terça-feira, 12 de agosto de 2014


Solução inesperada - por Orson Peter Carrara 

O casal se retaliava já há algum tempo. Acusações de um contra o outro chegavam até Fabiano, que os ouvia, enquanto, pelo pensamento, pedia ajuda aos céus para tranquilizar aquele casal que tanto se feria.
Eles, porém, pareciam indiferentes ao que lhes ia à volta.
– Não há outra solução para este inferno! Quero separar-me, porque já não suporto esta vida! – dizia o marido.
– E os filhos? – indagou Fabiano.
A indagação foi como água no incêndio. O casal silenciou constrangido.
De olhos baixos, a mulher confidenciou:
– Jamais tivemos filhos!
– Aí está a maldição para nosso casamento – resmungou o marido a lamentar-se.
Fabiano, compreendendo o drama, os envolveu no maior carinho.
– Meus caros, o lar que não conta com um filho, por certo é ainda mais abençoado por Deus. Sabendo o Pai Celeste a dor que advém da ausência de um filho, Ele ampara mais a esses que sofrerão pela não maternidade.
Os dois se prenderam em atenção.
– Mas... um filho nos seria a mensagem de paz e causa para o nosso entendimento! – confessou a mulher.
– O entendimento mútuo deve ser fruto do amor, de um para o outro. O filho, fruto desse amor, comparecerá no lar em busca desse alimento – esclareceu Fabiano.
O homem, enrubescendo, falou:
– Não podemos gerar filhos. Isso é definitivo. Deus nos excluiu do “crescei e multiplicai-vos” e, em razão disso, nosso lar jamais será abençoado.
– Quem sabe – responde Fabiano – se os céus não lhes reservam uma tarefa maior do que aquela de ter os seus próprios filhos?
– Que tarefa? Que tola consolação é essa? – indagam os dois ao mesmo tempo.
Passos, contudo, interrompem o diálogo.
– Fabiano! Diz um outro frei, chegando ao grupo. Vem ter comigo! É urgente!
Fabiano levanta-se, pede licença e se afasta.
O casal, em silêncio, vê os dois se afastarem, confabulando em voz sussurrada, seguindo ambos na direção à porta de entrada.
Poucos minutos depois, Fabiano regressa e diz ao casal:
– Creio que os céus ouviram a minha súplica e, neste momento, abençoa os vossos corações.
O casal se entreolha sem entender. 
– A pessoa que me chamou está a trazer-vos a solução de vossas angústias.
O outro frei, já se aproximando, traz nos braços um punhado de roupas e, aproximando-se da mulher, colocar-lhe no colo.
– É a justa resposta dos céus! - diz Fabiano e, num movimento, põe a descoberto, no colo da mulher, por debaixo das roupas, uma criança recém-nascida que haviam abandonado na porta do convento.
– É... É... nosso filho! – rompe em lágrimas o casal, ambos abraçados à terna criança que, em os olhando, se pôs a chorar.

Nota do autor: adaptado do texto Solução Divina, em transcrição parcial, constante do capítulo 6, constante do livro Fabiano de Cristo – o Peregrino da Caridade, de Roque Jacintho, da Editora Luz no Lar. Fabiano de Cristo atuou no Convento de Santo Antonio, no Rio de Janeiro, e seus marcantes exemplos de amor ao próximo fizeram-no conhecido como o Peregrino da Caridade, conforme indica o próprio título da obra. 

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