sábado, 11 de abril de 2015

DÁDIVAS DOS CÉUS

Olhais para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

Mateus, 6:26

Padre Gonzalez fora designado para um pequeno povoado da Ilha do Marajó, ao norte do Estado do Pará.

Embora os tempos fossem outros, sabia das dificuldades que encontraria. E realmente encontrou muita fome e pobreza. Os ribeirinhos conviviam com áreas de mata fechada, campos, várzeas, e alagados, banhados pelo Rio Tocantins e pelo Oceano Atlântico.

Viviam de pequenos roçados e da pesca, cuja produtividade variava de acordo com o movimento das marés.

Gonzalez logo percebeu que, se quisesse ajudar aquela gente, não poderia esperar somente a ajuda dos céus.

Começou a estudar de que maneira poderia melhorar o padrão de vida do povoado. As distâncias dificultavam qualquer ajuda do continente. 

A pesca e os plantios não eram suficientes. Precisavam de nova fonte de renda, que lhes desse vida digna e saudável.

Como falar, no entanto, de fé em Deus a um povo de barriga vazia e com muitas doenças? Nem por isso deixava de orar. Pedia a inspiração de Nossa Senhora das Mercês, buscando uma luz.

Costumava meditar caminhando pela praia, com as águas batendo em seus pés mansamente. Foi quando algo chamou sua atenção. Castanhas espalhadas, trazidas pela água. Examinou-as cuidadosamente e levou algumas para obter mais informações.

Sementes de andiroba! Eram utilizadas pelos ribeirinhos em feridas expostas, evitando a contaminação por insetos nocivos.

Alguma coisa, todavia, dizia a Gonzalez que ali estava algo muito mais valioso. Embalou algumas castanhas e remeteu-as pelo correio da região - um barco que passava quinzenalmente - a um dos conventos do Maranhão.

Dois meses depois veio a resposta. E que resposta! Tratava-se do fruto da Carapa guianensis, cujos galhos, folhas e frutos, com o sobe desce das marés, são trazidos das florestas para a boca do Rio Paracauari, numa viagem lenta e constante em direção ao mar. Depois de flutuar por várias semanas, as castanhas acabam chegando às praias.

O mais importante, porém, estava no final da carta recebida do convento. O óleo de andiroba podia ainda ser utilizado pela indústria farmacêutica e pelas fábricas de cosméticos. 

Um tesouro em suas mãos! Uma descoberta que poderia mudar as vidas daquele povoado.

Reuniu os líderes da cidade e convenceu-os a irem em comissão a São Luiz do Maranhão. Lá descobriram uma das indústrias produtoras de óleos, que se comprometia a comprar as castanhas em quantidade e de maneira regular. 

Hoje já existe uma cooperativa para vender a produção em conjunto, evitando os atravessadores da ilha. Em breve estarão produzindo o próprio óleo, também com mercado garantido.

Cada família passou a ter um ganho extra, que elevou o padrão de vida do povoado. Continuam pescando e plantando, pois a safra do tesouro que vem da floresta e é trazido pelos rios e entregue de bandeja pelo mar ocorre durante cinco meses do ano.

Hoje o Padre Gonzalez não se encontra mais encarnado neste mundo. É lembrado, porém, com respeito e carinho pelos moradores daquele obscuro povoado, por ter mudado para sempre suas vidas

Segundo Allan Kardec, Deus, na maioria das vezes, nos sugere a ideia que nos fará sair da dificuldade pelo nosso próprio esforço.

Padre Gonzalez tinha fé! Com ela ouviu os mensageiros de Deus, mobilizou pessoas e salvou vidas. A partir daí, a realização do milagre foi apenas uma questão de tempo, dedicação, trabalho e persistência. 

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