sexta-feira, 27 de junho de 2014

 
ENGANAR OU SER ENGANADO? - por Sidney Francese Fernandes

Levantar-se-ão vários falsos profetas, que seduzirão a muitas pessoas.
Mateus 24-11


Relações entre pessoas – cônjuges, amigos, familiares, profissionais – devem ser revestidas de recíprocos conhecimento, respeito e afetividade. Da mesma forma, relações com Espíritos precisam ser conduzidas com cuidado e honestidade, sob pena de enganarmos, enganarmo-nos ou sermos enganados.

Pessoas já se atribuíram muito poder e prestígio em função dos conhecimentos supostamente sobre-humanos que possuíam ou de uma pretensa missão divina de que seriam portadores. São esses os chamados falsos profetas, referidos por Jesus, conforme anotações de alguns evangelistas.

No meio espírita, há preocupação quase obsessiva pelo estudo. Além da reforma íntima, o apelo à necessidade de ler e se instruir é uma constante em qualquer casa ou grupamento. Justifica-se!

O conhecimento é o maior antídoto contra enganações ou falsas interpretações. O leitor acha que estou exagerando? Vou dar um singelo exemplo.

Com o recente desencarne de um parente querido, Nilva procurou a dirigente do centro que frequentava. Desejava uma vibração especial para o desencarnado.

— Não devemos! – observou peremptoriamente Tiana, líder do grupo.

— Por quê? — estranhou Nilva.

— Se pensarmos no desencarnado, ele ficará entranhado em sua casa e não lhe dará mais sossego.

Felizmente Cássio, diligente estudioso da Doutrina Espírita, que acompanhava a conversa, humildemente interferiu.

— Irmã Nilva, você está enganada. A oração é sempre bem vinda em qualquer circunstância. Sobretudo no desencarne, é um verdadeiro farol de luz para os menos esclarecidos. E quanto a um eventual apego do falecido, não se preocupe. Os mentores se encarregarão de encaminhá-lo.

Crendices, superstições e inverdades são comuns em grupos que não estudam e dão ouvidos a falsos profetas. Com o estudo, passamos a ter um novo patamar de raciocínio e observação dos fatos, analisando as coisas como realmente são e não da maneira que ignorantes ou mal intencionados pretendem, prevenindo-nos contra enganos ou manipulações.

O Espiritismo vem nos alertar para outra categoria de falsos Cristos e de falsos profetas: a dos desencarnados. Além dos médiuns que passam a mercantilizar seus dons e, com isso, provocam o afastamento dos bons Espíritos, há os Espíritos inferiores que gostam de enganar, têm vontade própria e agem como melhor lhes apraz.


Ocorreu recentemente um triste caso com médium curador. Estava ajudando muita gente, enquanto revestido de boas intenções e sincera vontade de auxiliar pessoas sofredoras. Ocorre que sua fama correu e, com isso, centenas de pessoas passaram a procurá-lo. 

A pretexto de arrecadar fundos para a entidade mantenedora dos trabalhos, passou a cobrar pelas consultas. Com isso houve o afastamento dos altos mentores que dirigiam as curas. A partir daí o falso profeta emergiu e com ele vieram as mistificações de Espíritos enganadores, hipócritas e orgulhosos.

Infelizmente ocorreu uma situação muito grave com uma das pacientes, em decorrência de tratamento indevido, o que valeu um processo penal contra o médium, por exercício ilegal da medicina.

Em situações menos graves ocorrem, no mínimo, situações bizarras e absurdas.

Antídotos: estudo, oração e vigilância!

A princípio, eram ligeiras intuições. Ainda na infância, brincava com os amigos e geralmente ganhava nas adivinhações.


Com o passar do tempo, os palpites que lhe acorriam à mente passaram a ser úteis. Na escola, então, passou a ser o campeão dos testes.

Os amigos e professores lhe atribuíam o sucesso à brilhante memória e à formidável capacidade de observar e guardar detalhes.

Assim cresceu Alexandre, brincando e abusando de seu dom de fazer escolhas certas.


Na maturidade, interessando-se em saber a origem de suas intuições, acabou deparando-se com a Doutrina Espírita. E mais, descobriu que tinha um guia protetor que o acompanhava desde o seu nascimento.

Depois de muitas tentativas, conseguiu autorização para participar de uma reunião mediúnica séria. Teve a graça de conhecer Nélio. Finalmente, podia conversar com o responsável pelas adivinhações de toda sua vida.

— Sim, Alexandre, sou seu protetor, mas, nem sempre posso estar ao seu lado.

— Por quê? - indagou Alexandre.

—Porque devo respeitar seu livre arbítrio. E porque às vezes você faz mau uso das minhas sugestões. Sou obrigado a me afastar e deixá-lo por conta própria. Quando volta a me ouvir, torno a me aproximar.

— Então sua proteção não é em tempo integral? – perguntou irônica e jocosamente Alexandre.

 — Não sou sua babá, nem seu secretário, Alexandre. Minha missão é patrocinar a sua evolução. Estou aqui para aconselhá-lo a utilizar melhor seus dons. A vulgarização do auxílio divino provoca o afastamento dos bons Espíritos. Podemos auxiliá-lo, mas não podemos evoluir em seu lugar. O mérito deve ser seu. Seja mais prudente e invista em seu crescimento.

