quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O PROBLEMA DO DIVÓRCIO - Richard Simonetti

Ouvistes o que foi dito aos antigos: – Quem aban­donar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 
Eu, porém, vos digo que quem repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a torna adúlte­ra; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério. (Mateus, 5:31 e 32.) 

Nos primórdios do Judaísmo os vínculos matrimoniais eram bas­tante frágeis. Se o homem chegasse à conclusão de que sua esposa não lhe convinha, até pelo fato de cometer uma falha no preparo da comida, bastava dar-lhe carta de divórcio, uma espécie de demis­são ou rescisão do contrato matrimonial. Isto bem de acordo com a mentalidade da época, situada a mulher em regime de escravidão. 

Por incrível que pareça, a carta de divórcio, instituída por Moisés, representava um progresso, pois regulamentava a separa­ção e dava à repudiada o direito de constituir nova família. 

No capítulo 19, do Evangelho de Mateus, Jesus diz, cate­górico, que semelhante instituição deveu-se à dureza do coração humano. 

Ao referir-se ao assunto, no Sermão da Montanha, o Mes­tre explica que o casamento deve ser indissolúvel, admitindo a separação apenas num caso — a infidelidade —, porque esta des­trói as bases fundamentais da união matrimonial: a confiança, a integridade, o respeito, o amor, a dignidade. 

A Doutrina Espírita é bastante clara quanto à seriedade do vínculo matrimonial, demonstrando que ele é, geralmente, fruto de planejamento espiritual, e que, ao se ligarem, os cônjuges assumem compromissos muito sérios, não tão somente em relação ao pró­prio ajuste, mas, particularmente, no concernente aos filhos. 

Todo casamento dissolvido representa fracasso dos cônju­ges. A separação não faz parte do destino de ambos — é simples­mente uma alternativa, quando a união entra em crise insuperável. O divórcio, nesta circunstância, defendido por Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 22, limita-se tão só a re­conhecer uma separação já existente. É o mal menor, oferecendo ao casal divorciado a oportunidade de recompor suas vidas e de legalizar sua nova situação perante a sociedade. 

Imperioso reconhecer – e nisso reside a seriedade do pro­blema – que a separação representa uma transferência de com­promissos para o futuro, em regime de débito agravado, sempre que os filhos ou os próprios cônjuges venham a comprometer-se em desajustes e desequilíbrios diretamente relacionados com a desintegração do lar. 

Inútil, entretanto, considerar-se os prejuízos advindos da separação, diante daqueles que chegaram a extremos tais de de­sentendimento que tornam impossível a vida em comum. Nesta circunstância, nem toda a sabedoria do mundo os convencerá a permanecerem juntos, superando suas desavenças. 

Por isso, mais importante do que tentar ajustar peças de­masiadamente comprometidas pela ferrugem da discórdia, é cui­dar de recursos que garantam a estabilidade matrimonial, a saúde do casamento. 

Para tanto, a primeira providência é superar o velho enga­no cometido pelo homem e pela mulher, que se julgam casados apenas porque assinaram o livro do registro civil, submetendo-se às demais disposições legais. 

Socialmente falando o casamento é isso, mas, sob o ponto de vista moral e espiritual, trata-se de um compromisso a ser re­novado todos os dias. Deve representar o empenho diário de dois seres, de estrutura biológica e psicológica totalmente diferentes, no sentido de se ajustarem. Cérebro e coração, razão e sentimen­to, força e sensibilidade, o homem e a mulher, realmente, são duas partes que se completam — mas somente com a força do amor. Não o amor paixão, que se esvai após a embriaguez dos primeiros tempos, mas o amor convivência, que se consolida com o perpas­sar dos anos, desde que sustentado pelos valores da compreensão, do respeito mútuo, da tolerância e da boa vontade. 

Emmanuel tem uma imagem muito feliz a respeito do ca­samento, quando diz que a euforia dos noivos, no grande dia, é semelhante à do estudante que recebe o diploma do curso supe­rior. É o coroamento de seus esforços, de seus anseios... 

Mas depois vem o trabalho de cada dia, a dedicação, o es­forço, o sacrifício, para que seu diploma represente para ele a base de uma vida melhor, econômica e socialmente. 

Assim acontece com o casamento. Muita alegria no início, muito empenho depois, porque nenhuma casa será um lar autên­tico, oásis de bênçãos e ternura, se não for primeiro uma oficina de boa vontade e de esforço em favor da paz. 

Para tanto, lembrando ainda Jesus, é preciso que combata­mos a dureza de nossos corações, pois, se bem analisarmos, ve­rificaremos que todo problema de relacionamento humano, em qualquer lugar, principalmente no lar, nasce justamente porque nosso coração se fecha com muita facilidade ante as manifesta­ções do egoísmo, que nos leva a exigir demais dos outros e tão pouco de nós mesmos.



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