nos encontramos. Retornaremos à carne vezes sem conta, até que nos tornemos aspirantes à angelitude.
Espíritos imaturos estimariam permanecer numa boa, evitando as limitações da matéria, as complicações do esquecimento, os problemas de reconciliação com desafetos, o suor do rosto, as dores do mundo, as angústias existenciais... Mesmo os mais esclarecidos encaram com relutância o retorno, embora conscientes de que, como diria Camões, reencarnar é preciso.
Não raro o Espírito sente-se tão inseguro ou tão contrariado, reluta tanto que chega a rejeitar a experiência que se inicia. Dispara ele próprio problemas fetais que podem resultar no aborto.
Esta fuga acontece particularmente no início da gestação, quando tênues são os laços que o prendem ao corpo.
A gestante nem chegará a perceber, julgando-se às voltas com mero atraso no ciclo menstrual. Há casos em que se consuma a reencarnação, mas o Espírito recusa-se à nova existência, originando um comportamento autista, como se buscasse esconder-se dentro de si mesmo.
Fácil concluir que reencarnar não é simples ligar de uma tomada. Há vários fatores que precisam ser harmonizados. Imperioso, sobretudo, trabalhar os pais para que se disponham ao encargo, evitando grave problema: a rejeição.
A jovem senhora vai buscar o resultado do teste de gravidez.
No papel que lhe é entregue destaca-se o desenho de uma cegonha carregando sorridente bebê, simpática maneira escolhida pelo laboratório para transmitir-lhe a notícia de que o resultado é positivo. Será novamente mãe.
− Meu Deus! Outro filho! Vai complicar!
A reação do marido é pior: − Culpa sua! Bem avisei que não deveria interromper o uso das pílulas!
− E continuar engordando como suíno confinado!... Por que não fez você a vasectomia, como recomendou o médico?!
Acirra-se a discussão. O ambiente esquenta. Agridem-se verbalmente os cônjuges, trocando acusações e asperezas...
Pobre reencarnante!... Como se sentirá? Um enjeitado, sem dúvida. Será difícil evitar a sedimentação da ideia de que o consideram um intruso, alguém que veio para atrapalhar, sem pedir licença.
E quanto a nós, qual teria sido a nossa motivação para o retorno à carne? Não é difícil definir. Basta analisar como encaramos a existência. Gastamos tempo a reclamar do cotidiano? Damos guarida a mágoas e irritações? Resvalamos para estados depressivos e angustiantes? Desentendemo-nos frequentemente com pessoas de nossa convivência? Sucedem-se, ininterruptos, desajustes físicos e psíquicos que nos incomodam?
Se a resposta é afirmativa, estamos numa compulsória. Reencarnamos meio na marra, como diz o povo.
Mas podemos mudar isso, considerando que é irrelevante como viemos. Importante é saber o que nos compete fazer na experiência humana. Neste particular o Espiritismo tem muito a nos oferecer, ensinando-nos, sobretudo, que nossa vida será exatamente o que dela fizermos. Por opção diária, não seja a Terra para nós uma jaula, uma prisão, um hospital, um reformatório...
Vejamo-la sempre como abençoada escola/oficina, onde nos compete valorizar todas as experiências em favor de nossa edificação. Ensina Fernando Pessoa, o poeta filósofo: Tudo vale a pena, se a alma não é pequena. Dores e lutas, trabalhos e esforços a que somos chamados na Terra, desde o simples varrer de uma casa às funções mais complexas, tudo vale a pena, se desenvolvermos em nossa alma a grandeza necessária para enxergar a oportunidade de fazer sempre o melhor.
Esta fuga acontece particularmente no início da gestação, quando tênues são os laços que o prendem ao corpo.
A gestante nem chegará a perceber, julgando-se às voltas com mero atraso no ciclo menstrual. Há casos em que se consuma a reencarnação, mas o Espírito recusa-se à nova existência, originando um comportamento autista, como se buscasse esconder-se dentro de si mesmo.
Fácil concluir que reencarnar não é simples ligar de uma tomada. Há vários fatores que precisam ser harmonizados. Imperioso, sobretudo, trabalhar os pais para que se disponham ao encargo, evitando grave problema: a rejeição.
A jovem senhora vai buscar o resultado do teste de gravidez.
No papel que lhe é entregue destaca-se o desenho de uma cegonha carregando sorridente bebê, simpática maneira escolhida pelo laboratório para transmitir-lhe a notícia de que o resultado é positivo. Será novamente mãe.
− Meu Deus! Outro filho! Vai complicar!
A reação do marido é pior: − Culpa sua! Bem avisei que não deveria interromper o uso das pílulas!
− E continuar engordando como suíno confinado!... Por que não fez você a vasectomia, como recomendou o médico?!
Acirra-se a discussão. O ambiente esquenta. Agridem-se verbalmente os cônjuges, trocando acusações e asperezas...
Pobre reencarnante!... Como se sentirá? Um enjeitado, sem dúvida. Será difícil evitar a sedimentação da ideia de que o consideram um intruso, alguém que veio para atrapalhar, sem pedir licença.
E quanto a nós, qual teria sido a nossa motivação para o retorno à carne? Não é difícil definir. Basta analisar como encaramos a existência. Gastamos tempo a reclamar do cotidiano? Damos guarida a mágoas e irritações? Resvalamos para estados depressivos e angustiantes? Desentendemo-nos frequentemente com pessoas de nossa convivência? Sucedem-se, ininterruptos, desajustes físicos e psíquicos que nos incomodam?
Se a resposta é afirmativa, estamos numa compulsória. Reencarnamos meio na marra, como diz o povo.
Mas podemos mudar isso, considerando que é irrelevante como viemos. Importante é saber o que nos compete fazer na experiência humana. Neste particular o Espiritismo tem muito a nos oferecer, ensinando-nos, sobretudo, que nossa vida será exatamente o que dela fizermos. Por opção diária, não seja a Terra para nós uma jaula, uma prisão, um hospital, um reformatório...
Vejamo-la sempre como abençoada escola/oficina, onde nos compete valorizar todas as experiências em favor de nossa edificação. Ensina Fernando Pessoa, o poeta filósofo: Tudo vale a pena, se a alma não é pequena. Dores e lutas, trabalhos e esforços a que somos chamados na Terra, desde o simples varrer de uma casa às funções mais complexas, tudo vale a pena, se desenvolvermos em nossa alma a grandeza necessária para enxergar a oportunidade de fazer sempre o melhor.
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