Após aquela marcante reunião, até que Alexandre se comportou. Porém, bastava alguma dificuldade para evocar, com o pensamento, o seu protetor. Agora sabia até o seu nome.

Com o tempo, passou até a ver o seu vulto, que o acompanhava. Mas, engraçado, às vezes tinha a impressão de que eram dois protetores. — Será que Nélio havia “contratado” algum auxiliar?

Nada disso! Simplesmente, com sua instabilidade de comportamento, Alexandre atraía um Espírito terra a terra, que se predispunha a substituir Nélio, quando ele se afastava pelas defecções de seu protegido.

Mas, um dia a casa cai, como diria minha avó, com sua antiga advertência. Alexandre, sempre confiando em sua inteligência e em sua sorte, resolveu aprender a pilotar avião.

E foi muito bem mesmo. Rapaz inteligente, de boa memória e atenção, em pouco tempo já tinha o brevê em suas mãos.

Nélio continuava com seu trabalho de protetor, tentando minimizar os ímpetos aventureiros de seu tutelado.

Certa ocasião, em que Alexandre resolveu fazer um voo solo, avizinhava-se mau tempo. Nélio o advertiu:

 — Cuidado! Não seja imprudente! Não abuse de sua sorte! 

De nada adiantaram as recomendações do protetor, que se afastou, deixando-o por conta própria. Imediatamente o substituto espiritual assumiu o controle. E Alexandre prosseguiu com sua aventura.

A princípio tudo corria bem. Nas dúvidas de iniciante, sentia que o seu copiloto estava por ali e prosseguiu com a viagem. Nuvens ameaçadoras, no entanto, começaram a fechar o tempo. Avião pequeno, piloto inexperiente, logo bateu o medo.

Indagava mentalmente ao seu protetor e ele respondia com segurança: — Vá por aqui, vá por lá.

Dali a pouco, plena escuridão, instrumentos sem resposta e o combustível diminuindo...

— O que faço agora? - perguntou desesperadamente Alexandre ao seu novo mentor. 

Para seu desespero, ouviu a seguinte resposta:

— Sei lá, você tem paraquedas?

Foi a conta do desespero. Alexandre sentiu que estava nas mãos de um leviano Espírito, que se fazia de protetor. Lembrou-se das valiosas recomendações de Nélio, no contato que tivera através do aparelho mediúnico.

— A vulgarização do auxílio divino provoca o afastamento dos bons Espíritos.

Agora tinha perfeita noção de todo o ocorrido. Seu descaso com o bom senso, o mérito e a ligação com o Alto haviam-no conduzido a uma terrível situação. Sua vida estava em perigo e ele estava só.

Pouco combustível, rádio inoperante, muito chuva e nenhuma visibilidade...

Foi quando Alexandre sentiu acontecer o milagre. Viu claramente a reaproximação de Nélio. Seu semblante não inspirava qualquer crítica, somente preocupação.

Diante da possibilidade de um iminente acidente, Nélio inspirou seu pupilo a voar em círculos e a dar rajadas em baixas altitudes. Alexandre nem mesmo sabia por quê, mas sentia que Nélio sabia.

Ao perder o rumo e os aparelhos, estava sobrevoando pequena cidade que servira de campo de pouso aos aliados, na segunda guerra mundial.

Muito raramente, ali ainda aterrissavam alguns aviões para visitar o histórico local. Desciam, tiravam fotos e partiam. O velho campo de pouso mantinha-se em condições de uso graças a Alfredo. 

O velho pracinha, que havia acompanhado de perto o sacrifício dos pilotos que haviam combatido o nazismo, cuidava do aeroporto com um misto de saudosismo e respeito aos heróis de guerra. Nada ganhava por isso.

Alfredo, naquela noite, estava sem sono. Já deitado, começou a ouvir o barulho característico de um avião em apuros. Rajadas em baixas altitudes significavam aeronave sem rádio e sem combustível.

Voou com sua motocicleta ao velho aeroporto. Tinha certeza de que, do seu esforço, dependia a salvação de alguma vida.

Sabia que o seu empenho na manutenção da pista, dos fios, dos disjuntores e das velhas lâmpadas de halogêneo um dia serviriam para alguma emergência noturna.

Em menos de dez minutos, a pista do aeródromo brilhava como nos velhos tempos da guerra mundial.

Alexandre não acreditava no que via por trás do para-brisa embaçado. Na escuridão de um voo cego aparecia, distante, um corredor luminoso e salvador.

Era a vida de Alexandre que ressurgia, graças ao empenho de seu Espírito protetor. E a partir daí, como ficou a vida de Alexandre?

Entendeu que não podia mais brincar com a sorte e abusar da proteção divina. Assumindo nova postura perante a vida, despediu o desavisado protetor e passou a levar a sério as recomendações de Nélio. Sabia que estava vivo graças à sua decisiva intervenção. O milagre de sua salvação ocorrera graças à sensibilidade de um velho pracinha, que ouvira os pedidos de socorro provocados por Nélio. A partir daquele momento, sabia que havia recebido sua última chance de recuperação. Não iria desperdiçá-la.

Falsos profetas não aparecem por acaso. São convidados por nossa ignorância, nossa imprudência e a nossa falta de confiança na providência divina. Espíritos, superiores ou inferiores, devem ser respeitados e, por isso, nosso contato com eles deve ser acompanhado de cuidado e honestidade. Afinal de contas, daqui a pouco nós é que estaremos do outro lado da vida...

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