terça-feira, 12 de novembro de 2013

FALAR DOS MORTOS - Richard Simonetti
Chilon (século VI a.C.), magistrado e filósofo espartano, um dos sete sábios da Grécia antiga, ensinava regras singelas de conduta que estariam presentes em qualquer manual de autoajuda, gênero literário que faz sucesso nestes dias de carências, dúvidas e temores.

Nas suas máximas, coletadas fragmentariamente em Vida de Ilustres Filósofos, de Diógenes Laércio (século III), recomenda Chilon:

Controla a língua.

Cultiva recato no casamento.

Respeita os mais velhos.

Vigia a si mesmo.

Como se vê, nada diferente do que conhecemos. Há um senso comum, conjugando a sabedoria dos séculos. Exprime-se em máximas que operariam radicais mudanças na sociedade humana, se colocadas em prática.

Uma máxima de Chilon, utilíssima, fundamental, é pouco observada. Costuma-se fazer exatamente o contrário.

Recomenda o filósofo: Não fale mal dos mortos.

Inicialmente, até falamos bem. Num velório, à falta de ter o que dizer aos familiares, promovemos o finado ao exprimir nossas condolências:

– Coitado! Tão bom… Morreu!

Em breve, no próprio ambiente em que é velado o defunto, mudamos a postura. Evocamos suas fragilidades, defeitos e episódios menos edificantes que lhe marcaram a existência. Lamentável desrespeito diante do companheiro de pés juntos, vestindo o pijama de madeira.

Geralmente, os Espíritos desencarnados permanecem ligados ao corpo durante o velório. Carecem de orações, não de críticas.

Em face da turvação mental em que se situam, assimilam as vibrações geradas por observações descaridosas dos presentes. Sentem-se perturbados e aflitos, sem perceber o que está acontecendo.

***

O defunto, não raro, reage à maledicência. O maldizente poderá dar-se mal. Ocorre principalmente quando o desavisado tece críticas contra alguém de parcas virtudes, que esticou as canelas há algum tempo. Adaptado à vida espiritual, mas não convertido ao Bem, poderá causar-lhe dissabores.

No livro Missionários da Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz reporta-se a um episódio dessa natureza.

O autor e um companheiro foram à casa de certo homem, Vieira, que faltara a uma reunião na espiritualidade. Desejavam saber o que o impedira.

O sono é breve viagem ao mundo dos mortos. Enquanto o corpo dorme, refazendo energias, transitamos pelas plagas do Além. São ensaios para a transferência definitiva, quando a senhora da foice nos convocar.

Os dois tarefeiros o encontraram em situação difícil. Afastado do corpo em repouso no leito, Vieira quedava-se apavorado ante a presença de um Espírito que o ameaçava.

O indesejável visitante explicou que durante o jantar, conversando com familiares, o dono da casa tecera considerações desairosas à sua pessoa. Ele captara as vibrações negativas da crítica e viera tirar satisfações.

Vieira tremia, descontrolado, incapaz de uma reação. Induzido por André Luiz e seu companheiro, despertou assustado, banhado em suor.

Guardava a impressão de que estivera com o dito-cujo. Mas, sem autocrítica, não percebeu que ele viera cobrar-lhe a leviandade. Definiu a experiência como um pesadelo, que atribuiu a problema digestivo ou algo semelhante, sem perceber que nas fofocas contra o “morto” estava a origem de seu problema.

Chilon tem razão.

A piedade recomenda que oremos pelos mortos.

Manda a prudência:

Não falemos mal deles!


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